Numa conferência de imprensa em Bruxelas, o Alto Representante da União Europeia (UE) para a Política Externa, Josep Borrell, sublinhou que aos 300.000 projéteis de artilharia mobilizados dos arsenais dos exércitos europeus se somam mais 180.000 previstos em aquisições conjuntas dos Estados-membros.

“Podemos não ter um milhão [de projéteis] em março, mas isso dependerá da rapidez com que chegarem as encomendas e da rapidez com que a indústria da UE reagir”, explicou Borrell, defendendo que a indústria militar europeia tem capacidade para produzir o milhão de cartuchos de artilharia prometidos à Ucrânia na passada primavera.

“Se a indústria tem capacidade para produzir, cabe aos Estados-Membros fazer encomendas para que essa capacidade evolua. É isso que estou a pedir”, afirmou, insistindo em que os 27 devem voltar a fazer encomendas e tornar a Ucrânia uma prioridade para a indústria de armamento europeia.

Fontes europeias referem, contudo, que o número de 180.000 munições é uma estimativa conservadora, porque esperam que sejam celebrados mais contratos conjuntos e que os países da UE doem mais munições à Ucrânia fora do quadro europeu.

Até ao final do ano, o bloco comunitário espera ter uma ideia mais concreta do material enviado, embora os contratos devam chegar em 2024.

Em todo o caso, o chefe da diplomacia europeia reiterou que a UE está já a aplicar o plano e que existe um “afluxo contínuo” de munições a Kiev.

O plano incluía material dos arsenais próprios e todo aquele que conseguisse reunir-se através de compras conjuntas para, no total, fornecer um milhão de cartuchos de artilharia à Ucrânia no prazo de um ano.

Segundo os cálculos de Bruxelas, a UE enviou até agora pouco mais que 300.000 projéteis para a Ucrânia, quando faltam quatro meses para o prazo definido, março de 2024.

A diplomacia europeia recorda que a Europa exporta 40% da sua produção militar para fora do bloco comunitário, pelo que considera que os arsenais devem dar prioridade ao envio de munições para a Ucrânia.

“As empresas produzem para o mercado e é uma questão de abastecer outro mercado que seja mais interessante”, argumentou o Alto Representante antes da reunião dos ministros da Defesa.

A Rússia lançou a 24 de fevereiro de 2022 uma ofensiva militar na Ucrânia que causou, de acordo com dados da ONU, a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e fez nos últimos 20 meses um elevado número de vítimas não só militares como também civis, impossíveis de contabilizar enquanto o conflito decorrer.

A invasão — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.