As declarações foram feitas aos jornalistas portugueses, depois da cerimónia de “passagem de testemunho” do Eurogrupo, que decorreu na embaixada de Portugal em Paris, em que recebeu a pasta de presidente do Eurogrupo do holandês Jeroen Dijsselbloem.
“É muito motivante aquilo que nos espera nos próximos dois anos e meio, mostraremos todo o empenho no processo de construção de uma Europa mais robusta e mais resistente a crises que é aquilo que os decisores políticos têm como obrigação fazer para com os seus cidadãos, numa relação transparente e que traga previsibilidade à vida de todos nós”, afirmou.
Mário Centeno sublinhou que se está perante uma “janela de oportunidade para progredir na construção europeia”, graças a uma dimensão política, nomeadamente ao “início de ciclos políticos muito relevantes em vários países da Europa” e às atuais “boas condições económicas” na Europa.
“A outra dimensão é a económica, pelas boas condições económicas que nós temos na Europa: crescimento económico acima de 1,5% para todos os países, uma posição orçamental equilibrada no conjunto da área, com melhorias muito significativas também transversalmente a todos os países e com uma posição de poupança líquida e uma posição externa muito favorável para a Europa”, explicou.
O novo presidente do Eurogrupo acrescentou que os “marcos muito importantes” que a Zona Euro tem pela frente passam pela conclusão da união bancária, da união do mercado de capitais e de “uma capacidade orçamental para a união que promova o investimento e que promova a estabilidade e que funcione como mecanismo de estabilização”.
“Integração financeira na área do euro” é o desafio
“O que temos de conseguir e garantir é que o resultado dessas reformas conjuntas beneficie de uma estabilidade financeira e de uma integração financeira na área do euro que hoje ainda é incompleta e incipiente e é esse o desafio”, afirmou, recordando que “a Europa enfrentou uma crise muito séria” e que “os estados membros da zona do euro promoveram reformas”, nomeadamente Portugal.
“O Governo português nos últimos dois anos tem promovido essas reformas na área financeira, na área das qualificações. São reformas que têm que se manter”, continuou, acrescentando que é preciso “juntar as vontades nacionais porque a área do euro é um conjunto de estados soberanos àquilo que é a necessidade institucional de construir uma área mais forte”.
Dotar a união económica e monetária de um orçamento próprio “é um debate longo” que Centeno se compromete a ter “com todos”, com o objetivo de “criar consensos e que esses consensos sejam equilibrados face às partes”.
“Iniciámos já há bastante tempo uma discussão sobre as regras orçamentais, a sua transparência, a sua previsibilidade, a capacidade de serem entendidas pelos cidadãos. E, neste momento, devemos continuar essa discussão e essa é a vontade que eu tenho recebido de todos os lados, numa dimensão adicional que é saber se uma união económica e monetária deve ou não deve ter uma capacidade orçamental autónoma”, explicou.
Portugal tem imenso a ganhar com superação de desafios no Eurogrupo, diz Centeno
“Portugal tem, obviamente, imenso a ganhar – como todos os outros países – da superação destes desafios que agora enfrentamos e vamos dar o nosso melhor”, afirmou Mário Centeno, depois de sublinhar que “é preciso estar preparado” para o cargo.
O ministro português disse que “toma este desafio presente” de liderar o Eurogrupo “como algo muito sério”, para o qual tem “uma grande motivação” e “uma equipa muito diligente e eficiente quer em Portugal quer enquanto presidente do Eurogrupo”.
“É preciso estar preparado e aquilo que posso neste momento, de forma muito simples referir, é que creio que fiz essa preparação, tenho um trabalho que todos podem avaliar como ministro das Finanças de Portugal. Neste momento, empresta-se um pouco dessa preparação a esta questão da presidência do Eurogrupo que é muito relevante também para Portugal”, acrescentou.
Numa “passagem de testemunho” realizada em Paris – justificada pela concertação de agendas dos dois ministros - Centeno destacou que “a posição de Emmanuel Macron [presidente francês] é muito importante numa posição de liderança na Europa” e que se deve “alavancar nessa ambição para promover um processo de reformas a nível europeu que permita tornar a zona do euro robusta e resiliente a crises”.
Antes da conferência de imprensa com os jornalistas portugueses, Mário Centeno recebeu “o sino da zona euro” das mãos do holandês Jeroen Dijsselbloem e afirmou que é preciso “estar ciente” dos “desafios que têm de ser enfrentados”. Jeroen Dijsselbloem destacou, por sua vez, o “forte apoio no Eurogrupo” que o português tem e disse estar “feliz” por lhe transferir a pasta.
Esta tarde, Mário Centeno vai ao ministério francês da Economia e das Finanças para uma reunião com o seu homólogo Bruno Le Maire.
Esta quinta-feira, o ministro português foi recebido pelo presidente francês, Emmanuel Macron, no Palácio do Eliseu, e depois deslocou-se ao palácio de Matignon para uma reunião com o primeiro-ministro francês, Édouard Philippe.
No dia 22 decorre a primeira reunião do Eurogrupo sob a presidência de Mário Centeno.
Juncker diz que “foi sábio” escolher alguém do Sul para presidir ao Eurogrupo
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse hoje que “foi sábio nomear alguém que vem da Europa do Sul” para presidir ao Eurogrupo, e escusou-se a dar conselhos a Mário Centeno, com quem tem previsto encontrar-se “em breve”.
Numa conferência de imprensa em Sófia, por ocasião do lançamento da presidência semestral búlgara do Conselho da União Europeia, sensivelmente na mesma altura em que, em Paris, Mário Centeno recebia a “pasta” do seu antecessor, o holandês Jeroen Dijsselbloem, o presidente da Comissão saudou “o novo presidente do Eurogrupo” e congratulou-se por agora ter sido escolhido um ministro do Sul, “o que não se deve confundir com o Club Mediterranée”, ao contrário do que pensam “alguns ortodoxos do Norte da Europa”.
Apontando que não gosta de “dar conselhos”, Juncker sublinhou que Centeno “será o terceiro presidente permanente do Eurogrupo”, e irá encontrar-se, em breve, com aquele que “foi o primeiro”, referindo-se a si próprio (o luxemburguês assumiu a presidência do fórum informal de ministros das Finanças da zona euro entre 2005 e 2013, dando então lugar a Dijsselbloem).
Fontes europeias indicaram à Lusa que o encontro ainda não tem data fixada, sendo que Centeno se desloca a Bruxelas em 22 de janeiro para presidir nesse dia à sua primeira reunião do Eurogrupo.
(Notícia atualizada às 13h39)
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