Os líderes do Reino Unido e dos Estados Unidos da América reúnem-se hoje em Washington para decidir se permitem que Kiev dispare mísseis de longo alcance fornecidos pelo Ocidente contra a Rússia, uma opção que aumentou as tensões com Moscovo.
A visita do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, ao presidente americano, Joe Biden, ocorre no momento em que Kiev pressiona pela autorização e a Rússia alerta que dar sinal verde à Ucrânia significaria que a NATO estaria "em guerra" com Moscovo.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que o aviso do presidente Vladimir Putin é claro: "Não temos dúvidas de que esta declaração chegou aos seus destinatários".
A imprensa britânica noticiou que Biden, que teme provocar um conflito nuclear, estaria disposto a permitir que a Ucrânia implementasse mísseis britânicos e franceses usando tecnologia americana, mas não mísseis de fabrico americano.
Em resposta à advertência de Putin, Starmer disse aos meios de comunicação britânicos que viajavam com ele que "a Rússia iniciou este conflito. A Rússia invadiu ilegalmente a Ucrânia. A Rússia pode encerrar este conflito imediatamente".
Num sinal de tensões crescentes, o serviço de segurança russo FSB anunciou nesta sexta-feira que seis diplomatas britânicos tiveram as credenciais retiradas e foram acusados de espionagem.
O embaixador da Rússia na ONU reafirmou as declarações de Putin e alertou que a autorização para que Kiev utilize mísseis de longo alcance significaria envolver a NATO "numa guerra direta" contra uma "potência nuclear".
"Esta possível evolução muda fundamentalmente a nossa relação com o Ocidente", declarou Vasili Nebenzia numa reunião do Conselho de Segurança.
"Isto significará que a partir desse momento os países da NATO travarão uma guerra direta contra a Rússia. Neste caso, como compreenderão, teremos de tomar as decisões apropriadas, com todas as consequências que possam implicar para os agressores ocidentais", alertou.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, disse nesta sexta-feira que se reunirá com Biden "este mês" para apresentar seu "plano de vitória" para acabar com a guerra com a Rússia.
Ele também observou que a recente ofensiva de Kiev na região fronteiriça de Kursk "freou" o avanço de Moscou no leste da Ucrânia e que há atualmente 40 mil soldados russos lutando na área.
No entanto, acusou o Ocidente de ter muito "medo" para sequer levantar a possibilidade de derrubar mísseis russos e drones iranianos, apesar de ajudar Israel a fazê-lo.
O chefe do governo alemão, Olaf Scholz, afirmou nesta sexta-feira que seu país não entregará armas de longo alcance à Ucrânia.
A Alemanha, o maior contribuinte europeu de ajuda financeira e militar a Kiev, "tomou uma decisão clara sobre o que fazemos e o que não fazemos. Esta decisão não vai mudar", declarou a chanceler social-democrata durante uma coletiva de imprensa em Berlim.
As negociações em Washington ocorrem no momento em que Biden está prestes a deixar o cargo e dar lugar a quem vencer as eleições presidenciais de novembro, entre a democrata Kamala Harris e o republicano Donald Trump.
Trump recusou-se repetidamente a tomar partido no conflito na Ucrânia durante um debate eleitoral com Harris na terça-feira, dizendo apenas: "Quero que a guerra acabe".
Em contraste, a atual vice-presidente comprometeu-se a manter o apoio incondicional à Ucrânia, caso seja eleita.
A visita de Starmer aos EUA - a segunda a Washington desde que o Partido Trabalhista obteve a vitória em julho, após 14 anos - também visa amenizar a guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas em Gaza.
Mas o foco estará na Ucrânia, onde as perdas no campo de batalha após mais de dois anos e meio de conflito são particularmente preocupantes.
*Por Danny KEMP, da AFP.
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