Esta posição foi assumida pelo líder parlamentar centrista, Nuno Magalhães, no dia em que foi noticiado, pelo Público e Correio da Manhã, que o ex-chefe de gabinete do antigo ministro da Defesa disse, no interrogatório judicial, ter informado Azeredo Lopes sobre um memorando e uma alegada operação de encobrimento da Polícia Judiciária Militar (PJM) na recuperação do material roubado.

“Cada dia que passa mais me parece evidente a necessidade de chamar o senhor primeiro-ministro”, afirmou Nuno Magalhães, em declarações aos jornalistas, minutos depois de o líder do PSD, também na Assembleia da República, ter dito exatamente o contrário.

O líder da bancada centrista afirmou, uma vez mais, que o CDS-PP “sabe bem distinguir o que é da justiça e deve permanecer nos tribunais, e o que é da política e do apuramento de responsabilidades políticas que compete ao parlamento”, no inquérito que vai a votos na sexta-feira e tem aprovação garantida.

As “declarações relevantes”, disse, serão as que o ex-chefe de gabinete e Azeredo Lopes farão na comissão que inquérito.

“Mas, nós, como o país, vemos, ouvimos e lemos e não podemos ficar indiferentes ao que foi noticiado, o que cada vez dá importância, oportunidade, razão ao CDS por ter proposto esta comissão de inquérito” para “apurar responsabilidades, doa a quem doer”.

Numa resposta indireta ao líder do PSD, Nuno Magalhães lembrou que declarações de António Costa no plenário da Assembleia da República, num debate, são diferentes de depor numa comissão de inquérito parlamentar, que “tem poderes parajudiciais”, podendo declarações aí feitas, como aconteceu no passado, ser “carreadas para o processo judicial”.

“O líder do PSD diz o que entender e só tenho que respeitar”, acrescentou.

Questionado sobre se acredita que o primeiro-ministro não sabia do memorando e do alegado encobrimento na recuperação do armamento, Nuno Magalhães afirmou que essa é uma das questões para a comissão de inquérito.

“Se sabia ou não, ou mesmo não sabendo, se fez tudo ou não o que deveria ter feito, de acordo com as suas funções para saber, é o que cumpre apurar do ponto de vista da responsabilização política à comissão de inquérito”, disse.

A proposta de criação de uma comissão de inquérito foi anunciada em setembro, no dia em que foram noticiadas as detenções de militares da Polícia Judiciária Militar e da GNR, na sequência da investigação à recuperação de armamento, em outubro de 2017.

O furto do armamento dos paióis de Tancos foi noticiado em 29 de junho de 2017, e, quatro meses depois, foi recuperada parte das armas.

Em setembro, a investigação do Ministério Público à recuperação do material furtado, designada Operação Húbris, levou à detenção para interrogatório de militares da PJM e da GNR.

Na mesma altura, foi noticiada uma operação de encenação e encobrimento na operação, alegadamente organizada por elementos da PJM , que dela terão dado conhecimento ao chefe de gabinete do ministro da Defesa.

Em 12 de outubro, Azeredo Lopes demitiu-se e foi substituído por João Gomes Cravinho.

Na semana passada, o Chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, também se demitiu e o seu lugar foi ocupado pelo general José Nunes da Fonseca.

[Notícia atualizada às 14h34]