O alargamento do euro a todos os países da União Europeia “está demorado”, mas é um processo “democrático”, feito a partir de Estados soberanos, que, portanto, “leva tempo” e exige preparação prévia, recordou Mário Centeno, orador na conferência de encerramento da primeira edição das Conferências Ulisses 2018, comissariadas pelo historiador Rui Tavares, que hoje decorreram no Centro Cultural de Belém.
"Democracia Europeia: uma ideia cujo tempo chegou?" foi a pergunta de partida para um debate que contou com outros três oradores: o professor e investigador alemão Jan-Werner Müller, o ex-presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz e Rui Tavares.
Reconhecendo que “uma bicicleta parada não funciona” – em analogia à moeda comum europeia –, Mário Centeno vestiu a pele de “otimista de serviço” para sublinhar que “da impaciência ao populismo vai um passo muito curto” e que o euro “pode fazer muito” pela democracia.
Não há, portanto, “receitas fáceis”, mas de uma coisa Centeno está certo: “O euro é hoje a prova mais tangível do que é a integração europeia.”
Recordando que, de acordo com uma sondagem Eurobarómetro, 74% dos europeus aprovam a moeda única, Centeno acredita que este é “um momento muito interessante, que deve ser utilizado para melhorar e não para divisões apocalípticas”.
Considerando que “o desalinhamento entre ciclos políticos é uma das maiores barreiras à tomada de decisões europeia”, Centeno frisa que a Europa é hoje “muito mais forte” do que há cinco anos. Falta agora, afirmou, “completar a união bancária”, ou seja, “tornar os bancos mais resistentes”, e também a união do mercado de capitais, assegurando “fontes de financiamento para as empresas mais alargadas”.
Na opinião do ex-eurodeputado Rui Tavares, “a Zona Euro não pode ser só uma moeda”, por isso, propôs a criação de “uma Carta Democrática”, a assinar na adesão ao euro.
O Eurogrupo, que reúne os ministros das Finanças dos países do euro, “não pode ser só um clube económico”, mas “um clube reforçado de valores democráticos”, sustentou, considerando que “a crise do euro”, que “toda a gente entende que tem de ser reformado”, representa “uma oportunidade”.
Já Martin Schulz apostou: “As pessoas gostam de dinheiro, sobretudo se tiverem mais e mais, mas não amam uma moeda, ninguém ama o euro.”
Portanto, para o ex-presidente do Parlamento Europeu e político alemão, “a questão chave é voltar a mobilizar as pessoas em torno da ideia de Europa”, que envolve democracia, respeito mútuo e direitos e liberdades individuais, sem discriminações.
“Temos de discutir ideias, conteúdos… ninguém ama instituições. Temos de focar nas coisas que temos em comum em vez de insistirmos nas diferenças”, defendeu.
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