“Os CTT, neste momento, valem 600 milhões de euros, se olharmos para a cotação das ações e foram vendidos por 900 milhões […]. Se o Estado já pagou [por prejuízos do] BES, BPP, BPN, etc., cerca de sete mil milhões de euros para nacionalizar a dívida [destes bancos], porque é que não pode gastar 600 milhões para nacionalizar os CTT para que a população, a empresa e os trabalhadores possam ser beneficiados?”, questionou o presidente do SNTCT, Vítor Narciso.

O responsável falava aos jornalistas em frente à Assembleia da República, em Lisboa, local onde o SNTCT entregou uma petição, com 8.600 assinaturas, contra o encerramento de 22 estações dos CTT, no âmbito de um plano de reestruturação da empresa.

A entrega foi feita ao vice-presidente da Assembleia da República, Jorge Lacão, por uma comitiva do SNTCT após uma concentração de cerca de 40 trabalhadores dos CTT – entre os quais dirigentes sindicais – em frente ao parlamento.

Apesar de silencioso, o protesto contou com alguns frases de luta como “o público é de todos, privado é só de alguns”.

“Aquilo que nós queremos é que os CTT voltem a estar na esfera do Estado, que é a única maneira de garantir um serviço público de qualidade e a estabilidade dos CTT”, sintetizou Vítor Narciso, do SNTCT, aos jornalistas.

Em dezembro passado, os CTT divulgaram um Plano de Transformação Operacional, que prevê a redução de cerca de 800 trabalhadores na área das operações em três anos, um corte de 25% na remuneração fixa do presidente do Conselho de Administração e do presidente executivo, além da otimização da implantação de rede de lojas, através da conversão de lojas em postos de correio ou do fecho de lojas com pouca procura.

Já este ano, os Correios confirmaram o fecho de 22 lojas no âmbito deste plano de reestruturação, situação que, segundo a Comissão de Trabalhadores dos Correios de Portugal, vai afetar 53 postos de trabalho.

Vítor Narciso admitiu que o número de estações a encerrar seja superior, já que a administração dos CTT “disse que seriam para encerrar aquelas que não fossem necessárias”, como afirmou aos jornalistas.

“Isso deve ser mais 100, à volta disso”, apontou o sindicalista.

Questionado sobre a substituição de algumas destas estações por postos geridos por juntas de freguesia, o responsável rejeitou a solução, argumentando que “o encerramento de uma estação de correio e a passagem para uma junta equivale a que a junta tenha de ter um funcionário para fazer o serviço”.

“Quem está a pagar? É a junta. E quem devia estar a prestar o serviço? Os CTT. Portanto, as juntas de freguesia estão a financiar os CTT. Não é solução”, reforçou.

“Os CTT são uma empresa única, que tem distribuição, tratamento e banco de correio com serviços financeiros e só faz sentido ser assim. Agora, privilegiar a banca e os serviços financeiros em detrimento do serviço público universal de correio, que é o que está a acontecer neste momento, isso é que não pode acontecer”, sublinhou Vítor Narciso, adiantando que “a responsabilidade disso é do Estado e do Governo”.

Deputados do BE, PS e PCP juntaram-se à concentração de hoje, entre os quais a dirigente bloquista Catarina Martins, e asseguraram, em conversa com os trabalhadores em protesto, intervenção no parlamento para salvaguarda do serviço público dos CTT.