À entrada para o Conselho Nacional, que decorre em Barcelos (Braga), Rui Rio foi questionado se estaria disponível para aceitar uma proposta subscrita pela maioria das distritais do PSD para que, num prazo máximo de dez dias, se fixe um calendário eleitoral interno.
“Estatutariamente é a Comissão Política Nacional (CPN) que tem de fazer isso, não pode ser de outra maneira, podem entrar na mesa 1001 propostas, mas não têm esse poder, esse poder está do lado da CPN e do presidente do partido. E o presidente do partido quer ouvir, logo tomará a decisão que mais se adequa ao que vai ouvir”, afirmou.
Questionado se hoje, no final da reunião, poderá ter esse calendário já definido, Rio respondeu negativamente, remetendo essa definição para uma reunião da direção alargada.
O Conselho Nacional do PSD está reunido hoje, em Barcelos (Braga), para fazer a análise dos resultados das legislativas e debater o modo e o tempo da saída de Rui Rio da liderança do partido.
Na ordem de trabalhos da reunião, marcada para as 16:00, está a aprovação das contas do partido e, num segundo ponto, a “análise dos resultados das eleições legislativas e da situação política e decisão sobre processo eleitoral para os órgãos nacionais do partido”.
Rui Rio defendeu que a reunião de hoje “é um Conselho Nacional normal após eleições legislativas”.
“Eu coloquei um tema adicional, a possibilidade de termos congresso e eleições antecipadas porque, face ao resultado eleitoral, não via utilidade de ficar até ao fim do mandato”, afirmou.
“Quero ouvir o que o Conselho Nacional acha dos resultados e, relativamente ao Congresso, se deve ser daqui a mais ou menos tempo”, afirmou.
O presidente do PSD recusou que fosse mais útil marcar já hoje esse calendário, considerando que tal deve ser feito “com calma, tranquilidade, serenidade e maturidade”.
“Saímos de um congresso há muito pouco tempo, este Conselho Nacional nunca reuniu, não podemos ter congresso mês sim mês não, o partido tem de ter sentido de responsabilidade”, afirmou.
Instado novamente a comentar o pedido de um novo Conselho Nacional em dez dias para marcar o calendário por parte das distritais, Rio respondeu com ironia.
“Também podem pedir que haja Natal ou Páscoa, é evidente que todos os anos há, é evidente que vai haver diretas e congresso”, disse.
Questionado se estaria disponível para ficar para lá do prazo que o próprio definiu - no máximo até início de julho -, o presidente do PSD diz que teriam de lhe “explicar a utilidade de alguma coisa em concreto” para tal cenário.
No início de fevereiro, alguns dias depois da derrota eleitoral do PSD, Rui Rio confirmou que irá deixar a presidência do partido - cargo que ocupa desde janeiro de 2018 - e remeteu para o Conselho Nacional a tarefa de definir o ‘timing’, embora manifestando disponibilidade para se manter até ao início de julho.
Na reunião de hoje, deverá ser apresentada uma proposta de deliberação assinada por 17 das 19 distritais do PSD (ficam de fora Aveiro e Évora) que pretende que, num prazo máximo de dez dias, se realize uma nova reunião deste órgão e sejam marcadas eleições diretas e Congresso.
Na proposta a que a Lusa teve acesso, as distritais propõem que o Conselho Nacional delibere, em primeiro lugar, que “o horizonte temporal publicamente definido pelo presidente do PSD, Dr. Rui Rio, para a eleição e tomada de posse de uma nova direção do PSD, seja escrupulosamente observado, pelo que é imprescindível que o processo esteja concluído até ao final do 1.º semestre de 2022”.
Num segundo ponto, as distritais querem levar a votos que “o Conselho Nacional reúna no prazo máximo de 10 dias com vista a apreciar e deliberar a proposta de Regulamento e Cronograma da Eleição Direta e do 40.º Congresso Nacional do PSD a ser apresentada pela Comissão Política Nacional (CPN)”, isto se não for possível fazê-lo já na reunião deste sábado.
