Segundo o The Guardian, todas as manhãs, Joan Moliner sai na sua bicicleta para ir trabalhar no centro da cidade de Barcelona e segue o seu caminho com uma missão: recolher os azulejos decorativos que encontrar.
Isto porque, apesar da riqueza de detalhes interiores em edifícios, a conservação do património arquitectónico raramente vai além da fachada.
Por toda a cidade, os blocos de apartamentos do século XIX estão a ser transformados em apartamentos de luxo e, como consequência deste processo, uma parte do património de Barcelona - os pavimentos de azulejos decorativos de uma época em que Barcelona era uma meca para artistas e artesãos - acabam numa lixeira.
"Vejo estes edifícios antigos como uma conversa entre todas as diferentes partes - as paredes, os pisos, todos os detalhes", afirma Moliner. "Preservar a fachada e nada mais não faz muito sentido. É parte da nossa evolução como sociedade que estamos a deitar fora".
Moliner, que trabalha como conselheiro de emprego, pegou no seu primeiro azulejo há sete anos. Hoje, no seu terraço, já conta com mais 1,600 azulejos. Motivado pela memória dos pavimentos de azulejos na casa dos seus pais, começou a recolher catálogos dos fabricantes e a pesquisar, já que defende que cada azulejo conta uma história.
O Panot de Antoni Gaudí é uma dessas histórias - um azulejo hexagonal com criaturas marinhas fabricado pela Escofet, a maior empresa de azulejos de Barcelona, que, segundo Moliner, "foi um dos primeiros fabricantes a empregar artistas para desenhar os azulejos". Foi originalmente destinada à Casa Batlló, mas acabou por ser utilizada no chão da Casa Milà, no Passeig de Gràcia, nas proximidades. Em 1997, como homenagem ao seu arquiteto mais famoso, a cidade relançou o chão da avenida com uma reprodução de Panots.
A coleção de azulejos de Moliner surgiu graças à criação de cimento barato e versátil, no início do século XIX, pelo inglês Joseph Aspdin, e foram utilizados para pavimentar a maioria dos edifícios construídos em Barcelona entre 1870 e 1950. Mais fáceis de assentar, podiam ser produzidos à mão por uma equipa de quatro artesãos. Além disso, podiam ser impressos com qualquer padrão, libertando os artistas das restrições rectilíneas do mosaico para produzir as imagens de flora e fauna que são uma marca registada do modernismo, uma versão catalã do art nouveau.
Moliner acredita que é importante conservar também esta parte do património da cidade, mesmo que os azulejos não possam permanecer no local. "Há muito tempo que se fala em colocá-los num museu, mas até agora nada resultou disso".
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