Sem rumo à vista, a equipa londrina, fundada em 1886, procura um novo treinador após a saída do espanhol Unai Emery. Com Fredrik Ljungberg no comando de forma provisória, Mikel Arteta, treinador adjunto do Manchester City e de Pep Guardiola, é, segundo a imprensa, o principal candidato entre a restante concorrência, a ocupar o cargo. Mas em que estado Arteta, ou quem vier a substituir Emery em definitivo, encontrará o gigante adormecido que é o Arsenal? Vejamos o que se passou nos últimos meses para os lados do Estádio Emirates.

A crise dos capitães

Primeiro, a situação de Granit Xhaka. Para quem não se lembra, o epicentro da crise aconteceu quando o jogador foi vaiado num jogo a contar para a Premier League, frente ao Crystal Palace. Em resposta, o suíço não teve uma reação digna de um capitão de uma equipa da grandeza do Arsenal, incentivando os adeptos a assobiar ainda mais, gesticulando para que estes assobiassem mais alto e, após sair das quatro linhas, a retirar a camisola num gesto de desafio.

O óbvio seguiu-se e Xhaka foi retirado da lista de capitães.

A situação do suíço, que nesse jogo em particular esteve longe de assinar uma má exibição, vem na sequência de uma desilusão constante e da “falta de respeito“ pelo legado do clube que os adeptos sentem todas as semanas e que o médio simboliza. O jogador está no Arsenal há apenas três anos, é capitão de equipa e não é um jogador de categoria mundial. Estes e outro motivos têm feito os adeptos acreditar que o Arsenal está a nivelar-se pela mediocridade.

Em segundo lugar, Mesut Özil. A qualidade do médio criativo é inegável, mas o seu auge como jogador começa a ser uma memória distante. O jogador mais bem pago do Arsenal esteve durante a maioria do reinado de Emery sem ser utilizado. A incompatibilidade com o treinador que dizia que a estrela da equipa tinha que trabalhar mais e melhor, parece ter estado na origem desta situação. Mais uma vez foi Unai que teve que lidar com toda a situação, desgastando a sua imagem e colocando ainda mais pressão sobre a sua posição.

Curiosamente ambos os jogadores estão ligados a muito prováveis empréstimos já em janeiro. O suíço parece ter uma ligação com o AC Milan, e o internacional alemão, com o Fenerbahçe.

A qualidade, ou falta dela e a saída de um jogador com anos de clube

A falta de qualidade de muitos dos jogadores do histórico clube londrino é notória. Jogadores como Sokratis e David Luiz, que se apresentam com grande regularidade na equipa inicial do Arsenal, já não têm capacidade de serem titulares de uma equipa que lute pelo título. Entre apostar em jogadores com experiência, mas sem capacidade imediata ou de futuro e apostar em jogadores com grande potencial, Unai apostou maioritariamente na primeira. Curiosamente, a estratégia do treinador espanhol nunca favoreceu o tipo de jogadores que tem no plantel, em particular este tipo de defesas em que a idade deixa qualidades físicas, como a velocidade e aceleração, mais expostas.

Laurent Koscielny, o capitão de equipa, assim como Nacho Monreal e Aaron Ramsey, abandonaram o clube de forma inesperada. Para se construir uma equipa, uma das primeiras coisas a fazer é reunir os jogadores mais influentes e com mais anos de clube e convencê-los a fazer essa transição. Rebuscando o ponto anterior, não é com jogadores sem grande tempo de clube, com uma qualidade futebolística média e que não conquistaram o respeito dos adeptos, que se vai construir ou reconstruir uma equipa.

Tudo isto têm sido razões para ex-jogadores e comentadores desportivos estarem constantemente a “bater” nos Gunners. Esta semana foi a vez de Bacary Sagna que veio a público dizer que o Arsenal é gerido como um circo. Este diz não saber quem está a fazer a gestão e planeamento do clube, mas o resultado parece um circo, afirmou o ex-gunner que jogou pelo clube de 2007 a 2014.

