O Super Bowl é quase tudo sobre números. Começa, desde logo, pela enumeração da edição, a 57ª. do Super Bowl. Ou Super Bowl LVII, em numeração romana, como é tradição.

Fala-se sempre, e muito, dos números astronómicos do preço da publicidade por 30 segundos. Dos milhões que acompanham em casa e dos milhares (mais de 63 mil) espetadores presentes no estádio, palco da final onde se jogou o título da National Football League (NFL), no caso, no State Farm Stadium, em Glendale, Phoenix, Arizona.

Atenta-se, igualmente, ao número de “pessoas famosas” e a quem o jogo, e a NFL, presta reconhecimento no centro do terreno antes de tudo começar. Damar Hamlin (Buffalo Bills) a recuperar de uma paragem cardíaca, em janeiro, foi um dos que pisou, a convite, o relvado.

Fazemos contas à precisão que os quatro aviões necessitam ter para sobrevoarem ao milésimo de segundo o estádio assim que termina o Hino Nacional dos EUA.

Em campo, para além da moeda ao ar, atiram-se a quantidade de jardas, downs e touchdowns de cada equipa. Por falar em pisar os terrenos da End Zone, Jalen Hurts, Eagles, marcou três touchdowns em corrida, um recorde na final da NFL.

Procura-se mostrar estatísticas de posse de bola e alterações no marcador ao longo dos 4 períodos (quarters) de 15 minutos cada. Os Eagles descansaram sempre em vantagem: 14-07, nos primeiros quinze minutos, 24-14, ao intervalo, 27-21, à entrada para o último quarter. Nos últimos 11 segundos, tudo mudou.

Há ainda especial atenção para o tempo de jogo, real ou corrido, deixando de lado as pausas – naturais do jogo e os time-out -, vulgo tempo de desconto. Neste último ponto, foram 3h31m05s desde o primeiro pontapé (dos Kansas Chiefs) até ao apito final que deu a vitória (38-35) dos Chiefs frente aos Philadelphia Eagles.

Esta foi uma final disputadíssima, histórica, na qual foi batido o recorde de pontos no tempo regulamentar: 73, mais um do que havia sucedido em 1995, ano em que os São Francisco 49ers venceram os San Diego Chargers, por 49-26.

Um festival de pontos em resposta aos desejos de Donna Kelse, a mãe mais famosa da América que se apresentou de coração dividido entre Chiefs e Eagles, equipas dos filhos Travis e Jason. Saiu contente e triste e desceu ao relvado para abraçar e confortar.

A equipa de Kansas City (Missouri), terceiro Super Bowl nos últimos quatro anos, desengatou o empate tardio 35-35 quando faltavam 5m15s para jogar e um field goal convertido pelos Chiefs a 11 segundos do final do jogo selou o resultado final.

Este foi o segundo Super Bowl da franquia dos Chiefs, em 4 anos, e o segundo do treinador de 64 anos, Andy Reid (orientou os Eagles durante 14 anos, sem conquistar qualquer Super Bowl, em Filadélfia), depois de 4 idas às finais.

Este foi também o segundo anel no dedo do irmão mais novo dos Kelse, Travis, 33 anos, número 87 da camisola branca (Jason, dois anos mais velho, 62 nas costas, vestiu-se de verde e de Eagles), autor do primeiro touchdown da sua equipa -

Tem tantos anéis quantos os de Patrick Mahomes. O quarterback dos Chiefs, MVP da temporada, lesionado, com uma só perna a 100% espetou o dedo para o segundo anel e quebrou uma tradição que vinha desde 1999 – o MVP não erguia o Troféu Vincent Lombardi – e aparece aos olhos de quem vê o futebol americano como o sucessor de Tom Brady, o G.O.A.T. do outro futebol de 11x11.

Hinos, playback e uma gravidez

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créditos: TIMOTHY A. CLARY / AFP

As festividades pré-jogo fazem igualmente parte do espetáculo. O Super Bowl é dia de Hino Nacional e Chris Stapleton, cantor country, levou Travis Kelse às lágrimas durante a atuação do The Star-Spangled Banner, acompanhada pela performance em linguagem gestual de Troy Kotsur, óscar para melhor ator secundário em CODA.

A lenda do R&B, Babyface teve a honra de “America the Beautiful” e a actriz e cantora Sheryl Lee Ralph, cantou o Hino Negro norte-americano, “Lift Every Voice and Sing”.

Foi o terceiro ano consecutivo que se escutou durante o Super Bowl esta letra criada há 123 anos a partir do poema de James Weldon Johnson, adotada em 1917 como hino não-oficial pela NAACP. E foi a primeira vez que foi ouvida e vista, ao vivo e a cores, no palco de todas as atenções. Antes, as performances do duo Gospel Mary Mary, em 2022 e Alicia Keys, tinham sido gravadas no exterior dos estádios palco da final.

No jogo que prende a América, um dos momentos mais aguardados da noite é o intervalo. Sete anos depois, Rihanna regressou, vinda do céu, aos palcos.

Não deixou ninguém indiferente. Montou um espetáculo em cima e para além dos 13 minutos nos quais desfilou êxitos – Umbrella e Diamonds. A gravidez do segundo filho, desvendada à medida que avançava no repertório (o afagamento da barriga servia como uma confirmação em mímica) foi confirmada após o “concerto” – e comentada nas redes sociais

Os campeões portugueses: Cascais Crusaders

Super Bowl - Sport Bar Lisboa
créditos: Miguel Morgado/Sapo24

Se o jogo prende a América, verdade seja dita, em Portugal há uma legião de adeptos a seguir, ano após ano, religiosamente a modalidade. E há igualmente um campeonato.

O SAPO 24 entrou pela porta do N.º 49 B da Avenida Duque de Loulé, em Lisboa, um Sports Bar encalacrado entre dois estabelecimentos noturnos em que a música é outra. Num ambiente vintage, encontrou o grupo de 14 fervorosos adeptos de Futebol americano capitaneados por André Novais Paula, um velho conhecido e um habitué destes encontros anuais em locais onde quer que haja um ecrã grande de televisão até altas horas da madrugada.

Nas mesas ao lado, os Cascais Crusaders. Nada mais, nada menos que os campeões nacionais de 2022 da Liga portuguesa de Futebol americano.

Este último grupo, 25 pessoas, juntaram-se para ver a final e celebrar o 17.º aniversário de um dos jogadores da formação. Bruno Sakamoto, percorreu as primeiras jardas no Brasil, em São Paulo e está há seis meses a jogar em Portugal, enquanto estuda e prepara o acesso à universidade.

Paulo Terrinca é membro fundador da competição nacional e do emblema da Vila de Cascais. “Joguei seis edições, depois virei treinador”, disse, sentado à cabeceira de um conjunto de mesas onde se arrumaram todos.

Não representado nesta final, torceu pelos Chiefs.

O apoio não é geral, nem unânime. “Não torço por ninguém”, atirou Vítor Frias, dirigente no clube “desde 2015” e presidente eleito “há duas semanas”.

O Super Bowl terminou e o campeonato nacional “começa dentro de duas semanas”, informou. De regresso, também está o podcast - Couratos e atacadores – onde se discute o futebol americano, após “férias forçadas de um ano”, lamentou.

“A bola inicial era a pele de porco. E atada com atacadores”, explicou Paulo Terrinca.

Vítor faz scroll nas fotografias do telemóvel para mostrar onde se pode encontrar e Paulo informa da existência de “uma Taça réplica da nossa taça campeã", avançou.