Esta temporada chamei-lhe Rafa ‘Flash’ Silva de cada vez que, sozinho pela ala, a pisar a linha, conduzia a bola até à área adversária a alta velocidade enquanto era perseguido por dois ou mais jogadores de camisola de cor diferente.
Apelidei-o também de Rafa ‘Maradona’ Silva quando marcou o último golo da goleada do SL Benfica em Braga, na segunda volta do campeonato. Exagerei, mas permitam-me o exagero depois de ter visto um dos jogadores portugueses que mais me entusiasmava no campeonato num enorme esforço para ser aquilo que todos esperavam dele nas primeiras duas temporadas na Luz.
Era visível a frustração na cara do extremo cada vez que fazia tudo bem, mas chegava à frente da baliza e falhava. Rafa éramos todos nós quando tínhamos um mau dia no trabalho, era o mais humano de todos os astros que vestiam de vermelho.
No início desta temporada era fácil idolatrar Rúben Dias, João Félix, Jonas ou Grimaldo. Evitava-se fazer de Rafa um ídolo porque sabíamos que ia custar, porque nos esquecemos de quando falhamos quando todos os outros diziam que era fácil - até porque não trabalhamos num estádio com milhares de pessoas a achar que era “só isto” ou “só aquilo”, que “aquele até eu marcava”. Fugíamos da dor e da esperança com a mesma facilidade com que Rafa fugia dos adversários.
Eu, que nisto do futebol sentado no sofá não sou de me amedontrar, nunca deixei de fazer figas pelo Rafa. Revia-me no esforço incansável de tentar ser melhor, de corresponder ao que os outros esperavam de mim. E quando nele, a festejar de braços abertos, via Simão Sabrosa, o meu primeiro ídolo benfiquista, autor de autógrafos diversos guardados na mesa de cabeceira do meu quarto em casa dos meus pais, o jogador que me fazia pedir aos meus tios para ir ao estádio, tinha a certeza de que não me ia desiludir.
Foram duas épocas de espera para que Rafa, que nem podia imaginar as unhas que roía de cada vez que ele saía disparado para o ataque, fizesse o que fez este ano. Foram 21 golos, 17 na liga. Desde Simão que um jogador português no Benfica não fazia duas dezenas de golos numa temporada.
Hoje não tenho dúvidas de que haja miúdos que vão pedir aquela camisola aos pais, que no início da próxima temporada vão escolher o número 27 e treinar os sprints para ser como o extremo ribatejano.
Deixámos que o futebol pertencesse aos astros, aqueles que pousam para a fotografia dentro e fora de campo. Rafa não é desses, é um super-herói humano. Aquele que todos podemos aspirar a ser e o tipo de jogador em que temos de aprender a acreditar.
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