A informação consta de um comunicado do Banco de Poupança e Crédito (BPC) enviado hoje à agência Lusa, em Luanda, sobre a realização, na sexta-feira, da assembleia-geral de acionistas da instituição, para analisar e aprovar o relatório e contas referente ao exercício de 2017 e o Plano Estratégico para o quinquénio 2018-2022.

De acordo com a informação disponibilizada, o BPC registou um Produto Bancário positivo de 50.900 milhões de kwanzas em 2017, mas o resultado líquido do exercício foi negativo em 73.100 milhões de kwanzas (395 milhões de euros à taxa de câmbio de 31 de dezembro último).

O resultado, afirma a instituição, é “decorrente em grande medida do reconhecimento de imparidades de créditos concedidos nos anos anteriores, dos elevados custos das tomadas de liquidez no mercado monetário”, mas também “dos efeitos de ajustamentos de transição para as Normas Internacionais de Contabilidade e de Relato Financeiro (IAS/IFRS)”.

A atividade do BPC foi ainda marcada por uma “evolução mais moderada” dos seus ativos, de 9,5%, e por uma redução dos depósitos de clientes de 2,1% face ao ano anterior.

A Lusa tinha já noticiado este mês que o BPC registou em 2017 um buraco de 5.200 milhões de dólares (4.300 milhões de euros), essencialmente devido ao crédito malparado, o segundo pior registo da história da banca em Angola.

Os dados constam do prospeto da emissão de ‘eurobonds’ de 3.000 milhões de dólares (2.500 milhões de euros), a 10 e 30 anos e com juros acima dos 8,2% ao ano – concretizada pelo Estado angolano este mês -, que foi enviado aos investidores e ao qual a Lusa teve acesso.

No documento é referido que em dezembro de 2017, o BPC tinha aproximadamente 874 mil milhões de kwanzas (5.200 milhões de dólares) de ativos com baixo desempenho e em incumprimento.

No mesmo mês, o Estado angolano já tinha emitido títulos de dívida pública no valor de 231 mil milhões de kwanzas (1.080 milhões de euros) a favor da sociedade estatal Recredit, para compra de valor equivalente de crédito malparado do BPC, que tentará depois cobrar.

Segundo a informação de hoje do BPC, o processo de saneamento da carteira de crédito, iniciado em 2017 com a Recredit, deverá estar concluído até final deste ano.

O Estado angolano é acionista do BPC, através do Ministério das Finanças (75%), do Instituto Nacional de Segurança Social (15%) e da Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas (10%), que suportaram em 2017, na proporção da sua participação, o financiamento do aumento de capital do banco, no âmbito do processo de reestruturação em curso.

Em 2014, um volume de crédito malparado superior a 5.700 milhões de dólares (4.755 milhões de euros) obrigou à intervenção do Estado no Banco Espírito Santo Angola (BESA), constituindo este o maior buraco da banca do país. Após o colapso da BES português, o BESA foi transformado, por decisão dos novos acionistas e conforme exigência do banco central angolano, em Banco Económico, a 29 de outubro de 2014, avançando também um aumento de capital e a entrada da petrolífera Sonangol no capital social (39,4%).

Em 2017, a administração do BPC constituiu 72,7 mil milhões de kwanzas (392,2 milhões de euros) para “imparidades e provisões” do exercício de 2016, refletindo nas contas uma perda potencial ou efetiva de quase 400 milhões de euros em créditos concedidos anteriormente.

“Esta iniciativa será reforçada em 2017, com o intuito de assegurar o saneamento efetivo da carteira de crédito do banco e atingir um rácio de transformação abaixo dos 70,0%”, anunciou ainda a administração do BPC, na altura.

Esta medida foi então acompanhada de um reforço dos fundos próprios do banco pelos acionistas, em 26,9%, face a 2015, passando para 171,9 mil milhões de kwanzas (927,4 milhões de euros).

Em 2015, o BPC tinha 406 agências em todo o país, com 5.354 trabalhadores, números que subiram, respetivamente, para 443 e 5.530 até final do ano seguinte. Entretanto, a instituição iniciou um processo de redução do número de agências em todo o país.

“O banco vive um momento muito particular da sua história. Queremos sanear e reestruturar o BPC. Vamos fazê-lo para que o banco sirva convenientemente o Estado, seu único acionista”, disse anteriormente o ministro das Finanças, Archer Mangueira.