Aumento da taxa de inflação e taxas de juro, com procura crescente de casas, para morar ou investir, seja investimento estrangeiro ou nacional e com escassez de oferta. É este o contexto que trouxe para a luz da ribalta o direito constitucional de acesso à habitação, logo após a apresentação do Programa Mais Habitação, a 16 de fevereiro.

E foi debaixo desta nuvem temática que o Salão Imobiliário de Portugal (SIL), maior feira imobiliária do país, iniciativa da Fundação AIP em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, se despediu, este domingo, da FIL, no Parque das Nações, em Lisboa.

A efervescência do assunto levaria a supor que o metro quadrado ocupado pela componente imobiliária fosse proporcional à dimensão que o tema tem ganho entre os portugueses, ou não fosse esta feira um espaço de oportunidades para comprar, investir, arrendar ou vender habitação, escritórios ou espaços comerciais. No entanto, como confessou ao SAPO 24 uma das empresas presentes, faltam alguns dos grandes players do mercado, recordando com saudade a ocupação dos outros pavilhões da FIL em edições passadas, já que nesta o  espaço foi partilhado com a Tecktónica, feira da construção.

Considerações à parte, para lá da entrada de portas envidraçadas dos pavilhões da FIL, os dois eventos ocupam 35 mil m2 de exposição e reúnem mais de “400 expositores”, conforme resumiu Sandra Bértolo Fragoso ao Jornal Construir.  Números acima de 2022.

SIL, 2023
créditos: DR

Dos rooftops e torres envidraçadas à singularidade de um condomínio com elevador privado

Apelos ao luxo, vistas paradisíacas de praias e rooftops decorados com piscinas e áreas verdes e muito vidro predominam entre as fotografias coloridas, em contraste com as maquetes um tanto ou quanto a preto e branco bem à mostra de um público que não vai só à procura de uma apelativa brochura com a descrição das tipologias e materiais usados.

Vindos do Porto, a RAR Imobiliária, um dos passageiros frequentes no SIL, apresenta, em destaque, dois empreendimentos virados para um segmento alto. O Novo Parque, em Matosinhos e, em especial o Boavista5205, este último situado entre o mar da Foz do Douro e o parque da cidade. São seis apartamentos de tipologias T4 e T4+1 que se desenvolvem em dois pisos e cujo acesso direto ao conforto do lar é feito pelo elevador privativo ligado à garagem.

A Krest, empresa belga cuja entrada em Portugal data de 2014 com a aquisição de um terreno estatal onde hoje está plantada a K-Tower, 14 andares envidraçados de escritórios, com o traço da Saraiva + Associados e MetroUrbe, junto à estação do Oriente, no Parque das Nações, Lisboa, bem ao lado do hotel Moxy Lisboa Oriente, que faz igualmente parte da carteira desta empresa familiar. “Está ocupada só por dois inquilinos”, detalhou Claude Kandiyoti, CEO da Krest Real Estate Investments.

Uma das colaboradoras reconhece ter falado pouco português durante os dias da feira – “passei a 5.ª e 6.ª feira a falar para ingleses, franceses e ucranianos”. Claude Kandiyoti acrescenta que o mercado belga está crescer em território nacional, destacando o interesse despertado na nova aposta no Algarve, o Alvôr, 24 apartamentos exclusivos no Alvor, Portimão, e que fez questão de mostrar na feira do imobiliário para todos verem.

O luxo no meio do atlântico e outras propostas às portas de Lisboa

O luxo viaja igualmente para a Madeira. A meio do Atlântico, sobressai o Savoy Residence Insular. São 47 apartamentos, divididos em lofts, duplex e triplex, entre o T0 e o T4, bem no coração do Funchal, numa recuperação da antiga Moagem da Companhia Insular de Moinhos. Sobressai também as 147 habitações do Savoy Residence Monumentalis, na “nova” Funchal, na Estrada Monumental. É também nessa estrada de dinamismo imobiliário que o Grupo Sociocorreia apresenta o “Dubai” Madeira, 9 edifícios pensados por 9 arquitetos.

De regresso ao Continente, ao rodar os 360 graus do glamouroso stand da Habitat Invest, percecionamos a rica caderneta desta sociedade privada de capitais portugueses. Elevam o Plátanos à categoria de destaque. 13 moradias em condomínio de luxo às portas da Quinta da Marinha, Cascais. Para outras bolsas, o Almar, em Almada, com assinatura do arquiteto Miguel Saraiva (Saraiva + Associados). “514 apartamentos. Estamos a lançar o primeiro dos lotes e estamos a falar de 3,500 euros m2”, adiantou Sílvia Lopes, responsável de marketing. “Não é o segmento premium. Queremos dar resposta ao problema da habitação e estamos a fazer um esforço enorme para responder aos pedidos que nos cheguem”, adiantou a responsável, detalhando-se sobre a “primeira aposta da empresa na margem sul”.   

SIL, 2023
créditos: DR

O Estado mostra o que tem. As rendas acessíveis de Almada às ilhas no Porto

Porque o SIL e o imobiliário não vive, nem sobrevive, só de e com o luxo, as rendas acessíveis mostram-se com alguma pompa e circunstância.

O Estado, dono e senhor de um vasto e incalculado património, assume o papel de ator principal. Apresenta-se a mostrar obra feita e por fazer, ao bom estilo do político português.

Na 26.ª edição do SIL, o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) entra em cena e mostra o seu dinamismo na área da habitação ao colocar em letras gordas 5200 habitações de renda acessível e a custo controlado a disponibilizar até 2026, prazo do PRR, pelo parque público de habitação, entre construção e reabilitação. O financiamento cifra-se nos 607 milhões de euros.

Entre projetos iniciados em execução de obra, o IHRU levou dois à maior feira de imobiliário em Portugal. Ambos a edificar em Almada, Setúbal, a Alfazina e o Alcaniça, e ambos parte de um plano integrado que abarca mais 13 projetos.

O braço do Estado é grande e vasto, mas olhando para a atuação, o Alto Alentejo e Beira Baixa não estão mapeados pelo IHRU. Nem os Açores, região que beneficia de autonomia própria.

Por fim, os municípios, motores de desenvolvimento económico e social e pontos de captação de investimento estrangeiro e nacional, Seixal, Santarém e Vila Nova de Gaia não querem perder o comboio e procuram mostrar as suas valências neste campo, combatendo com as duas grandes metrópoles portuguesas.

Se Lisboa mostra os bairros e a expansão da cidade, o Porto, sempre bairrista e cioso da sua génese, mostra as “Ilhas”, a alma da Invicta, patente no espaço pintado em tons de azul e branco pelo Porto Vivo SRU, Sociedade de Reabilitação Urbana do Porto.