Menos de 24 horas depois de ter subido ao degrau mais baixo do pódio da ‘corsa rosa’, em Roma, ao lado do esloveno Primoz Roglic (Jumbo-Visma), o vencedor, e do seu ‘vice’, o britânico Geraint Thomas (INEOS), o ciclista português da UAE Emirates chegava ao Aeroporto Humberto Delgado, onde uma ‘multidão’ de jornalistas o aguardava, numa ‘plateia’ que incluía ainda alguns adeptos, com e sem bigode, e o presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, Delmino Pereira.

Após umas palavras de circunstâncias à chegada, Almeida, aparentemente ainda ensonado, ‘enfrentou’ uma conferência de imprensa, na qual repassou a sua aventura italiana e confessou que viveu “um grande Giro”.

“Principalmente a vitória da etapa foi muito importante”, revelou o corredor de 24 anos, que também venceu a 16.ª tirada do Giro, no alto do Monte Bondone, e que trouxe ainda para casa a camisola branca que distingue o melhor jovem da Volta a Itália.

Não ficariam por aí as revelações de Almeida, que com as suas costumeiras respostas sucintas foi desvendando sensações que teve durante a ‘corsa rosa’, prova na qual nunca esteve abaixo do quinto lugar na geral, um facto que o levou a constatar que “a regularidade” é a sua “vantagem em relação aos adversários”.

“No dia em que ganhei a etapa, claramente pensei que havia a possibilidade de trazer a [camisola] rosa, mas nas etapas seguintes, que eram muito duras e em que os adversários estavam muito fortes, percebi que seria muito difícil. Lutei até ao último centímetro e fiquei muito feliz com o resultado”, declarou.

O campeão nacional de fundo garantiu que, “no geral, não mudava nada” no seu percurso no Giro, porque fez “tudo o que conseguiu”, ‘responsabilizando’ o trabalho, e o “treinar muito e estar focado num objetivo”, pelo seu sucesso.

Agora, Almeida vai ter um período de descanso e, só depois, definirá objetivos para o que resta da temporada. Ainda assim, não esconde que gostaria de estar nos Mundiais de Glasgow (03-13 agosto), a representar Portugal, e na Volta a Espanha, agendada entre 26 de agosto e 17 de setembro, “para discutir a corrida”. “Se puder fazer pódio, ainda melhor”, acrescentou o quinto classificado da última edição da ‘grande’ espanhola.

Alcançado o seu primeiro pódio, o jovem de A-dos-Francos não esconde que quer mais, mas pede “tempo”, alertando que a evolução de um ciclista “demora algum tempo”, mas prometendo que vai tentar ganhar uma grande Volta.

“Vou continuar a fazer o meu melhor. Se ganhar, ganhei. Se não ganhar, não ganhei. Nos próximos anos, logo teremos uma resposta”, rematou.

A ambição de Almeida passa agora pela presença na Volta a França de 2024, um objetivo declarado que não se tem cansado de repetir e que, hoje, o levou a ser mais veemente do que o habitual: “Acho que a equipa deixa fazer o que eu quiser. Se eu quiser fazer a Volta a França, faço a Volta a França. Se não quiser fazer, não faço”.

Para o vencedor da classificação da juventude do Giro, prova que até liderou durante 15 dias em 2020, estar no Tour permitir-lhe-ia crescer enquanto ciclista, embora tenha a noção de que poderia ter de trabalhar para o seu colega esloveno Tadej Pogacar, bicampeão da ‘Grande Boucle’ (2020 e 2021) e ‘vice’ da passada edição.

“É tudo uma questão de situação de corrida. Claramente ele é um ciclista que está um nível acima de mim – ou dois, quem sabe. Para mim, seria um orgulho e um prazer trabalhar para ele, mas há sempre situações de corrida em que é favorável ter dois líderes”, notou.

Almeida explicou ainda a história que deu origem ao famoso bigode com que correu esta Volta a Itália, que terminou no domingo em Roma.

“Quando fiz a última preparação na Serra Nevada, de três semanas, estava com os meus companheiros [da UAE Emirates] e um dia decidimos deixar só o bigode. Dissemos ‘é só até à corrida, depois tiramos’. Depois, não tirei, e ficou o bigode. […] Claramente que, se calhar, chego a casa e corto o bigode”, concluiu, entre risos.