Pôr a hipótese de ir para a garagem descansar do barulho dos filhos em casa; fazer planos para coordenar tarefas e não os conseguir pôr em prática nem sequer um dia; sentir culpa por passar demasiadas horas de trabalho ao telefone com a filha pequena ao lado a olhar. A vida real em confinamento foi muito isto.
Neste caso, a vida real de quatro famílias, cada uma com a sua história. Para todas elas, foi também o alívio e a gratidão de tudo ser vivido com saúde, a noção do privilégio de ter trabalho, a comoção por quem está em sofrimento, o sentido de comunidade que faz estender a mão.
Momentos dramáticos, situações cómicas, muita ação ao mesmo tempo... É a vida real a passar pelos vários géneros da ficção.
A Maria fugiu de Lisboa com o marido e os três filhos e foram para o campo. Com a sensação de que estiveram “presos no mesmo dia” durante 77 dias, a gestão da rotina foi o mais difícil. Maria teve vários momentos em que precisou de chorar - era “só” preciso encontrar a melhor hora.
O Pedro vive no Porto. Normalmente, durante a semana, é só ele, o filho e, às vezes, o enteado. A mulher mora em Lisboa. A pandemia reuniu-os estes meses debaixo do mesmo teto - teto esse que esteve a ser arranjado, “desde o primeiro dia útil do confinamento”, diz o Pedro a rir-se com ironia. Fala das birras, do cansaço, dos planos que saíram furados. E, no fim, conclui que foi “espetacular”.
A Ariana é professora. Sentiu a vida saudável que tinha ficar do lado de fora da porta e o trabalho entrar-lhe pela casa adentro. Teve medo de perder a mão ao tempo e de não se conseguir dedicar à filha. Salvou-a o calendário que criou e que foi aperfeiçoando. Acabou por ser um tempo de descobertas, incluindo a das vozes dos alunos.
A Patrícia tem dois filhos adolescentes. Não queria voltar aos ataques de pânico que teve há dez anos - “quem já sofreu de picos de ansiedade sabe perfeitamente o que estou a dizer”, desabafou. Durante este tempo sabe que aprendeu a ser mais prática, sem precisar de fazer “320 receitas” de pão. As suas duas maiores angústias foram a dificuldade de dar resposta à população em risco com quem trabalha e (não) conseguir gerir o filho mais velho à distância.
Quatro testemunhos que fomos ouvir e que aqui contamos, em discurso direto, porque há momentos em que não há nada a acrescentar.
A história de quando é preciso coordenar o momento em que se pode chorar
(Maria Coutinho, 36 anos, gestora)
A escola dos meus filhos fechou no dia 11 [de março], porque tivemos um caso de um pai infetado. Ao fim de cinco dias de estarmos fechados num andar com os três filhos, percebemos que a situação em Portugal estava a aumentar. Começámos a ficar com receio de que fosse declarado um estado de emergência e que fechassem concelhos. E ficámos cheios de medo de ficar trancados num andar e a temer pela nossa sanidade mental.
Estávamos com o dilema de sair de Lisboa por duas razões: uma, abandonar os nossos familiares, se por acaso ficassem infetados, não os poderíamos ir visitar ou ajudar. Por outro lado, cheios de receio de levar o vírus para fora da cidade onde vivíamos, não é? Sabendo que tinha sido o que tanta gente tinha feito em Itália e que tinha disseminado o vírus pelo país… Eram uns escrúpulos. Foi uma dificuldade de peso que não foi fácil ultrapassar.
Quando tomámos a decisão de ir para Braga, levámos mantimentos para 15 dias e estivemos completamente isolados no terreno dos meus sogros.
Chegando a Braga, no início foi muito bom. Estávamos fechados numa casa com terreno. Foi assim um alívio. Depois… foi um exercício que não foi fácil fazer.
