Estas declarações acontecem depois do presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sporting (MAG), Jaime Marta Soares, ter comunicado esta quarta-feira ao final da tarde que rejeitava formalmente a lista de candidatura liderada por Bruno de Carvalho, justificando com o facto de aquele se encontrar suspenso.

“Se aceitasse a entrega da candidatura do dr. Bruno de Carvalho estaria a cometer uma ilegalidade e uma irregularidade. Ele está suspenso de toda a atividade no Sporting, pelo que não poderei aceitar a sua candidatura”, justificou aos jornalistas que se encontravam no estádio José Alvalade.

Bruno de Carvalho, em entrevista na SIC Notícias, durante a noite, falava que não se queria "alongar muito sobre esta temática" porque, tal como já tinha sido dito pelo mandatário da sua candidatura, Pedro Proença, "de forma bastante clara, não existe, nos estatutos do Sporting, esta figura de suspensão preventiva". O que, na opinião do ex-presidente do Sporting, significa que não "está suspenso de sócio".

"Ao ouvir o ex-presidente da Assembleia Geral percebi que a decisão [da sua suspensão] deve estar tomada porque ele [Jaime Marta Soares] chamou-me ex-sócio. O que é uma pena porque acho que vivemos num estado democrático, num estado de direito, e o acto de reciocionar uma candidatura — independentemente da candidatura cumprir ou não os requisitos — é um acto que o ex-presidente da MAG não devia de ter fugido", começou por dizer o ex-presidente do Sporting, explicando a sua visão dos factos do que se passou esta tarde.

"Aliás, ele [Jaime Marta Soares] vai ao [Estádio do] Sporting e nem entrou. Só lá foi, por coincidência, falar com os jornalistas. Mas eu gostava que se tivesse noção disto: não há, nos estatutos do Sporting, a figura de suspensão preventiva. O que quer dizer que eu e os meus ex-colegas, nenhum de nós, está suspenso de sócio", alongou Bruno de Carvalho. O reforço desta ideia serviu para lembrar que, neste momento, no seu entender, "somos todos sócios de pleno direito como todos os restantes sócios".

Questionado sobre se o presidente da MAG foi ou não contactado para receber as assinaturas recolhidas da sua candidatura, Bruno de Carvalho respondeu que, na verdade, aquilo que "ali está não são as assinaturas, mas sim o processo formal, de 25 pessoas que integram os órgãos sociais; [orgãos sociais esses] que têm um programa bem definido, medidas bem definas, um visão bem definida para o quer dos sportinguistas — porque aquilo que os sportinguistas querem é paz, querem escolher o seu presidente e continuar um caminho de sucesso que estava a ser trilhado. E, a verdade, é que alguém ligou aos serviços e avisou que íamos lá. Mas por algum motivo, por coincidência, Jaime Marta Soares estava a passear à frente do Multidesportivo", disse.

Bruno Carvalho aproveitou depois para esclarecer e dirigir-se aos associados do clube leonino, dizendo que aquilo que podia dizer aos sportinguistas é que "não me encontro suspenso. Nem eu, nem nenhum membro dos antigos órgãos sociais" e que a sua lista irá por fazer a "entrega dos documentos [para a candidatura]". E não tem dúvida "nenhuma" que a 8 setembro irá a votos.

Sobre o processo disciplinar que está a decorrer e que o visa diretamente, respondeu que se trata de um processo com "base nuns regulamentos que não estavam em vigor quando teve o seu início". Significa isto que, na sua opinião, "o processo está colocado incorretamente", e, seja qual for a decisão da comissão de fiscalização, "é a lei que não a vai aceitar", e não ele próprio. Todavia, tem a certeza que "é o Sporting que sairá a ganhar" e os "sportinguistas agradecerão". E explicou porquê: "Deviam ter tido a hombridade de recusar o convite pela sua imparcialidade e falta de isenção para tomarem decisões sobre mim e os restantes elementos do Conselho Diretivo”, referiu, considerando que “mexeu com muitos interesses que agora se querem vingar".

Depois, deixou uma nota aos sócios e simpatizantes do clube: "Quando os sportinguistas vêm nos rodapés [das notícias] que o Sporting está crise, não há absolutamente crise nenhuma. Pode haver é falta de democracia e estado de direito dentro do próprio Sporting — que a lei se vai encarregar, a seu tempo, de resolver", disse.

Para Bruno de Carvalho, no entanto, o caminho e aquilo que quer para o futuro está traçado: "reforçar aquilo que são os projetos de modernização do Sporting, os projetos de de continuarmos no topo da cadeia desportiva; um processo de reaproximação com os adeptos que temos de fazer para reagrupar dentro do próprio Sporting".

Em relação ao ato eleitoral, Bruno de Carvalho alegou que muitos dos sócios que votaram a favor da destituição lhe têm confidenciado que o fizeram para que ele próprio fosse novamente legitimado em eleições e outros que, volvido este tempo e os episódios que se têm sucedido, estão arrependidos do sentido do seu voto.

Já sobre a sugestão de Carlos Vieira, seu ex-vice e agora candidato, de que seriam os sócios a decidir se devia ou não ser expulso de sócio do clube, respondeu que via essa possibilidade com "muitos bons olhos".

"Há uma coisa que é a lei — e a lei está do nosso lado. E outra coisa é a vontade do associados. Num momento destes, deviam de ser os associados a tomar uma decisão que uma comissão transitória não pode tomar, que uma comissão não isenta não pode tomar. Vejo com muitos bons olhos a hipótese dos sportinguistas [decidirem essa possibilidade] perante este imbróglio que ainda hoje foi alimentado por Jaime Marta Soares", disse num primeiro momento.

“Estou focado na minha atual equipa, que é multidisciplinar, e competente, que está motivada e não desgastada, e que me vai permitir ser menos voluntarioso do que fui, defender mais a minha imagem, gerir, liderar e falar a uma só voz”, completou Bruno de Carvalho, reconhecendo que não pecou por excesso de voluntarismo pelo empenho e entrega apaixonada no intuito de resolver os problemas do Sporting.

Sobre Jaime Marta Soares, insinuou durante toda a entrevista que "não era presidente da MAG", pois considera que as pessoas não podem confundir "aquilo que são providências cautelares — que se for a ler a lei, não pressupõe verdade, pressupõe probabilidade. O problema é que nós, portugueses, temos que aquilo que parece, é. E não é bem assim. Ex-sócio não existe, ex-presidente não tenho dúvida nenhuma", explicou Bruno de Carvalho.

Questionado se irá continuar a trabalhar com José Peseiro — caso seja possibilitado de ir a eleições e as ganhe — não quis alongar-se, assim como escusou comentar o regresso de Bruno Fernandes. "As pessoas estão a trabalhar, que continuem a trabalhar, temos um campeonato para preparar", disse.

Por fim, disse esperar que a partir de 9 de setembro possa continuar o trabalho que "foi interrompido", pois considera que o "Sporting está num momento mais positivo" mesmo após um ato "criminoso" [a sua destituição] que espera ver "deslindado".

O antigo líder 'leonino', destituído em Assembleia Geral, apresentou-se como candidato ao sufrágio de 8 de setembro, nas eleições para os órgãos sociais do clube. Bruno de Carvalho conta com o ex-vice-presidente Subtil de Sousa no Conselho Fiscal e Disciplinar, no qual estará também Fernando de Carvalho – o único que não se demitiu no órgão anterior —, e Bernardo Trindade Barros, vice-presidente da Comissão, em plena crise, com as sucessivas demissões em maio e junho.


Notícia atualizada às 01:23