Rui Rio, que já era o líder do PSD com mais tempo de oposição, derrotou hoje Paulo Rangel e mantém-se no cargo que ocupa desde janeiro de 2018, num mandato que, previsivelmente, se estenderá por dois anos.
Cavaco Silva foi o líder que mais tempo esteve à frente do PSD, durante quase dez anos, seguido de Pedro Passos Coelho, que completou perto de oito como presidente dos sociais-democratas, e com o terceiro lugar a caber, até agora, a Durão Barroso, que esteve 4,5 anos como presidente social-democrata.
Eleito pela primeira vez em janeiro de 2018 com 54% dos votos contra Santana Lopes e reeleito em 2020 com 53% numa inédita segunda volta contra Luís Montenegro, Rio, que já se assumiu como um “corredor de fundo” na política, conseguiu aos 64 anos uma terceira vitória interna, desta vez contra o eurodeputado Paulo Rangel.
Depois de no seu primeiro mandato o PSD apenas ter vencido uma das eleições que disputou (as regionais da Madeira), em outubro de 2020 Rio viu o partido regressar ao poder nos Açores, sem vencer eleições, graças a um acordo parlamentar com o CDS-PP e PPM e ao apoio dos novos partidos Iniciativa Liberal e Chega, o que lhe mereceu críticas internas.
Nas presidenciais de janeiro de 2021, foi reeleito Marcelo Rebelo de Sousa, que recebeu desta vez o apoio expresso do PSD e não apenas uma recomendação de voto, como tinha acontecido cinco anos antes.
Nas autárquicas, que Rio elegeu desde 2018 como o desafio mais importante da sua liderança, o PSD ficou em segundo lugar, mas conseguiu inverter os piores resultados de sempre de 2013 e 2017, encurtar quase para metade a distância em número de municípios para o PS e conquistar câmaras como Lisboa, Coimbra, Funchal e Portalegre, resultados considerados “excelentes” pelo próprio.
Se o primeiro mandato foi muito centrado na defesa de consensos alargados (e na assinatura de dois acordos com o Governo em matéria de fundos europeus e descentralização), o segundo quase coincidiu com o início da pandemia, com Rio a assumir uma postura de colaboração com o executivo, que passou até pela aprovação do Orçamento Suplementar destinado a cobrir as despesas extras do Estado.
Nos últimos tempos, o presidente do PSD já admitiu, por várias vezes, que “o PS não quer mudar nada” e avançou com a apresentação de projetos de revisão da Constituição e da lei eleitoral - que, devido à interrupção da legislatura, não chegaram a ser entregues no parlamento - e tem manifestado discordâncias profundas em dossiês como a TAP ou defendido um maior peso na distribuição dos fundos europeus para as empresas.
Ao longo deste mandato, com muito menos tensão interna que o primeiro, Rio foi ouvindo o Presidente da República pedir uma oposição forte e, mais recentemente, o antigo chefe de Estado Cavaco Silva classificar a oposição como “débil e sem rumo”.
Internamente, as críticas foram sendo pontuais e chegaram, por exemplo, por ter proposto e aprovado com o PS a redução dos debates quinzenais com o primeiro-ministro no parlamento - substituídos por debates mensais com o Governo - e por ter dado liberdade de voto numa iniciativa de referendo sobre a eutanásia (ele próprio é a favor da despenalização).
Nascido no Porto a 6 de agosto de 1957, Rio ganhou visibilidade como presidente da Câmara Municipal do Porto durante três mandatos, entre 2001 e 2013, mas o percurso político do militante do PSD já tinha começado bastante antes, na Juventude Social Democrata.
Rio foi vice-presidente da Comissão Política Nacional da JSD entre 1982 e 1984 e entre 1996 e 1997 foi secretário-geral do PSD, quando era presidente do partido o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, acabando por deixar o cargo em 1997 na sequência de divergências relacionadas com o processo de refiliação.
O ex-autarca do Porto foi vice-presidente do partido com três líderes: de 2002 a 2005, com Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, e mais tarde, entre 2008 e 2010, com Manuela Ferreira Leite.
Estudou no Colégio Alemão e licenciou-se em Economia pela Universidade do Porto – tendo sido eleito pela primeira vez presidente da Associação de Estudantes da faculdade em 1981 –, e manteve um percurso profissional como economista, tendo chegado à Assembleia da República em 1991, onde foi deputado durante dez anos.
Depois das últimas legislativas, regressou ao parlamento como deputado em outubro de 2019 - apesar de ter confessado que a função não o entusiasmava - e até assumiu a liderança da bancada durante alguns meses.
Adepto do Boavista e praticante de vários desportos na juventude, destacou-se na sua primeira passagem enquanto deputado por se opor ao chamado ‘totonegócio’, que previa que parte das receitas do totobola fossem entregues aos clubes de futebol, e por ser então um rosto quase isolado na sua bancada a favor da interrupção voluntária da gravidez.
Casado e com uma filha, Rio sempre teve uma vida pessoal recatada, marcada na infância pela morte do irmão. Agnóstico, tem como ‘hobbies’ as corridas de automóveis, a astronomia e a bateria, instrumento que tocava quando integrou uma banda na sua juventude.
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