"Estava a falar com a equipa e a dobrar meias [risos]. Não posso estar só a falar ao telefone. Tenho de aproveitar os braços."Maria Coutinho
Eu e o meu marido brincávamos muito que nos sentíamos a viver aquele filme em que a pessoa acorda sempre no mesmo dia. Estávamos presos no mesmo dia. Acordávamos sempre às 8h. Sempre. E começava a nossa rotina: preparar pequenos-almoços, arrumar a cozinha, pôr os miúdos na [tele]escola. Definir o almoço. Está feito? Não está feito? Um fica com a bebé e apoia um dos miúdos mais velhos. O outro consegue ir para o computador. [respira fundo para ganhar fôlego] Meio-dia: preparar o almoço da miúda, o outro preparar o almoço dos miúdos. Almoçamos todos, pomos a miúda a fazer a sesta. Estar atentos ao mais velho. O do meio sempre em autogestão. A brincar. Muitas vezes a cobrar. Tratar da casa, limpar, tratar das roupas. Trabalhar mais uma hora. E pronto. Bebé acordar. Lanche de todos. Ao fim do dia dava muitas vezes para um de nós ainda conseguir trabalhar um pouco. Enquanto o outro estava com os três. 19h: banhos, jantar. 20h30: cama. Pronto. Às 21h, era o momento para fazermos o esquema do que era preciso para o dia seguinte.
Havia muitas decisões importantes de trabalho para tomar e que não só exigiam tempo, como emocionalmente eram grandes decisões.
Tenho um inquilino que está connosco há bastante tempo, com um negócio grande e vários funcionários, ficou com o negócio parado, e está neste momento a recorrer ao Banco Alimentar. Como é que eu não lhe vou deitar a mão. Perguntei-lhe "Quanto é que pode pagar?", como é óbvio. Não tenho coragem de não lhe reduzir. E daqui a seis meses vamos vendo. O senhor nunca irá para a rua. Nunca.
Muitas vezes estava a falar ao telefone, com a bebé ao colo e a mexer uma panela, não é? Um dia acabei por desabafar: "Já nem consigo raciocinar. Desculpa, deixa-me só pôr aqui água no arroz". A pessoa tem de contar. Estava a falar com a equipa e a dobrar meias [risos]. Não posso estar só a falar ao telefone. Tenho de aproveitar os braços.
Fisicamente sentia-me muito esgotada. E acabava por às vezes já só ter forças para chorar. Mesmo.
Um momento em que a bebé estava a dormir a sesta, os mais novos já estavam numa atividade da escola, eu estava novamente a arrumar a cozinha, era o momento em que eu me refugiava. Chorava. Tinha de tomar decisões do trabalho para a tarde.
Acabei por procurar muito as amigas que estavam na mesma situação do que eu. Perceber as suas angústias, que eram as mesmas e que também estavam esgotadas e também choravam. Mas nada como uma boa noite de sono. E no dia seguinte o ânimo estava melhor outra vez.
Confesso que tinha receio de que alguém cometesse uma loucura. Os meus amigos, alguns ficaram em andares fechados com os filhos, com o stress, com a angústia de perderem trabalhos, com questões financeiras…
Se nós não tivéssemos esta flexibilidade de trabalho e horária, eu sinceramente não entendo como é que um pai e uma mãe a trabalhar oito horas por dia atrás de um computador e ainda fazer tudo o que fiz. Para mim, devem ser uns super-heróis. Não consigo conceber essa hipótese. Não sei que estratégia é que encontraram para conseguir dar conta de tudo.
Se tivesse ficado em Lisboa, não tenho muitas dúvidas de que me teria refugiado no meu carro, na garagem [risos].
Fui uma privilegiada por ter podido sair de um andar, por ter um marido ao meu lado habituado a fazer tudo, tanto em casa como com os filhos. Além de que - e este é um ponto que nos ajudou também muito - financeiramente nós não estávamos fragilizados. Sinto-me uma privilegiada. Acho que se calhar a minha história não pode chegar a tantos quanto outras histórias.
Costumo dizer que todos os dias tivemos 30 minutos de sonho e 30 minutos de loucura!
Agora que estou há uma semana fora de Braga, sei que vou recordar esses 77 dias com muito carinho. Foram tempos muito exigentes que espero que não se repitam.
