Foi uma visita breve de Carles Puigdemont a Espanha. Esta manhã, a polícia catalã tentou descobrir o paradeiro do líder separatista, que reapareceu brevemente perante os seus apoiantes em Barcelona depois de quase sete anos foragido. Contudo, tal como apareceu... desapareceu — e fintou o extenso dispositivo de segurança implantado para levar à sua detenção.
Os Mossos d'Esquadra bem tinham como objetivo impedir que Puigdemont saísse de Barcelona ou da região da Catalunha, mas foi de dentro da própria organização que surgiu a ajuda para que tal fosse possível: dois agentes foram detidos por terem colaborado na fuga, um deles por ser o proprietário do veículo em que o independentista fugiu após fazer o seu discurso no palco montado perto do parlamento catalão.
"Não sei quanto tempo vai demorar até nos vermos novamente, amigos, mas aconteça o que acontecer, quando nos virmos novamente, espero que possamos gritar juntos bem alto de novo: (...) Viva a Catalunha livre!", disse Puigdemont diante dos seus apoiantes, que gritavam "presidente, presidente!".
Como é que o dispositivo da polícia falhou?
Segundo as autoridades, o dispositivo "foi concebido" para que "a detenção fosse efetuada de forma proporcional e no momento mais oportuno para não gerar desordem pública".
Como resultado, quem pretendiam deter conseguiu fugir e mesmo assim duas pessoas foram detidas devido a incidentes entre manifestantes e a polícia.
Eleito deputado nas eleições catalãs de 12 de maio, Puigdemont tinha anunciado na quarta-feira que estaria na sessão parlamentar de hoje, convocada para investir o socialista Salvador Illa presidente do governo regional, mas o plenário arrancou e decorreu sem a sua presença.
A polícia tinha montado um perímetro de segurança em redor do parlamento, com uma barreira policial que Puigdemont teria de cruzar para aceder ao edifício, mas nunca chegou a esse local, onde se esperava que fosse detido.
Os Mossos d'Esquadra acionaram a "operação Jaula", um dispositivo de segurança, com controlo de estradas, para tentar localizar Puigdemont e impedir que volte a sair para o estrangeiro, como aconteceu em 2017. Contudo, a verdade é que neste momento não se sabe o seu paradeiro.
Como reagiram as pessoas ao ver Puigdemont?
A breve aparição da figura-chave do separatismo, que liderou a região durante a tentativa fracassada de secessão em outubro de 2017, emocionou apoiantes, que o saudaram agitando bandeiras pró-independência.
"Gostei muito do tom dele, nada exaltado, emocionei-me ao vê-lo", disse Albert, um manifestante de Barcelona.
À tarde, no Parlamento, quando o nome de Puigdemont foi mencionado durante a votação, os seus colegas do partido Juntos pela Catalunha (JxCAT) aplaudiram.
"Estão a procurar o presidente Puigdemont da mesma forma que a Polícia Nacional e a Guarda Civil, nas vésperas de 1 de outubro [de 2017], procuravam as urnas e as cédulas", ironizou durante o debate o líder do JxCAT no Parlamento, Albert Batet, em referência ao referendo ilegal de autodeterminação realizado naquela data.
Onde tem estado o independentista e porquê?
Puigdemont, que se refugiou na Bélgica nos últimos anos, antes de fazer campanha a partir do sul da França para as eleições catalãs de maio, continua sob ordem de prisão, uma vez que o Supremo Tribunal determinou em julho que não pode beneficiar da lei de amnistia.
Esta lei, duramente criticada pela oposição, foi impulsionada pelo socialista Pedro Sánchez em troca do necessário apoio do JxCAT para poder ser reeleito em novembro passado.
No vídeo em que anunciou o seu regresso, o líder independentista disse que procurava "responder" ao "desafio" de certos juízes do Supremo, que com uma "atitude de rebelião" não aplicaram a amnistia.
Após meses de bloqueio e intensas negociações desde as eleições de maio, nas quais os socialistas ficaram em primeiro lugar, à frente do partido de Puigdemont, mas sem maioria absoluta, o socialista Salvador Illa conseguiu obter os votos necessários para se tornar o presidente da Catalunha.
Como foi a sessão no parlamento?
O parlamento da Catalunha investiu hoje o socialista Salvador Illa como presidente do governo autonómico e pôs fim a 14 anos consecutivos de executivos independentistas nesta região do nordeste de Espanha.
Illa foi eleito para o cargo com 68 votos a favor dos 135 deputados catalães, uma maioria absoluta de apoios.
Além dos 42 deputados do Partido Socialista da Catalunha (PSC, estrutura regional do Partido Socialista Operário Espanhol, PSOE), votaram a favor da investidura de Salvador Illa os 20 deputados da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC, independentista) e os seis do Comuns (esquerda).
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, defendeu que "a Catalunha ganha" e "Espanha avança" com a investidura do socialista Salvador Illa.
*Com agências
Comentários