Palavras proferidas por António Costa no final das Jornadas Parlamentares do PS, que decorreram no município de Moura, distrito de Beja, junto à barragem do Alqueva, numa intervenção com muitos recados para os parceiros parlamentares que suportam o atual executivo socialista.

"Porque o mundo não acaba com esta legislatura e continua desde logo com uma nova legislatura, é preciso que todos provem bem sobre esta solução nesta legislatura para que haja continuidade desta solução de Governo na próxima legislatura", sustentou, num discurso em que caracterizou o PS como "a força de equilíbrio essencial ao sucesso da atual solução governativa".

No seu discurso, António Costa procurou vincar a tese de que defendeu o fim do conceito do arco da governação, contra soluções do ‘Bloco Central', admitindo em contrapartida entendimentos com outras forças de esquerda, desde que se apresentou como candidato nas eleições primárias do PS em setembro de 2014.

De acordo com o primeiro-ministro, a atual solução de Governo teve "sucesso" porque "conseguiu virar a página da austeridade com uma política alternativa, cujos resultados permitiram a manutenção de Portugal na zona euro".

"Para que isto fosse possível foi essencial a maioria que se construiu na Assembleia da República e que tem garantido a estabilidade. Ao princípio, a direita queria desvalorizar a atual solução política, tentando caracterizá-la de forma depreciativa com o termo ‘Geringonça'. Mas aquilo que dói à direita, verdadeiramente, é que a ‘Geringonça' demonstrou não só que funciona, como hoje é um garante da confiança e está no coração dos portugueses", advogou o secretário-geral do PS.

A seguir, António Costa valorizou o papel do seu próprio partido dentro da ‘Geringonça', apesar de começar por dizer que, para a obtenção dos resultados alcançados, "todos os parceiros parlamentares têm sido importantes".

"Mas há uma coisa que os portugueses também sabem: Todos são importantes, mas o PS é essencial para que a ‘Geringonça' exista e para que possa funcionar. Só o PS garante o equilíbrio que tem sido a chave do sucesso desta governação", defendeu o líder socialista.

Depois, neste mesmo contexto, deixou várias notas de demarcação de caráter político, advertindo que "esta governação não é o negativo da direita".

"Esta governação é uma outra governação, que devolve rendimentos, que permite o crescimento da economia, que cria emprego ao mesmo tempo que consegue consolidar as contas públicas. Mas alguém em Portugal deseja ter más finanças públicas?", interrogou-se António Costa.

A propósito das críticas que o PS tem recebido, sobretudo do Bloco de Esquerda, referentes ao funcionamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o secretário-geral socialista reagiu: "Por favor, que ninguém nos venha dar lições sobre o SNS, porque o António Arnaut foi fundador do partido e faleceu como presidente honorário do PS".

Sem colocar em causa a autonomia de iniciativa legislativa do Grupo Parlamentar do PS, António Costa defendeu o acordo de concertação social assinado pelo seu Governo com as confederações patronais e com a UGT.

"Então não consta do programa do Governo e do património histórico do PS a defesa da concertação social? Defendemos o diálogo social na empresa e a negociação coletiva. E vamos sempre defender. O que não quer dizer que a legitimidade democrática do parlamento esteja condicionada, limitada ou asfixiada pela concertação social", declarou, aqui numa mensagem dirigida para parte da bancada socialista.

António Costa fez questão de defender que a concertação social e o parlamento "são duas legitimidades distintas".

"O diálogo social, em qualquer sociedade aberta, é absolutamente essencial. Temos de valorizar essa prática de governação" respondeu o primeiro-ministro perante os deputados do PS.