John Fischer, Fish, para os amigos. Velejador de 47 anos da SHK/Scallywag, desaparecido ao largo do Cabo Horn, foi relembrado na paragem de Itajaí, Brasil, stopover que marcou o fim da 7ª e o início da 8ª etapa da Volvo Ocean Race, que acontece amanhã, 22, às 14 horas locais (18h00 em Portugal Continental).
No Centro de Eventos de Itajaí, num local bem perto do porto de navios, na Race Village (Vila da Regata), num corredor ao ar livre, ergueram-se durante mais de 15 dias as “instalações” reservadas às equipas, alinhadas frente a frente.
No retângulo de Hong Kong, nos últimos dias que antecederam a largada, cinco fotografias de dimensões consideráveis do velejador inglês foram projetadas no lado esquerdo. No lado oposto, salta à vista uma pequena fotografia, em cima de uma mesa, como um “mausoléu” coberto de mensagens dos quatro quantos do mundo escritas e coladas em post-it, assim como um livro de condolências para mais umas palavras de saudade dirigidas ao velejador inglês.
Foi através desta forma cénica que a equipa de Hong Kong decidiu homenagear John Fischer na passagem por Itajaí, sendo que a perda do carismático velejador serviu de tema de abertura da conferência de imprensa dos skippers das sete equipas que estão a dar a volta ao mundo.
Comovido perante jornalistas e restantes timoneiros das restantes equipas, David Witt, skipper do Scallywag, relembrou o amigo e companheiro de regatas, numa ode à ligação profissional e pessoal com o velejador inglês. “Começamos juntos há 12 anos. Foi sempre o primeiro a ser escolhido”, começou por dizer. “O maior elogio que posso dar ao John, é que foi o melhor velejador a trabalhar em equipa que eu já vi. Colocou sempre todos os outros em primeiro lugar”, continuou, num elogio ao altruísmo demonstrado.
“Para mim, era o meu melhor amigo”, recordou, assumindo, com tristeza, o vazio que sentirá no dia da partida. “Domingo será um pouco estranho. Será a primeira vez que eu vou para o mar sem ele em 12 anos”, relembrou.
Destacando o “apoio incrível da família Volvo Ocean Race” e a “forma como fomos apoiados pelas outras equipas”, estes nobres gestos deixariam John Fischer “muito orgulhoso”, frisou David Witt.
"A melhor coisa que podemos fazer em memória do John, é continuar em prova no domingo ... Se ele estivesse ao pé de mim agora, estava a dizer-me para seguir em frente, e é isso que vamos fazer", finalizou.
Um barco de volta à regata depois de uma corrida contra o tempo
Na etapa que chegou ao Brasil com cinco dos sete barcos participantes nesta regata à volta do mundo (Vestas e Scallywag desistiram nesta perna), seis equipas participaram na In-Port Race (regata costeira) e um barco fez uma corrida contra o tempo para largar rumo a Newport ao mesmo tempo que os demais: o da SHK/Scallywag.
Com bandeira de Hong Kong, chegou à Race Village de Itajaí na tarde de 5ª feira, vindo de Puerto Montt, no Chile. Um local para onde a tripulação se dirigiu após ter-se retirado da etapa 7 na sequência da perda de John Fischer, ficando a tarefa de “entrega” do barco no Brasil a cargo de uma equipa própria.
Depois de uns dias em que responsáveis do Boatyard (estaleiro) e as outras equipas meteram as “mãos no barco”, retirando-o de água e colocando-o no “berço” para uma verdadeira inspeção, transportando o mastro, numa luta contra os ponteiros do relógio para colocar o Scallywag na linha de partida, com um cordão de entre ajuda entre equipas à mistura, Neil Cox, responsável do Boatyard era a expressão máxima do sentimento de dever cumprido. “Precisávamos que todos se unissem para conseguir e, como era de esperar nestas circunstâncias, foi exatamente isso que aconteceu”, sublinhou.
"Estamos muito gratos pelo apoio que recebemos dos outros concorrentes e da Volvo Ocean Race", frisou David Witt. "É um verdadeiro testemunho do caráter das pessoas que participam nesta competição", concluiu.
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