A seleção de Marrocos é a única representante do mundo árabe (e do continente africano) ainda em competição neste Campeonato do Mundo em futebol. Os marroquinos estão, pela primeira vez na sua história, nos quartos de final e vão disputar Portugal pela terceira vez em duelos entre estas duas nações, no próximo sábado quando forem 15h00 em Lisboa.
"Marrocos é como Argélia! Espero que cheguem longe", afirma o argelino Omar Boubaker, comerciante de Orão, de 50 anos, que viajou para Doha para assistir ao primeiro Mundial de futebol realizado no mundo árabe.
As relações extremamente tensas entre Rabat e Argel não impediram os argelinos, assim como muitos adeptos árabes, de celebrarem a vitória de Marrocos contra a Espanha, o que levou a seleção marroquina aos quartos de final, um feito nunca alcançado por uma equipa da região.
"A política é para os políticos", diz Boubaker, que espera ver Marrocos conquistar a Taça. "Tudo é possível!", garante, enquanto a imprensa do seu país fala do sucesso da nação vizinha.
Localizado no extremo-oeste do mundo árabe, Marrocos costuma ser visto como um país à parte na região, com uma cultura particular e um dialeto considerado difícil. Mesmo assim, os Leões do Atlas têm seduzido novos fãs do Líbano, Líbia, Síria, Tunísia e países do Golfo.
Com a aproximação do jogo contra Portugal, a bandeira vermelha com uma estrela verde tremula por toda a cidade de Doha, enquanto o Qatar não pára de se congratular por ser a sede de um Campeonato do Mundo em nome de todos os árabes.
O "sonho árabe"
O golo da vitória da equipa de Achraf Hakimi causou enorme emoção desde Idleb (na Síria) a Sanaa (no Iémen), passando por Beirute (Líbano) e Bagdade (no Iraque), algumas destas regiões vivem momentos de grande instabilidade causada por conflitos sangrentos, estagnação económica e onde as boas notícias escasseiam.
O estudante marroquino Usama Qablani, que viajou sozinho de Paris para torcer pelos Leões, diz que deixou a solidão para trás, graças à "unidade árabe" em torno da seleção, com "a impressão de estar em Casablanca, ou Rabat".
"O clima que une os árabes aqui é único e inédito", celebra o jovem de 26 anos, vestindo uma faixa vermelha da seleção, enquanto um adepto da Jordânia aplaude: "Vamos ganhar! Vamos ganhar!".
No Souq Waqif, um dos locais mais frequentados por adeptos em Doha, bandeiras e lenços marroquinos são vendidos como água, segundo os vendedores. Entre os clientes, Mohi Khaled, vestido com as cores vermelho e verde, tenta comprar ingressos para o jogo com Portugal.
"Marrocos reflete um lindo sonho árabe que nos deixa, a todos, felizes", afirma uma adolescente egípcia de 16 anos, em frente a uma loja de camisolas e bandeiras de várias seleções.
"Parece que o mundo inteiro está connosco", comemora Aicha, uma marroquina de 60 anos que não quis revelar o sobrenome, enquanto janta num restaurante libanês.
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