"Houve uma assinalável desorganização no combate ao incêndio, quando eu pensava e todos pensavam e o ministro da Administração Interna tem dito que está tudo melhor desde os incêndios de 2017. As coisas poderão estar melhor, mas estão muito longe de estarem como deveriam estar", disse Rui Rio, que falava aos jornalistas após uma reunião com os autarcas dos três concelhos afetados (todos eleitos pelo PSD), que decorreu no Centro Geodésico, em Vila de Rei.
Segundo Rui Rio, até poderá ter havido meios de combate ao incêndio suficientes, mas a operação foi "desorganizada e descoordenada".
"Os autarcas, como pessoas que tendo estado no terreno, puderam ver a forma como as coisas evoluíram e a descoordenação foi completa", declarou, referindo que, por exemplo, "não se chega a saber que quantidade de refeições é que é necessária num determinado sítio porque não se sabe sequer quantos homens estão nesse sítio".
Rui Rio salientou que o ministro da Administração Interna, Eduarda Cabrita, tem dito que “está tudo bem, coordenado e seguro".
"Se estivesse tudo bem, coordenado e seguro, não acontecia aquilo que aconteceu", frisou.
Segundo o líder do PSD, além da descoordenação há também questões de fundo que precisam de ser resolvidas, como é o caso do despovoamento do interior e a gestão da floresta em Portugal, considerando que "ninguém pode pedir ao Governo que resolva, no espaço de 30 dias, 60 dias, um ano ou dois anos" essas questões.
Questionado sobre a possibilidade de alterações da moldura penal para o crime de fogo posto, Rui Rio mostrou-se recetivo a um endurecimento da pena, apesar de admitir que não sabe qual a percentagem dos arguidos que são condenados a penas suspensas.
"Temos de pensar bem qual a moldura penal que deve ser aplicada e a forma como os próprios tribunais aplicam a moldura penal", considerou.
Vários incêndios deflagraram no distrito de Castelo Branco ao início da tarde do dia 20. Dois com origem na Sertã e um em Vila de Rei assumiram maiores dimensões, tendo este último alastrado, ainda nesse dia, ao concelho de Mação, no distrito de Santarém. Neste caso, o fogo apenas foi dado como dominado no dia 23.
Estima-se que tenham ardido cerca de 9.500 hectares de floresta nestes três concelhos.
Em 2017, a psicóloga da Polícia Judiciária, Cristina Soeiro, que há muito estuda os incendiários, referiu, em declarações à agência Lusa, que, de 600 pessoas estudadas, 55% tinham défice cognitivo ou problemas de saúde mental, 40 a 44% praticaram o crime como instrumento de "vingança ou retaliação" em questões como divisões de terras e um terceiro grupo, que não passa dos 6%, constituído por pessoas que retiram algum benefício de um incêndio, nomeadamente para limpar terrenos, não tendo sido identificada a presença de um perfil de um crime organizado.
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