O barco da Dongfeng venceu a 13.ª edição da Volvo Ocean Race. A tripulação liderada pelo skipper francês Charles Caudrelier foi a primeira a chegar a Haia, na Holanda, depois de percorridas as 700 milhas náuticas (cerca de 1260 quilómetros) e os três dias que separaram Gotemburgo (Suécia) da cidade holandesa.

Esta é a primeira vez na história da regata à volta do mundo que uma equipa com bandeira chinesa ganha. Foi o final mais disputado e emocionante de sempre. Histórico e único.

Depois da travessia atlântica de Newport (Estados Unidos da América) para Cardiff (País de Gales) e da cidade galesa para Gotemburgo, três barcos partiram da Suécia rumo a Haia lutando pelo título, algo que sucedeu pela primeira vez em 45 anos desta viagem de circum-navegação de contornos épicos.

No decurso da 11.ª etapa os espanhóis da MAPFRE e os holandeses da Team Brunel, com 65 pontos, assim como o barco sino-francês (Dongfeng), com menos um ponto, optaram por táticas diferentes na abordagem à zona de segurança na Alemanha e na Holanda (navegando entre este-oeste) que antecedia a chegada à cidade que alberga o Tribunal Internacional de Justiça. As tripulações lutaram pela vitória, palmo a palmo, sabendo que a pontuação de cada um deitava por terra o recurso aos critérios de desempate em vigor. E a opção do skipper francês Charles Caudrelier, que navegou colado à costa, revelou-se triunfal.

O MAPFRE já se sabia que chegaria como vencedor antecipado das In Port Series (regatas costeiras) e a Dongfeng tinha a vantagem de ser a equipa com menos tempo útil a velejar, 122 dias, 20 horas, 39 minutos e 14 segundos somados de Alicante a Gotemburgo (para se ter uma ideia a tripulação da Sun Hung Kai/Scallywag do português António Fontes demorou mais 10 dias).

A luta de barcos que se estendeu a uma luta de “Coroas”, o Rei Juan Carlos, Rei Emérito espanhol, que fez as honras da largada da 13ª edição da VOR em Alicante, acompanhado pela Infanta Elena, que marcou presença na etapa em Cardiff (País de Gales) e testemunhou a partida de Gotemburgo (Suécia), mostrando o apoio da família real à equipa espanhola.

Em Haia, local da residência da Casa Real holandesa, o Rei da Holanda, Willem-Alexander, esperava entregar a "coroa" ao barco de bandeira holandesa, Team Brunel e ao skipper Bouwe Bekking que já participou por oito vezes na regata embora nunca tenha ganho. 

Sem o apoio de realezas em terra, o skipper Charles Caudrelier entrou para a história da regata e colocou, pela primeira vez, um barco do "Império do Meio" no primeiro lugar do pódio. Como dado curioso, a única etapa que venceu foi a última, de Gotemburgo a Haia.

Em segundo lugar nesta autêntica luta de Match-Racing e histórico final da Volvo Ocean Race, a tripulação da AzkoNobel terminou em 2.º lugar na etapa à frente dos espanhóis da MAPFRE. Na classificação final, no entanto, os espanhóis subiram ao segundo lugar, sendo que o terceiro e último lugar do pódio foi ocupado pelo Brunel (4.º na regata).

Se a luta foi épica e renhida entre as três tripulações pelo título de “Rei dos Mares”, no fim da tabela, a batalha não foi diferente com as duas últimas equipas, o SHK / Scallywag (30 pontos), de António Fontes e o Turn the Tide on Plastic, barco com bandeira portuguesa (patrocinado pela Fundação Mirpuri e pelas Nações Unidas), de Bernardo Freitas, separados por um ponto antes de chegarem a Haia. E na sede do governo holandês, o barco português terminou (5.º), à frente da embarcação de Hong Kong. Assim, a decisão sobre a classificação final segue para a regata costeira que se disputa no dia 28.

Três velejadores portugueses, duas mortes e um recorde que fica em família no “Evereste” dos Mares

Sete barcos VO65, todos iguais (One Design), partiram a 22 de outubro de 2017 de Alicante, Espanha. Oito meses depois, Haia, na Holanda, foi a cidade que marcou o fim desta aventura oceânica levada a cabo por sete tripulações. Chega, assim, ao fim a 13.ª edição da Volvo Ocean Race.

Navegando 45 milhas náuticas (83 mil km) durante 8 meses, o mais longo percurso e um dos mais duros na história da regata, atravessando 4 oceanos e seis continentes (Europa, África, Ásia, Oceânia, América e Antártida), passando por 12 cidades (Alicante, Lisboa, Cidade do Cabo, Melbourne, Hong Kong, Guangzhou, Auckland, Itajaí, Newport, Cardiff, Gotemburgo e Haia), a edição 2017-2018 fica marcada por uma luta renhida ao longo de 11 etapas, com os espanhóis e chineses a alternarem ao longo do percurso na liderança.

Considerada o “Evereste” dos mares, a edição 2017-2018 contou com três portugueses e uma equipa com bandeira portuguesa (barco patrocinado pela Fundação Mirpuri).

Frederico Pinheiro de Melo e Bernardo Freitas dividiram ao longo das 11 etapas a presença a bordo do TTOP. A Freitas coube as honras de iniciar, em Alicante e terminar, em Haia, esta aventura portuguesa pelos mares, uma aventura que transportou uma mensagem de sensibilização pela luta contra o plástico nos oceanos.

Por outro lado, António Fontes que foi “contratado” na largada em Alicante pela equipa holandesa da AkzoNobel viria a ser recuperado pela equipa que o contratou já em Lisboa, primeira paragem da VOR.

A 13.ª edição da Volvo Ocean Race que passou mais uma vez pela capital portuguesa contou com uma nova regra que permitiu a entrada de mais mulheres a bordo. Carolijn Brouwer, velejadora holandesa que integrou a tripulação do Dongfeng e uma repetente nas travessias oceânicas, foi um dos rostos femininos em destaque, integrando o barco vencedor.

A regata ficou também marcada por dois acidentes mortais. Em Hong Kong um pescador morreu em resultado de uma colisão com a embarcação do Vestas 11th Hour Racing e na travessia dos Mares do Sul, na sétima etapa, entre Auckland (Nova Zelândia) e Itajaí (Brasil), John Fisher, velejador inglês da Sun Hung Kai/Scallywag, que participava pela primeira vez na VOR, perdeu a vida a 1400 milhas náuticas a oeste do Cabo Horn.

Fatalidades à parte, a edição da Volvo Ocean Race fica marcada também pela quebra de um recorde. Na perna transatlântica, entre Newport (EUA) e Cardiff (País de Gales) entrou para a história da Volvo Ocean Race com quebras de milhas percorridas em 24 horas, com seis das sete equipes a superaram a melhor marca para um barco modelo VO65.

O destaque vai para a tripulação da AkzoNobel, que durante a disputa da nona etapa da Volvo Ocean Race, no Atlântico, conseguiu percorrer 601,63 milhas náuticas em um dia. Um recorde que estava nas mãos do Ericsson 4, em 2008-2009, barco comandado pelo brasileiro Torben Grael, pai de Martine Grael (que integra a AkzoNobel), com 596 milhas náuticas, velejadora que, assim, "rouba" o recorde do pai.

O SAPO24 viajou até Haia a convite da Volvo Ocean Race.