"Não é o momento de nos rendermos. Estamos nas horas decisivas e de definição do futuro do país", disse neste domingo o deputado Freddy Guevara, em nome da coligação opositora Mesa de la Unidad Democrática (MUD).

Na última tentativa de travar a eleição dos 545 membros da Constituinte, a MUD convocou uma greve de 48 horas na quarta-feira e na quinta-feira - após ter realizado na semana passada uma greve de 24 horas -, e uma grande marcha em Caracas na sexta-feira.

Guevara explicou que a ação será uma "greve geral" apoiada pela principais organizações sindicais do país.

"Seremos implacáveis se pretendem gerar um processo de violência para tentar impedir o impossível de se impedir", advertiu Maduro no sábado numa entrevista transmitida pela televisão estatal.

"Que fique claro para Maduro e para as Forças Armadas (apoio-chave do governo) que não vamos calar-nos, que não vamos permitir que se imponha uma fraude constituinte contra o povo", afirmou Guevara.

Advertiu, ainda, que se a a "ditadura não decidir suspendê-la", haverá um "boicote cívico eleitoral". "Que nos prendam a todos, a luta deve avançar", acrescentou.

Esta é "uma semana decisiva e, aconteça o que acontecer, que toda a Venezuela se levante e não deixe de se levantar até que a democracia volte para cá. Greve geral e rua sem volta!", disse Guevara.

Essas ações da oposição intensificam ainda mais as manifestações contra o governo que começaram há quatro meses e deixaram mais de uma centena de mortos, milhares de feridos e centenas de detidos.

"Terrorismo de Estado"

Maduro enfrenta, além disso, uma crescente pressão internacional, que inclui ameaças de sanções económicas do presidente americano, Donald Trump, e pedidos de governos da América Latina e da Europa para que desista da Constituinte.

"Do exterior, a direita imperial acredita que pode dar ordens na Venezuela, e aqui o único que dá ordens é o povo", assegurou o presidente neste domingo no seu programa semanal.

Em entrevista à CNN, o chefe do Parlamento de maioria opositora, Julio Borges, chamou a comunidade internacional a pressionar Maduro "nesta semana crucial".

Maduro, cujo mandato termina em janeiro de 2019, acusa os seus adversários de promover a violência para dar um golpe de Estado com o apoio dos Estados Unidos.

"A 30 de julho vamos derrotar a oposição fascista e o imperialismo (...), e isso é o que precisam de entender em Washington", expressou.

A oposição lançou a sua ofensiva após o plebiscito simbólico que realizou no último domingo, em que assegura ter arrecadado 7,6 milhões de votos contra a Constituinte.

Como parte dessa estratégia, o Parlamento juramentou 33 magistrados de um Tribunal paralelo ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), que acusa de servir o governo.

Um dos juízes, o advogado Ángel Zerpa, foi preso no sábado pelo serviço de inteligência, pela alegada acusação de "usurpação de funções" e "traição à pátria", o que Guevara qualificou de "terrorismo de Estado".

Os juízes do Tribunal paralelo "serão presos um por um, e todos terão os seus bens e contas congelados, e ninguém irá defendê-los", declarou o presidente no seu programa semanal.

A Procuradoria, enquanto isso, "apresentou uma ação de amparo ou habeas corpus para a restituição da liberdade" de Zerpa, informou num boletim, no qual alerta sobre violações ao devido processo e à "integridade física" do magistrado.

O Ministério Público denunciou, além disso, que o paradeiro de Zerpa é desconhecido, o que representaria um "desaparecimento forçado".

"Retifiquem a tempo e façamos um acordo" 

A MUD rejeitou participar da Constituinte, argumentando que esta não foi convocada em referendo e que o sistema eleitoral é uma "fraude" com que Maduro procura manter-se no poder, após duas décadas de governo chavista.

Comparecer à eleição seria legitimar um processo que busca "impor um comunismo na Venezuela" e afundar ainda mais a devastada economia do país, segundo a MUD.

"Digo a Julio Borges e a toda a MUD: retifiquem a tempo e façamos um acordo. A Constituinte é uma realidade", afirmou Maduro.

Borges defendeu a abertura de "uma verdadeira e sincera negociação" que leve a eleições gerais.

Segundo o presidente, existem negociações com a oposição para procurar uma saída para a crise, o que foi negado este domingo por Guevara.

No sábado foram registrados fortes distúrbios numa manifestação e temem-se novos surtos de violência esta semana. Só na greve de 24 horas da semana passada morreram cinco pessoas.

As Forças Armadas, a quem Maduro deu enorme poder político e económico, serão mobilizadas em todo o país para proteger a eleição da Constituinte, que regerá o país por tempo indefinido.