“[…] a verdade é que o quarto trimestre apresenta alguma ambiguidade, que provavelmente desaparecerá no trimestre seguinte”, lê-se na nota de conjuntura de novembro do Fórum para a Competitividade, hoje divulgada, segundo a qual a “evolução um pouco surpreendente do consumo privado” no terceiro trimestre – que acelerou de 0,7% para 1,1% em cadeia, apesar do aumento dos preços e da forte queda dos salários em termos reais — “sugere, por um lado, que a taxa de poupança está em queda e, por outro, que não será sustentável”.
De acordo com o Fórum, “os chamados indicadores ‘soft’, como os de confiança, apresentaram uma degradação, com uma apenas aparente recuperação em novembro”.
“Já os escassos indicadores ‘hard’ estão quase todos em queda, com a significativa exceção das vendas de veículos ligeiros de passageiros, sendo de notar que o consumo privado tem mostrado uma surpreendente resiliência, com o consumo de bens duradouros a acelerar de 1,9% para 2,1% em cadeia, do segundo para o terceiro trimestre”, acrescenta.
Para além destes dados, o Fórum aponta a “informação complementar do pacote de ajuda às famílias, entregue em outubro, que terá distribuído cerca de 730 milhões de euros aos trabalhadores e cerca de mil milhões aos pensionistas” e que poderá contrariar, “em parte”, o “efeito geral de desaceleração” previsto para o quarto trimestre.
“Parece que a generalidade dos reformados percebeu que se trata de um adiantamento do aumento do próximo ano, para além de terem tomado consciência de que as suas pensões irão sofrer perdas, pelo que existe a probabilidade de parte do que vão receber seja poupado para poder fazer face às despesas do próximo ano”, refere.
“Tudo isto — considera – torna a evolução do quarto trimestre incerta, embora seja quase seguro que se seguirá uma deterioração nos trimestres seguintes”.
Para 2023, o Fórum para a Competitividade aponta como “provável uma nova queda dos salários reais, com a subida dos salários nominais a não conseguir acompanhar a subida dos preços”, considerando que “aquela quebra, associada a uma também provável queda do emprego, deverá contribuir para uma grande moderação do consumo privado, que tem mostrado um dinamismo surpreendente e pouco sustentável”.
“As perspetivas para o investimento só podem ser negativas, dada a evolução esperada da procura, da subida das taxas de juro e dos diferenciais de crédito”, sustenta.
Em relação às exportações, o Fórum diz estarem “muito condicionadas pelo enquadramento externo debilitado e pelo facto de a recuperação do turismo estar concluída, perdendo-se este elemento adicional de crescimento”.
“Em resumo, o ano de 2023 está rodeado de uma elevada incerteza, que tanto se pode traduzir numa recessão na economia portuguesa como num crescimento muito modesto”, conclui.
No atual contexto de forte subida de preços e de escalada de taxas de juro, o Fórum da Competitividade alerta ainda que “os atrasos na execução do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] deverão ser particularmente prejudiciais”, salientando que “os fundos estão fixos em termos nominais, pelo que quanto mais tarde forem executados menos investimento financiarão”.
Liderado pelo empresário Pedro Ferraz da Costa, o Fórum para a Competitividade assume-se como “uma instituição ativa na promoção do aumento da competitividade de Portugal, através de estímulos ao desenvolvimento da produtividade nas empresas”.
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