Na decisão do TAS referente ao recurso do espanhol, datada de 28 de janeiro e a que a Lusa teve hoje acesso, pode ler-se que o painel daquele organismo “está confortável” com a conclusão de que a causa para as anomalias no passaporte biológico de Alarcón será “muito certamente o uso de um método proibido, ou seja, transfusão sanguínea”.
“O painel considera que o perfil [hematológico] do corredor evidencia uma grande possibilidade de manipulação sanguínea, cujo ‘timing’ reforça esta conclusão, uma vez que estas anomalias coincidem com a Volta a Portugal de 2015, 2017 e 2018”, estima o TAS.
Assim, o painel presidido pela francesa Carine Dupeyron rejeita o recurso do ciclista de 36 anos, confirmando a suspensão de quatro anos imposta pela União Ciclista Internacional (UCI), até 20 de outubro de 2023, e a anulação de todos os resultados desportivos do ex-corredor da W52-FC Porto entre 28 de julho de 2015, data do primeiro resultado ‘adverso’, e 21 de outubro de 2019, pelo que o espanhol ‘perde’ as duas Voltas a Portugal conquistadas.
Vencedor da Volta a Portugal em 2017 e 2018, Alarcón foi suspenso por quatro anos por “uso de métodos e/ou substâncias proibidas” pela UCI em 08 de maio de 2021, depois de já ter sido suspenso provisoriamente em 21 de outubro de 2019.
O espanhol, que sempre clamou a sua inocência, recorreu ao TAS, que agora ratificou a decisão do Tribunal Antidopagem da UCI, refutando, nomeadamente, a alegação de que “há vários fatores que afetam o volume do plasma e que influenciam os parâmetros hematológicos, que não estão relacionados com práticas dopantes”.
O painel do TAS refutou também outros argumentos da defesa, que insiste que o passaporte biológico do atleta não mostra “qualquer anomalia”, como “inadequação na preservação das amostras”, “falha na cadeia de custódia” das amostras ou “ausência de qualificação” dos agentes antidoping que recolheram o sangue.
Alarcón venceu a Volta a Portugal de 2017 diante de Amaro Antunes, atual bicampeão em título da prova e seu antigo companheiro na W52-FC Porto, e no ano seguinte bateu o também português Jóni Brandão, então no Sporting-Tavira.
O percurso do alicantino começou no topo, numa Saunier-Duval recheada de nomes grandes do pelotão internacional (2007), e levou-o a percorrer quase todas as equipas nacionais até encontrar um porto de abrigo na W52-FC Porto — foi ainda na anteriormente denominada W52-Quinta da Lixa que, em 2015, foi 13.º na Volta a Portugal.
Anteriormente mais voltado para as chegadas rápidas, o portento espanhol transformou-se em ‘voltista’, num salto de qualidade que o levou a ‘explodir’ na temporada de 2017, ano em que conquistou a Volta às Astúrias à frente do ‘colosso’ colombiano Nairo Quintana, antes de triunfar na Volta a Portugal, com duas etapas vencidas.
No ano seguinte, Alarcón repetiria o feito, desta vez com três triunfos em etapas, num domínio arrasador que o levou a vestir também a camisola da montanha final e a ser segundo nos pontos.
Em 2019, o espanhol falhou a prova rainha do ciclismo nacional devido a uma queda no Grande Prémio Abimota, em junho, que o impediu de alinhar, e que foi mesmo evocada na sua defesa perante a UCI.
Alarcón é o quinto corredor a perder o triunfo na Volta a Portugal por doping, depois de Marco Chagas (1979), Joaquim Agostinho (1969 e 1973), Fernando Mendes (1978) e Nuno Ribeiro, atual diretor desportivo da W52-FC Porto, em 2009.
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