O magistrado (coroner) responsável pelo inquérito judicial, Xavier Mooyaart, no Tribunal do Coroner de Southwark, no sul de Londres, concluiu que Sofia Duarte terá ficado “sufocada e desorientada” com o fumo e desmaiou após sair do quarto onde se encontrava.

A portuguesa de 21 anos foi dada como morta às 17:34 de 01 de janeiro de 2023, tendo o relatório da autópsia indicado como causa da morte uma combinação de “queimaduras graves e inalação de fumo”.

Após intervenção da família e de responsáveis da Corporação de Bombeiros de Londres (LFB na sigla inglesa) presentes na audição de hoje, o juiz aceitou avaliar a inclusão no relatório final de uma referência à necessidade de ser tomada ação para prevenir mortes no futuro em circunstâncias semelhantes.

“Vou avaliar mais opiniões. Estou consciente de que não explorámos as regras existentes sobre habitações com vários ocupantes e saídas de emergência. Talvez seja útil se a família e a LFB providenciarem contexto relevante e elementos sobre esta questão”, disse Mooyaart no final, deixando em aberto a realização de uma nova audição ou de concluir o relatório por escrito.

O inquérito judicial é obrigatório no Reino Unido sempre que uma morte não tenha causas naturais.

No final, a mãe da vítima, Maria Macarro, aceitou que a morte da filha foi um acidente, mas mostrou-se frustrada com a falta de responsabilidade pela falta de regulamentação para este tipo de equipamentos.

“A minha filha não morreu por querer, tem de haver um culpado. Queria que alguém ficasse responsável para que, futuramente, não aconteça a outras pessoas terem famílias destruídas como eu tenho a minha”, afirmou à agência Lusa.

Sofia Duarte encontrava-se a dormir num quarto no segundo andar de um edifício onde viviam nove pessoas, incluindo o namorado.

Cerca das 16:50, alguns dos ocupantes ouviram uma explosão na entrada, no rés-do-chão, onde se encontravam duas bicicletas elétricas, uma das quais era um velocípede normal que foi convertido com um ‘kit’ para funcionar como uma bicicleta elétrica.

Perante o avanço rápido das chamas, aqueles deram o alarme e escaparam por uma janela para o telhado de uma loja, no primeiro andar, tal como o namorado da portuguesa, que saltou do segundo andar.

Porém, Duarte tentou encontrar uma saída pelas únicas escadas da habitação e não conseguiu sair com vida.

A portuguesa, que nasceu em Lisboa, mas vivia no Reino Unido desde os 9 anos, foi a primeira vítima em Londres de um acidente com esta causa, por isso a LFB lançou uma campanha de sensibilização em nome dela.

Só em 2022, a LFB registou 85 incêndios originados por bicicletas elétricas, contra dois em 2017.

“É realmente importante que aumentemos a sensibilização para evitar futuras mortes”, afirmou a comandante dos bombeiros de Southwark, Verona Clarke.

Desde a morte de Sofia Duarte que os bombeiros da capital britânica lançaram a campanha “Carregar com Segurança”, com conselhos como comprar apenas baterias de marcas conhecidas em lojas de confiança para que respeitem as normas e legislação britânica.

Outra recomendação dada por Clarke é que a bicicleta “não deve ficar a carregar numa área comum, deve ficar numa parte que não seja o acesso ou ou caminho de saída da casa, e não deve ser deixada desacompanhada ou a carregar excessivamente”.

“Estamos a fazer campanha com a ajuda da família da Sofia, que tem sido absolutamente corajosa e fantástica, para evitar futuras mortes”, vincou.

Uma petição lançada pela amiga da família, Alda Simões, no primeiro aniversário da morte, alcançou mais de 41 mil assinaturas em menos de três meses, estando em curso contactos com autoridades no sentido de pressionar o Governo britânico a apertar a regulamentação.