A vinda a Sochi teve um propósito: ver o Portugal-Uruguai. Uma viagem que começou na véspera do jogo dos oitavos de final do Mundial 2018, numa noite em que o aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, foi palco de um encontro (noturno) de nações, na porta N 44 A.

Brasileiros com a camisola azul da seleção que é apelidada de “canarinha” e outras com alusões explícitas aos clubes – Corinthians e Grémio -, argentinos, uruguaios, colombianos, indianos, um japonês, a que se juntavam alguns espanhóis, gente de nacionalidade indefinida e portugueses, uns mais à vontade que outros para se mostrarem equipados, sendo que maioria apostou na tradicional reserva de emoções.

E este exército de adeptos estava unido no mesmo propósito, o de ir atrás daquilo que gosta: futebol, perseguindo os seus ídolos que estão, à data, na Rússia.

É aqui que entramos.

Sochi é uma cidade grande. Enorme, com 145 quilómetros que se espalham entre o mar e a montanha. Andar de um lado para o outro é andar pela história da Rússia. Há vestígios dos Czares, dos “Camaradas” Lenine e Estaline, que aqui tinha a sua casa de campo (a datcha) e, mais recentemente, há mão de Putin (ao sediar  aqui os Jogos Olímpicos de Inverno em 2004), mudando-lhe a face.

Depois da derrota com o Uruguai fomos afogar, pela manhã, as mágoas nas águas deste mar fechado com saída para o Mediterrâneo. Fomos tentar perceber porque Sochi é apelidado de Riviera Russa. Ou antes, um postal parecido com a Riviera francesa no Cáucaso.

Descemos — uma descida íngreme, digamos com honestidade — do hotel sito montanha a dentro e entrámos na marginal.

Se associa mar a ondas, esqueça. Se associa ausência de ondas a mar de cor azul-turquesa e cristalino, esqueça também. O mar é escuro. Não há areia branca nem fina. São pedras, senhores, são pedras pretas, umas maiores que outras.

Há diversos pontões que rompem mar dentro. Pontões que parecem pré-fabricados inacabados.

Aqui, há diversas praias recortadas no horizonte — sim, podemos chama-lhes praias porque cada uma destas peças de puzzle está dotada das infraestruturas normais de uma praia. Há uma bandeira (no caso amarela) que atesta do estado do mar, há alguém que vigia e avisa os mais distraídos com um megafone na mão, há dezenas e dezenas de espreguiçadeiras, chapéus sol, toldos e toda a espécie de sombras (umas mais chiques que outras), passadiços de madeira que poupam os pés da areia e, imagine-se, barraquinhas com chuveiro individual para a troca de roupa antes ou depois do mergulho numa tépida, quente mesmo, e da qual saímos sem ponta de sal na boca depois de um mergulho.

Experimentámos quase tudo a que tínhamos direito ultrapassando, porém, alguns percalços e obstáculos.

Primeiro, uma vez ali chegados percebemos que não tínhamos fato de banho (ficou esquecido na mala no hotel e a subida de 15 minutos a que acresce a escadaria que faz lembrar o Bom Jesus de Braga foi elemento dissuasor). Fomos, por isso, de boxers. Cuecas. Sem vergonha, nem própria, nem alheia.

Também não fomos prevenidos (nem avisados) e não levámos o tal sapatinho que anda no pé de russas e russos e que evita dores maiores ao entrar na água. Entrámos, assim, pelo meio do passeio de madeira. O toque com a água foi feito pé, ante pé. Pisando uma ou outra pedra mais aguda até deixarmo-nos, literalmente, deslizar na água e dar umas braçadas ao estilo de Marcelo Rebelo de Sousa.

A saída deste banho retemperador, debaixo de uma temperatura a rondar os 30ºC, foi feita igualmente sem pensar em corar — é que as cuecas estavam, agora, coladas à pele. Utilizámos um chuveiro para passar por água. E como cuecas não são fato de banho, não secam com a rapidez desejada, levou a que permanecêssemos, em pé, junto da tal barraquinha da muda, à espera de um “e tudo o vento secou”.

Bom, na realidade não esperámos o tempo que vem nas instruções, mas foi o suficiente para vestir a roupa e sentarmo-nos num restaurante, no qual uma empregada com dois menus (inglês e russo) anotava os pedidos. Indicávamos o que queríamos e ela respondia e certificava-se em russo.

Almoço terminado (hambúrguer de peixe e um salmão), nada melhor que uma caminhada pela marginal.

E nestes quilómetros de praia, o comércio (lojas de souvenirs), a restauração (dos restaurantes aos quiosques ambulantes de gelados e bebidas), as barracas de tiro ao alvo e os spas para pés (mergulhados num aquário repleto de peixes que comem as peles) não deixam espaço para mais nada.

De x em x metros ouvia-se música e viam-se DJ’s, na praia e em terra, apelando a sunsets. Famílias inteiras, grupos de amigos, passeavam-se, muitos deles com o propósito de ir mais tarde ao Fun Park para assistir ao jogo Rússia-Espanha. Um centro localizado perto do Riviera Park. E cujo relato (e imagens) deixamos aqui.


Diário da Rússia é uma rubrica pela voz (e teclas) de Abílio Reis, Tomás Albino Gomes e Miguel Morgado e fotografia de Paulo Rascão, equipa do SAPO24 enviada à Rússia para fazer cobertura do Mundial. Um diário que é mais do que futebol, porque a bola não se faz só de bola, mas também das pessoas que fazem a festa. Acompanhe a competição a par e passo no Especial "Histórias de futebol em viagem pela Rússia".