
"Quero participar nos Jogos Africanos e no Mundial, ser como Imane Khelif e ganhar os Jogos Olímpicos", declara à AFP a adolescente de 15 anos depois de duas horas de treino.
Imane Khelif, de 25 anos, venceu a final da categoria até 66 kg nos Jogos Olímpicos de Paris, em agosto do ano passado, e tornou-se uma das figuras marcantes do evento, em grande parte pela polémica mundial em torno de seu género.
Mas apesar da controvérsia mediática, os argelinos defenderam com unhas e dentes a sua campeã, e milhares de pessoas vieram recebê-la no regresso à sua região natal quando chegou da capital francesa.
Desde a vitória de Khelif, os clubes de boxe argelinos viram um aumento significativo no número de mulheres jovens, e até mesmo adolescentes, interessadas em praticar o desporto, tradicionalmente dominado por homens.
Entusiasmo crescente
Cerine Kessal, que já é bicampeã da Argélia na categoria júnior até 54 kg, está muito animada com o efeito Khelif.
Kessel também é "um modelo para todos os boxeadores", e as suas ações nos treinos e no ringue são acompanhadas de perto pelo seu treinador, Djaafar Ourhoun, um ex-campeão argelino.
Dos 170 boxeadores desta academia, 20 são meninas que não param de evoluir, afirma a jovem campeã com um sorriso no rosto, garantindo que isso gera "ciúmes entre os colegas homens".
Para o árbitro internacional Nacim Touami, presidente da secção de boxe do clube de Azazga, a experiência de Imane Khelif gerou "uma obsessão pelo boxe feminino".
No passado, lembra, "havia uma certa relutância por parte dos pais em permitir que as meninas praticassem boxe", e por isso "geralmente preferiam volei ou natação".
"Mas depois do título de Imane Khelif, vimos entusiasmo" pelo desporto, antes considerado "coisa de homem", acrescenta Touami.
Mães em "modo fã"
Manel Berkache, ex-boxeadora do mesmo clube de Kessal, confirma que os pais estão cada vez mais interessados, especialmente as mães.
"Agora são as mães que matriculam as suas filhas e acompanham os treinos e as lutas", explica Berkache.
"Imane Khelif contribuiu muito para o boxe feminino e, graças ao seu sucesso, muitas meninas aderiram ao desporto", observa outra ex-boxeadora que virou consultora desportiva, Lina Debbou.
Hayat Berouali, 14, treina em Azazga. Começou a lutar boxe há menos de um mês e sonha em tornar-se campeã.
"Comecei a amar o boxe quando assisti às lutas dos Jogos Olímpicos, especialmente as de Imane Khelif, e meus pais incentivaram-me", diz ela.
Quebrar o tabu
Mesmo em regiões muito conservadoras como Djelfa, no Atlas do Saara, 300 km a sul de Argel, ou em Ain Defla, 140 km a sudoeste da capital, Imane Khelif é admirada.
O diretor técnico do Clube Ennasr, em Djelfa, Mohamed Benyacoub, explicou que a primeira experiência de boxe feminino foi lançada em 2006, embora não tenha sido muito bem-sucedida.
"Mas desde a vitória de Imane Khelif, o movimento desportivo feminino ganhou um novo impulso; o tabu em torno das mulheres e do boxe foi quebrado", comemora Benyacoub.
Em Ain Defla, "há pais a incentivar as suas filhas a praticar boxe, e algumas até usam hijabe", diz Tarek Laoub, um dos diretores do clube local.
O vice-presidente da Federação Argelina de Boxe, Hocine Oucherif, não hesita em falar sobre o "fenómeno Khelif".
Em fevereiro, conta, todo a gente falava sobre a campeã olímpica durante o Campeonato Argelino Júnior.
"Imane Khelif é a locomotiva por trás do boxe feminino na Argélia e deu-nos um grande impulso", ressalta Oucherif, enfatizando que 107 boxeadoras participaram do evento, o dobro do número da edição anterior.
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