A história em que foi tudo bastante ao lado. Até a chuva dentro de casa
(Pedro Nunes, 37 anos, coordenador de uma equipa de outsourcing tecnológico)
A minha mulher trabalha em Lisboa, e com o confinamento veio para o Porto em teletrabalho. Foi o retomar de uma dinâmica familiar que há praticamente um ano não existia. A mãe a semana inteira no Porto connosco. (a fotografia de capa deste artigo retrata a família de Pedro Nunes - mulher, filho e enteado - durante o confinamento)
Combinámos logo desde o início que da parte da manhã eu focar-me-ia mais no Quico, o mais novo, e da parte da tarde seria ela. Isto foi assim uma decisão inicial… que nunca aconteceu [ri-se].
"Tivemos obras em que nos estiveram a aplicar um telhado novo no apartamento. Por cima de nós tivemos pessoas a andar, a fazer furos. Choveu-nos em casa"Pedro Nunes
Desde cedo percebemos também que era melhor ela assumir um papel mais próximo junto do meu enteado por causa da tele-escola. O que quer dizer que, de cinco em cinco minutos, ele está em cima dela porque não percebe o exercício que normalmente faria na sala de aula sem ajuda. Mas é normal. Já falei com vários pais com filhos da mesma idade e estão todos na mesma situação.
O que é que foi regular durante estes dias todos? O Quico acordar às 7h da manhã, cheio de energias, sem sono nenhum.
Conseguimos manter o trabalho. Não nas horas regulares. Começávamos às 9h/9h30, parávamos várias vezes e às vezes terminávamos à 1h da manhã.
Pelo meio descobrimos que éramos muito resilientes à mudança de telhado que fizeram na nossa casa. Desde o primeiro dia útil do confinamento até meio de maio tivemos obras em que nos estiveram a aplicar um telhado novo no apartamento. Por cima de nós tivemos pessoas a andar, a fazer furos. Choveu-nos em casa. Chegámos a ter baldes dentro do quarto e a pingar noite e dia. O senhor das obras só encolhia os ombros porque não percebia de onde é que vinha aquela água, já tinham posto aquela parte do telhado. Só visto. A empresa que nos gere o condomínio não atendeu durante todo este período. Dizia que estava em confinamento.
Em termos gerais, a avaliação é espetacular. O confinamento permitiu-nos ter mais momentos de bem-estar familiar do que nos meses todos anteriores. Tivemos tempo novamente de estar connosco. De fazer jantares e almoços. De perceber, brincar, estar com os miúdos. De assistir a birras do arco da velha.
De resto, o Quico aprendeu a falar.
Ao contrário do que seria de esperar e de muitos amigos com quem falámos, até conseguimos passar este confinamento de uma forma positiva e estamos contentes ou agradecidos. Estamos com saúde. Não aconteceu nada a nenhum de nós nem à nossa família.
A história da teleinvasão e da descoberta do tempo das vozes
(Ariana Furtado, 43 anos, coordenadora da Escola Básica do Castelo e professora do 1.º ciclo - a Ariana partilhou connosco um texto que escreveu para o diário de uma instituição e cujos excertos integrámos no relato, assinalados com um *)
*Sabemos que perdemos o controlo das nossas vidas quando trememos de ansiedade cada vez que o telefone toca, cada vez que abrimos o correio electrónico e vemos dez mensagens urgentes com pedidos de grelhas preenchidas, informações acrescidas, relatórios.
*O teletrabalho, a “teleinvasão”, o “telesofrimento”. É disso que vos falo. É disso que vos quero falar. Estar em casa não é estar seguro quando não temos ao que nos segurar.
Nas primeiras semanas foi um choque muito grande. A minha filha tinha uma vida ativa fora de casa, fazia muito desporto, tem aulas de piano. Tinha uma vida muito intensa. Tal como eu. Quando viemos para casa, foi uma mudança radical. Deixar de lado essas atividades e reencontrar outras dentro de casa.
No início, assustou-me o facto de eu ter uma filha pequenina, ainda por cima filha única, que poderia sentir-se invadida pelo meu trabalho em casa.
