O Comité dos Médicos acusa “as forças Janjaweed e o conselho militar golpista” pela morte do manifestante.
A milícia Janjaweed, acusada por muitas organizações não-governamentais de “limpeza étnica e violação em massa” no Darfur, região no oeste do Sudão, foi integrada nas fileiras das Forças de Apoio Rápido (RSF), força paramilitar liderada por Mohamed Hamdan Daglo, conhecida como “Hemedti”, o segundo no comando do general Abdel-Fattah al-Burhan, que segunda-feira dissolveu todas as instituições no Sudão.
Os confrontos de hoje ocorreram em Cartum do Norte, região separada da capital sudanesa pelo Nilo, onde as forças de segurança estavam a disparar, utilizando balas de borracha e granadas de gás lacrimogéneo sobre os manifestantes, mas também no distrito de Bourri, no leste da capital, segundo a agência France-Presse.
O golpe militar é rejeitado pela população e pela comunidade internacional, que quer que os civis regressem ao poder no Sudão.
Assim que o golpe foi anunciado, os apoiantes de uma transferência de poder para a população civil montaram barricadas, empilharam ramos, pneus queimados e pedras através das avenidas de Cartum.
Hoje defendem as suas barricadas improvisadas para paralisar o país com uma campanha de “desobediência civil” decretada por quase todos os partidos da oposição, sindicatos e outras associações.
“As forças de segurança estão a tentar desmantelar todas as barricadas”, disse Hatem Ahmed, um manifestante. “Estamos a colocá-las de volta assim que saírem. Só partiremos quando for estabelecido um governo civil”, concluiu.
“Não queremos poder militar, queremos uma vida democrática livre”, afirmou outro manifestante que apoia “a greve geral”.
Nas redes sociais, pouco acessíveis pois as autoridades cortaram a Internet, multiplicam-se os apelos a uma mobilização geral no sábado.
Os ativistas querem “um milhão de manifestantes” para exigir que o general Al-Burhan, comandante militar durante as três décadas de Governo de Omar al-Bashir, se junte a ele na prisão.
Em 1989, Al-Bashir, também general, tomou o poder num golpe contra o primeiro-ministro democraticamente eleito Sadeq al-Mahdi. Foi expulso pelo Exército em abril de 2019, sob a pressão de uma revolta popular.
Na segunda-feira, o general Abdel-Fattah al-Burhan, agora o único líder do país, dissolveu o Governo que deveria assegurar a transição para a democracia e prendeu ministros e altos funcionários civis.
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) apelou hoje ao “restabelecimento de um Governo de transição liderado por civis” num país que emergiu há dois anos de 30 anos de ditadura.
O general Al-Burhan demitiu seis embaixadores que protestaram contra a intervenção militar, incluindo os da China, da União Europeia, da França e dos Estados Unidos da América (EUA).
Aumentando a pressão sobre o Exército, a União Africana, os EUA e o Banco Mundial suspenderam a ajuda internacional ao Sudão.
Para explicar a sua tomada de poder, o general Al-Burhan citou na terça-feira o risco de “guerra civil” após uma manifestação contra o Exército.
Os militares deixaram de participar em reuniões conjuntas com membros civis, o que atrasou, por exemplo, a aprovação por parte do Conselho de Ministros de entregar o antigo ditador Omar al-Bashir e outros dois responsáveis do regime deposto em abril de 2019 ao Tribunal Penal Internacional (TPI).
Nas primeiras horas de 25 de outubro, os militares prenderam pelo menos cinco ministros, bem como outros funcionários e líderes políticos, incluindo o primeiro-ministro Abdalla Hamdok, levando-os para um local não revelado.
Ao meio do dia de segunda-feira o Al-Burhan, presidente do Conselho Soberano – órgão governativo composto por civis e militares – anunciou que dissolvia o Governo e o próprio Conselho, e decretava o estado de emergência no país.
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