“Eu vim falar, porque o António Arnaut me ligou também na semana passada, estava eu no hospital. Ele às vezes ligava-me e ligou-me pela última vez na sexta-feira e disse-me o que sempre me dizia: ‘ó Álvaro, tens de defender o SNS, tens de falar e tens de não calar a voz’”, disse Álvaro Beleza no 22.º Congresso do PS, que decorre até domingo na Batalha, distrito de Leiria.
O dirigente, médico, continuou: “E eu quero dizer ao António Arnaut, esteja ele onde estiver, que todos os militantes socialistas, todos, sem exceção, temos de merecer ser todos António Arnaut e nunca nos calaremos a defender o SNS”.
Após os aplausos a estas palavras, Álvaro Beleza, que foi membro do Secretariado Nacional liderado por António José Seguro, entre 2011 e 2014, e candidato à liderança do PS em 1992 e 1994, deixou um aviso sobre o SNS.
“O SNS é para defender os doentes, os mais fracos, e nós não estamos às ordens das corporações e dos interesses. Nós só estamos às ordens do povo português”, frisou.
Antes, no início do discurso, referiu-se à evocação da História do partido, na sexta-feira, no arranque dos trabalhos deste congresso.
“De facto, nós temos um grande partido, e um partido que tem no seu código genético pais fundadores como Mário Soares, Salgado Zenha, António Guterres, António Arnaut, Manuel Alegre e tantos outros é um grande partido”, referiu.
Aos presentes, disse que há um dever a cumprir.
“Nós só temos um dever, e é um dever muito difícil, é honrar a memória, honrar os nossos pais fundadores e aquilo que eles nos deixaram de valores, da liberdade, da luta pela igualdade, mas também, e sobretudo, a coragem. A coragem de defender aqueles que mais precisam, de não deixar ninguém para trás. E o caráter. Nós somos um partido de caráter”, disse, realçando que um partido de Salgado Zenha e de António Arnaut “não recebe lições de ética republicana de ninguém e um partido de Mário Soares não recebe lições de tolerância”.
Ainda sobre o PS, Álvaro Beleza referiu que nele cabem todos, assinalando que o lema da Eurovisão aplica-se ao partido: “Nós somos 'all aboard', nós somos inclusivos”.
“Nós incluímos, nós toleramos. E dentro do PS assistimos nestes dias e neste congresso a um debate ideológico, a um debate de ideias como nenhum partido – nenhum – tem em Portugal. Tivemos dirigentes, desde o Francisco Assis ao Pedro Nuno [Santos], a defender teses diferentes, mas todos estamos no socialismo democrático, todos queremos um futuro melhor para Portugal”, acrescentou.
António Arnaut, fundador do Serviço Nacional de Saúde e cofundador do PS, morreu na segunda-feira, em Coimbra, aos 82 anos.
Comentários