O que eu fiz para me organizar de forma muito clara foi criar um calendário. Neste calendário têm de caber as aulas que eu dou, as atividades nas quais estou envolvida fora da escola, as atividades da Madalena, o tempo para a Madalena, o tempo para a casa… Tem de caber tudo. Cabe tudo, mas com horas de sono perdidas [ri-se].
O meu mundo está agora assim: em casa. Os telefonemas agora chegam-me. Os pais antes falavam comigo na escola. Apanhavam-me na escola, davam-me uma palavra à entrada ou à saída. Agora procuram falar comigo em casa. Faz parte da mudança.
"Aos meus alunos chegará sempre a mensagem de que se aprende de muitas maneiras"Ariana Furtado
Foi um tempo de muita preocupação social para mim por ouvir os relatos de muitos encarregados de educação de alunos da minha escola. Naqueles primeiros períodos não foram poucos os casos que nos chegaram. Há casos de pais com avisos de despejo praticamente. Pais que foram para lay-off e os rendimentos diminuíram brutalmente. Famílias que não tinham o que comer. Foi preciso uma grande capacidade de reação para conseguirmos acompanhar estas famílias e não perder o laço, o vínculo. E, para isso, eu passei muitas horas ao telefone.
Passei a dormir mesmo muito menos. Muito poucas horas. Agora já estou muito melhor. Mas houve uma fase em que estava constantemente a pensar o que fazer, como fazer. Dormindo muito menos, é a minha forma de mostrar ansiedade.
*Estar horas a fio em frente a um computador não nos permitirá perceber nunca por inteiro quais são as necessidades de uma criança de seis anos a aprender a ler e a escrever. Há a falta do olhar, do gesto, da expressão. Todos esses momentos que demonstram a segurança, a incerteza, a dúvida, o acerto.
Aos meus alunos chegará sempre a mensagem de que se aprende de muitas maneiras. Aprendemos vida fora e nada nem ninguém ficará para trás.
Descobrimos muito a voz uns dos outros. As vozes, os tempos. Percebi isso nos meus alunos. Que tínhamos de ter esta preocupação com a voz. Fazermo-nos ouvir bem do outro lado. Quando estamos a falar através do telemóvel ou de um programa de ensino à distância, temos de ter muita atenção ao tempos dos outros. Porque a rede não nos chega da mesma forma. Há cortes, há misturas. E isso aprendeu-se.
Houve alturas em que [a Madalena] se sentava ali ao meu lado a ouvir as aulas. Porque ainda por cima ela estuda na mesma escola do que eles, são amigos. Às vezes punha assim a carita no ecrã. E havia uma explosão de alegria, do lado de lá e do lado de cá.
À medida que fui sentindo que as coisas estavam mais organizadas, fui-me acalmando também. Foi um calendário aperfeiçoado. Agora sinto que estamos com os tempos certos.
Eu, no fundo, vivo num privilégio. O privilégio de conseguir estar em casa, ter um trabalho, ter um salário desse trabalho, ter a minha filha segura comigo.
Sinto-me feliz porque noto que se ela tiver de escolher entre sair, ir para o ar livre ou ficar a ver um filme ou um desenho animado, ela prefere sair. Mantenho a esperança no futuro [ri-se]. No futuro da educação que eu quero para a minha filha.
A história do drama das dependências de uns e da mania da independência de outros
(Patrícia, 45 anos, assistente social)
Eu trabalho no Ministério da Saúde. Sou assistente social. Faço atendimento a uma população de risco: toxicodependentes, alcoólicos, todas as pessoas que tenham algum tipo de dependência. Em março, abril e maio, trabalhei uma semana e fiquei duas semanas em casa. A partir deste mês, estamos a fazer equipas em espelho: vou trabalhar uma semana, fico uma semana em casa.
Tenho uma colega que me disse: "Eu prefiro estar em casa, sinto-me mais protegida". Eu lembro-me de lhe ter dito: "Eu prefiro vir trabalhar. Além de em casa sentir a minha vida em suspenso, aqui parece que tenho mais contacto com a realidade e que estou a fazer alguma coisa”. Isto é claramente egoísta. Para me sentir menos angustiada e menos frustrada, preferia estar no trabalho.