Rio apela a marcação de diretas “com serenidade” até ao verão e avisa que “se exagerarem, acabou”
O presidente do PSD, Rui Rio, apelou hoje a que a marcação das eleições diretas e do Congresso seja feita com “serenidade” até ao Verão, avisando que, “se exagerarem” na antecipação de calendários “acabou”.
Na sua intervenção inicial perante os conselheiros, posteriormente disponibilizada à comunicação social, Rui Rio manifestou-se “100% disponível” para uma solução em que deixasse a liderança até ao verão, como já tinha admitido após a derrota eleitoral.
“Estarei disponível um bocadinho até para uma coisa que não seja exatamente assim, mas não se exagere muito. Se exagerarem muito acabou, porque não quero sequer ficar ligado ao futuro do que será o partido se isso centrar numa situação dessas. Quem tem bom senso percebe o que estou a dizer”, avisou.
Rui Rio afirmou que está a ouvir o Conselho Nacional, defendendo que este órgão “não pode deliberar nada” hoje, apesar de existirem propostas em cima da mesa para que o calendário eleitoral interno seja marcado no máximo em dez dias.
“Outra coisa é todos terem direito à sua opinião, a partir daí a Comissão Política Nacional aqui virá, num próximo Conselho Nacional, apresentar uma data para congresso e diretas”, assegurou.
Rui Rio fez questão de dizer que “sair já”, na sua opinião, não significa sair “para a semana”, mas até ao verão, no final dos trabalhos parlamentares.
“Se não for nesse espaço de tempo até ao verão e tiver de ser mais rápido, estarão aqui a debater qualquer coisa como 30 ou 40 dias mais todos os tumultos e degradação da nossa imagem na praça pública”, alertou.
O presidente do PSD apontou, do ponto de vista teórico, duas outras balizas temporais: a primeira seria fazer as eleições diretas apenas no final de mandato, daqui a dois anos, considerando que teria “a vantagem de poupar o próximo líder a um desgaste muito difícil de aguentar” e evitar três congressos”.
“Mas isso, para mim, nem é objetivo concreto que esteja disponível para fazer, poderei estar disponível se me indicarem objetivos concretos reais para ser útil ao partido e ao país, para este efeito não, porque não tem utilidade”, disse.
Pelas mesmas razões, o presidente do PSD afastou igualmente a possibilidade de realizar diretas apenas no final deste ano ou início do próximo.
Rio disse até estranhar “a ânsia” de quem quer ocupar o seu lugar, dizendo que exige “um espírito de sacrifício enorme”, e salientou que até detém um “recorde nacional”.
“Não há ninguém que tenha resistido quatro anos na liderança da oposição”, afirmou, recebendo aplausos quando disse só estar no cargo por “espírito de missão”.
Sobre as legislativas, em que o PSD se ficou pelos 29% e com menos um deputado do que em 2019, Rio assumiu que o resultado “foi negativo”, mas apontou quatro razões principais.
O voto útil “fortíssimo à esquerda”, o crescimento “muito forte da população dependente de subsídios” e do Salário Mínimo Nacional, e as “promessas fáceis” que considera terem sido feitas pelo PS.
Por fim, disse não conseguir sequer entender “a deturpação que o PS fez do programa eleitoral” do PSD, ao longo da campanha eleitoral.
Já sobre o “deslocamento do eleitorado para a direita” - da extrema-esquerda para o PS e do PSD para a direita - atribuiu-as a causas sobretudo estruturais.
“Há um desgaste do regime que nasceu há quase 50 anos, tudo na vida tem um princípio e um fim e o que leva ao fim é o desgaste do tempo”, defendeu, apontando a necessidade “imperiosa” de fazer reformas.
“A solução não é obviamente o PSD deixar de ser social-democrata e colar-se à direita. A solução é termos uma capacidade crescente e reforçada para conquistar pessoas para a nossa proposta”, defendeu.
Comentários