“Relativamente ao Mediterrâneo Oriental e à Turquia, tivemos uma boa discussão, e somos claros a defender os interesses da UE [União Europeia] e a solidariedade para com a Grécia e o Chipre. A Turquia tem de se abster de ações unilaterais”, declarou Josep Borrell, falando no final de uma reunião informal com os ministros europeus dos Negócios Estrangeiros, em Berlim.
Numa alusão às perfurações ilegais que Ancara tem vindo a realizar nas zonas costeiras reivindicadas pela Grécia e pelo Chipre, o Alto Representante da UE para a Política Externa vincou que essas ações devem acabar “para permitir que o diálogo avance”.
“Queremos dar uma oportunidade [à Turquia] para dialogar […] e eu, como Alto Representante, tentarei encontrar um espaço para as negociações de todas as áreas da nossa complexa relação”, sublinhou Josep Borrell, falando necessidade de “melhorar” os laços diplomáticos e de servir “ambos os interesses da UE e da Turquia”.
Ainda assim, o chefe da diplomacia europeia admitiu um “aumento da frustração devido ao comportamento da Turquia”, razão pela qual os ministros dos Negócios Estrangeiros chegaram hoje a um “consenso político” sobre sanções autónomas a algumas pessoas na Turquia, que deverão ser “adotadas rapidamente”.
O objetivo é “adicionar alguns indivíduos, propostos pelo Chipre, à lista sobre perfurações ilegais no Mediterrâneo Oriental, tendo em vista uma rápida adoção” de medidas restritivas relativas a esses cidadãos, precisou Josep Borrell.
Em causa estão limitações como congelamento de bens e proibição de viajar.
Mas as sanções da UE a Ancara poderão não ficar por aqui e é isso mesmo que estará em discussão na reunião dos chefes de Governo e de Estado da União de final de setembro.
“O Conselho Europeu pediu-me para apresentar uma série de propostas para serem negociadas […] e apresentei o que poderemos fazer, em termos gerais. Primeiro, estamos a criar essa lista de personalidades e daqui poderemos passar a abranger ativos e embarcações”, elencou Josep Borrell.
A UE poderá, também, começar a incluir nas medidas restritivas “tudo o que tenha a ver com essas atividades que considera ilegais, como passar a proibir o uso de portos, de tecnologia e de serviços europeus”, precisou.
Outra das hipóteses em cima da mesa é avançar com sanções às “atividades económicas” e “setoriais” relacionadas com essas perfurações, adiantou.
As tensões entre os países europeus — nomeadamente Grécia e Chipre — e a Turquia esteve em destaque na reunião informal de ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, que decorreu entre quinta e sexta-feira em Berlim, e na qual Portugal esteve representado pelo ministro Augusto Santos Silva.
A Alemanha, que assegura neste segundo semestre do ano a presidência rotativa da União Europeia, envolveu-se em esforços de mediação para tentar apaziguar as tensões entre Chipre, Grécia e Turquia depois de Ancara ter decidido unilateralmente fazer prospeções de hidrocarbonetos no Mediterrâneo Oriental, desencadeando uma crise regional.
No caso da Grécia, tem-se verificado uma escalada da tensão no Mediterrâneo Oriental pela presença — numa zona reclamada por Atenas — de embarcações turcas de prospeção escoltadas por fragatas da Marinha de Guerra da Turquia.
As operações turcas começaram dias depois de a Grécia e o Egito terem assinado um acordo de delimitação das Zonas Económicas Exclusivas (ZEE), não reconhecido pela Turquia.
Já relativamente ao Chipre, a Turquia reivindica parte da ZEE da ilha e tem realizado operações de perfuração, insistindo que está a proteger os seus interesses e os dos cipriotas turcos nos recursos naturais da região.
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