O conflito entre a Rússia e a Ucrânia não mostra sinais de terminar. Enquanto isso, as notícias sucedem-se: há ataques de parte a parte, dedos apontados e culpas descartadas.

Hoje, o presidente russo, Vladimir Putin, garantiu que o seu país "não iniciou nenhum tipo de guerra" e afirmou que a "operação militar especial" iniciada em fevereiro de 2022 na Ucrânia é de natureza defensiva.

"Muitas vezes nos dizem que a Rússia iniciou algum tipo de guerra. Não. A Rússia, com a ajuda de uma operação militar especial, está a tentar parar esta guerra que estão a travar contra nós", afirmou.

Putin argumentou ainda que a Rússia está a ser vítima de uma guerra para permitir que o seu povo não fique excluído das “fronteiras históricas dos estados russos”.

"Isso é uma injustiça histórica (...)", assegurou Putin, que nos últimos meses defendeu a invasão da Ucrânia como forma de recuperar parte de um território e população que, na sua perspetiva pertencem historicamente à Rússia.

O presidente russo reconheceu também que a Rússia atravessa tempos "difíceis", embora tenha incentivado os cidadãos a aproveitar o contexto para fortalecer o "sentimento nacional" e "as bases da espiritualidade" do país, para além de promover a prosperidade económica e educacional.

De ataque em ataque

No que diz respeito a ataques, a Rússia afirmou esta terça-feira que "esmagou" com a sua força aérea e artilharia o grupo que atacou a região fronteiriça de Belgorod a partir da Ucrânia no dia anterior, a incursão mais grave no seu território desde o início do conflito.

Segundo as autoridades russas, combatentes ucranianos atacaram várias cidades na região, com tiros de artilharia e de drones, que obrigaram os moradores a fugir. Com isto, o Kremlin expressou "profunda preocupação" e pediu o aumento dos "esforços" para evitar as incursões, que se somam a uma série de ataques em território russo.

Contudo, Kiev nega estar a preparar este tipo de ataques. "Não estamos a travar nenhuma guerra em territórios estrangeiros", disse a vice-ministra da Defesa ucraniana, Ganna Maliar, referindo-se a uma "crise interna russa".

Vários russos entrevistados pela AFP em Moscovo manifestaram medo de novos ataques. "Toda a nação está nervosa com a ideia de que [os ataques] possam chegar mais longe, na capital inclusive", declarou Alexander, um engenheiro de 42 anos.

Por sua vez, os ucranianos entrevistados em Kiev estavam mais interessados nos combates no seu território. "Os nossos militares devem recuperar o que os russos tomaram, as cidades da Ucrânia. Não precisamos da Rússia", disse Olga, de 26 anos, que trabalha numa creche.

Enquanto se semeiam dúvidas, a operação foi reivindicada num canal do Telegram pela "Legião Liberdade para a Rússia", um grupo de russos que luta do lado ucraniano e que noutras ocasiões já afirmou ter realizado incursões na mesma região. Outro grupo semelhante teria participado na operação, o "Corpo de Voluntários Russos".

Para quando o fim da guerra?

Com o decorrer do conflito, a grande questão é quanto tudo termina — ou quem ganha. Como as contas não são assim tão lineares, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, declarou hoje que a Ucrânia não conseguirá vencer a guerra contra a Rússia, pedindo negociações com Moscovo para por um fim à ofensiva.

“É óbvio que a solução militar não funciona”, afirmou Órban num fórum económico no Qatar, acreditando que a invasão russa em 2022 foi fruto de uma “falha da diplomacia”.

“Se olharmos para a realidade, os números, o contexto e o facto de a NATO não estar pronta para enviar tropas, é óbvio que não há vitória para os pobres ucranianos no campo de batalha. Esta é a minha posição”, afirmou o político húngaro.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, confirmou hoje que a Hungria se recusou a libertar uma nova parcela da ajuda militar para a Ucrânia, mas previu que este apoio será desbloqueado. Para Viktor Orbán, um novo acordo europeu de segurança deve ser negociado com Moscovo após um cessar-fogo.

“Como Estado, a Ucrânia é, obviamente, muito importante, mas a longo prazo, do ponto de vista estratégico, o que está em jogo é a segurança da Europa no futuro”, avaliou o líder húngaro.

“É claro que sem os Estados Unidos não há arquitetura de segurança para a Europa. E esta guerra só poderá ser travada (…) se os russos chegarem a um acordo” com Washington, acrescentou ainda.

*Com Agências