Fontes judiciais confirmaram à Lusa que à hora marcada para o início da audiência, hoje, no Tribunal Distrital de Oecusse, não estavam presentes um dos procuradores, o arguido, Richard Daschbach, nem a sua defesa.

“O juiz decidiu, por isso, adiar o julgamento para 07 de junho”, explicou a fonte judicial.

Advogados de defesa confirmaram à Lusa que só tencionavam viajar para Oecusse na terça-feira, apesar de a audiência estar prevista para hoje, com sessões marcadas até sexta-feira.

Fontes judiciais explicaram à Lusa que procuradores titulares do processo que viajaram de Díli propositadamente há 10 dias estão ainda em quarentena e à espera do resultado de um teste à covid-19.

“Só esteve presente o procurador distrital de Oecusse, mas apenas para o adiamento”, referiu uma das fontes ouvidas pela Lusa.

Outras fontes envolvidas no processo explicaram, porém, que os procuradores em quarentena não terão informado o tribunal de que poderiam ter o resultado do teste ainda hoje e que poderiam estar presentes em audiência hoje à tarde ou na terça-feira.

“Se tivessem informado o tribunal de que não poderiam estar hoje, o julgamento poderia ter sido adiado para amanhã”, explicaram as fontes.

O julgamento, que começou em fevereiro, chegou a ter duas audiências marcadas para 22 e 23 de março, mas foi adiado devido aos condicionalismos das restrições da pandemia de covid-19, já que o processo implica a viagem para a região do arguido, dos advogados de defesa e de procuradores e um dos juízes.

O Tribunal de Oecusse marcou sessões para todos os dias desta semana, fazendo depois uma semana de intervalo, antes de cinco novas sessões entre 07 e 11 de junho.

O adiamento do processo durante mais de um mês, de acordo com o procedimento, implica que o testemunho de Daschbach tenha caducado e, como tal, tenha de ser repetido, segundo fontes judiciais. Só depois começará a audição de alegadas vítimas e testemunhas.

No exterior do tribunal, hoje, já estavam três das alegadas vítimas, que tinham recebido notificação para se apresentar, acompanhadas de familiares.

Nenhuma das vítimas foi identificada no local pelo Ministério Público.

Richard Daschbach, que está em prisão domiciliária em Díli e já violou as regras impostas, começou em fevereiro a ser julgado pelos crimes de abuso de menores, pornografia infantil e violência doméstica, com o julgamento a decorrer à porta fechada.

Daschbach foi expulso da congregação da Sociedade do Verbo Divino (SVD) em Timor-Leste e do sacerdócio pelo Vaticano pelo “cometido e admitido abuso de menores” num orfanato do país, o Topu Honis.

A decisão da SVD e do Vaticano baseou-se numa detalhada investigação e incluiu a confissão oral e escrita de Richard Daschbach, que admitiu os crimes perante o Vaticano.

Até ao momento, ainda não foram divulgados detalhes sobre quantas testemunhas o Ministério Público e a defesa vão apresentar no decurso do julgamento.

O caso, sem precedentes em Timor-Leste, por envolver um ex-membro da Igreja Católica, tem suscitado intensos debates nas redes sociais, com alguns a colocarem-se do lado do alegado abusador e outros das alegadas vítimas.