A inexistência de filosofia

Unai Emery é adepto de uma defesa subida, com linhas de pressão elevadas. Num sistema como este, o problema passa pela escolha dos jogadores e pelas opções que se tem ao seu dispor. Com uma defesa subida, o pré-requisito mínimo que se pode exigir é que os jogadores da linha média e linha avançada pressionem. Em Inglaterra há um exemplo perfeito de uma equipa que construiu uma linha assim, o Liverpool, desde que vendeu Philippe Coutinho, apetrechou-se de médios batalhadores, todos com capacidade de encurtar espaços e ajudar a primeira linha de pressão composta pelo trio da frente. Tendo uma filosofia semelhante, no que toca a pressionar o adversário, o leque de jogadores para essa mesma função é completamente diferente dos da turma comandada por Klopp. Entre Dani Ceballos, Mesut Özil, Matteo Guendouzi, Granit Xhaka, Joseph Willock, nenhum parece ter essa capacidade, pelo menos ao nível de uma equipa de topo de uma liga como a inglesa. Na realidade, a única peça que parece existir para, no meio campo, desempenhar esse papel é mesmo o uruguaio Lucas Torreira. Parecia até, na altura da sua contratação, que a filosofia do Arsenal começava então a ganhar forma, mas a sequência dada não veio a confirmar tal desconfiança.

É ou não uma questão de tempo?

Muitos fatores têm que ser levados em conta, mas há dois que têm que ser fundamentais: a filosofia do clube/treinador e a capacidade dos jogadores colocarem em pratica essa mesma filosofia. Agarrando em dois exemplos muito específicos, como Pep Guardiola e José Mourinho, assim que estes são contratados por um clube, aquilo que estes procuram com as suas aquisições é evidente. Em termos gerais, o espanhol procura jogadores com uma capacidade técnica elevada, o português jogadores fisicamente mais poderosos.

No Arsenal, apesar de se ter gasto muito dinheiro em aquisições nos últimos anos, nunca se percebeu muito bem o caminho traçado com as mesmas. Os Gunners têm neste momento um dos trios de ataque - Alexandre Lacazette, Pierre-Emerick Aubameyang e Nicolas Pépé - mais poderosos da Premier League, mas infelizmente não têm o suporte e consistência, quer no meio-campo, quer na defesa para poder usufruir na totalidade da qualidade desse mesmo trio. Além disso, e jogando com a defesa subida na era Emery, a bola mais óbvia, e até prioritária, para quem ataca, caso não esteja a ser pressionado devidamente, é a bola direta nas costas da defesa. Tendo isto em conta, todo o sistema montado pelo espanhol parecia desde logo não fazer sentido e ao mesmo tempo, em conjunto com a pouca qualidade dos executantes, explicar os problemas do Arsenal dentro das quatro linhas.

Resumindo, poderá ser uma questão de tempo, mas não tem que ser uma questão de tempo. O Liverpool de Klopp não surgiu do dia para a noite. Há apenas três anos só Trent Alexander-Arnold e Roberto Firmino faziam parte do onze que hoje joga com regularidade. Foi idealizado um plano e todos os jogadores foram contratados com o intuito de executar esse plano. Com o Arsenal parece ser tudo um pouco mais aleatório. Mais ainda, se pensarmos que com o trio ofensivo, caracterizado por potencia física estará, ao que parece, à disposição de um treinador que, tendo em conta os últimos anos de parceria com Guardiola, terá uma filosofia muito diferente da que parecia reinar até ao momento. Mais uma vez nada parece fazer sentido para os lados do Norte de Londres.

Este fim-de-semana na Premier League

Além do Everton vs. Arsenal, haverá dois outros jogos de grande interesse. A fechar o sábado de Premier League acontece, nada mais nada menos que, um jogo entre o segundo e o terceiro classificado, ou seja, o Leicester a visitar o Manchester City. Enquanto que domingo, dia 22, teremos a recepção de José Mourinho ao seu antigo clube, o Chelsea. Um encontro que tem hora marcada para as 16:30 e que, com toda a certeza, fará as delícias dos adeptos da melhor liga de futebol do mundo.