Não há pior do que ires trabalhar e não estar ninguém na sala de espera. Significa um vazio. Há pessoas que precisam de ajuda e tu não tens respostas para lhes dar. É frustrante.
E falares ao telefone com alguém que diga: "Mas eu estou a beber, estou a beber tanto, estou a beber tanto". E, se tens de te fiar em comunidades terapêuticas que tenham internamentos, tens de dizer às pessoas que têm de se organizar para ir fazer o teste da covid-19, têm de lá ir buscar as credenciais. Não há nada pior do que estares a dizer isto ao telefone a alguém. Muitas das vezes completamente bêbedo. Já trabalho com este tipo de população há 20 anos. Quem está doente, a gente tem de olhar nos olhos.
Entretanto, o meu mais velho foi muito difícil mantê-lo em casa. Com 16 anos e tu fora de casa, eles saem. Eles saíam, frequentavam a casa uns dos outros. Com as devidas proteções. Achando eles que não estariam tanto em risco.
Imagina em termos psicológicos o que é que isto traz. Por mais que digas "eu posso trazer o vírus para casa e posso ser a culpada por um amigo teu ficar doente e consequentemente aquele familiar mais velhote com quem eles vivem". Mas ele não percebia isso. Não é fácil.
Eu ia trabalhar não havia gestão possível. Não é fácil gerires a tua casa de longe. Com adolescentes. Com o mais velho. O mais novo esteve em confinamento sem qualquer tipo de atrito.
“Faço o quê? Moro num sexto andar. Vou trancar a porta quando saio? Vou deixar os miúdos trancados em casa?". "Ai, não... Ai, se acontece alguma coisa". "Então o que é que eu faço?". Pelo medo não vai lá, porque eles sabem sempre mais do que os outros. Por castigos também não. Então vamos optar por uma estratégia de redução de riscos.
Chega a um ponto em que ou fazes as 320 receitas do livro que compraste de pão, ou só te apetece estar deitada. É nessa altura que começas a pensar em outras coisas…"Patrícia Abreu
Era um estado de angústia enorme. Conversei com algumas pessoas e muitos, muitos miúdos tiveram atitudes semelhantes. Eu até percebo… A gente não se pode esquecer de como era quando tinha 16 anos, não é? Imagina, ninguém à tua volta ainda ficou doente. Ainda não aconteceu nada de errado. Portanto, as coisas não são assim tão más quanto isso. Mas estão a pôr-se em perigo, estão-te a pôr a ti, ao irmão, aos amigos e aos familiares dos amigos em perigo. É angustiante. Para mim, foi o mais difícil. Sem sombra de dúvida, o mais difícil.
Claro que perdes a paciência, porque, depois, a frustração aumenta e a incapacidade de lidar com as tuas próprias frustrações é sobejamente aumentada. Porque não podes ir à rua e mandar um grito. Tu própria depois tens medo.
Não podes fugir. Estás em casa. Vês-te com muito tempo para tudo. Mas chega a um ponto em que das duas uma: ou fazes as 320 receitas do livro que compraste de pão, ou só te apetece estar deitada. É nessa altura que começas a pensar em outras coisas…
O que é que eu posso tirar daqui? A resiliência, a capacidade crítica e o ter muita paciência. Eu não era assim. Sou muito mais pragmática com as coisas. Este confinamento ajudou-me muito a desenvolver o pragmatismo para lidar com frustrações.
O que eu tenho perdido é o toque. São os toques. É já um lugar-comum, acho eu. Mas aquilo de que sentes mais falta é de um abraço. Da proximidade. Chegas ao trabalho e às duas por três já estás com a tua colega encostada e a dar assim toques no braço, sabes? “Ai, a gente não pode fazer isto!" [ri-se]
Eu tenho sido uma privilegiada no meio disto tudo. Acho eu. Acima de tudo sinto que a minha família próxima está bem. No meio disto tudo, bolas, ainda tenho saúde.
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