"O país não pode levar a sério nem um primeiro-ministro, nem um Governo que falseia a realidade", afirmou o presidente social-democrata, Pedro Passos Coelho, durante o debate quinzenal com o primeiro-ministro na Assembleia da República.
Sublinhando que basta olhar para os dados de qualquer fonte credível sobre os juros que Portugal está a pagar a 10 anos para se ver que "não estão a correr bem", ao contrário do que o primeiro-ministro diz, Passos Coelho recusou a justificação utilizada por António Costa da herança deixada pelo anterior executivo de maioria PSD/CDS-PP.
"Desgraça é herdar um pedido de resgate do país como nós tivemos. Não vale a pena queixar-se muito da herança que recebeu porque foi o senhor que a quis agarrar", sublinhou.
Antes, António Costa tinha atribuído a evolução das taxas de juro da República ao longo de 2016 sobretudo à forma como foi gerida toda a consolidação do sistema financeiro pelo anterior Governo.
"O senhor deputado sabe bem o que quero dizer", disse, dirigindo-se a Passos Coelho.
"Quando quiser comparar situação do país e da banca entre 2011 e 2015 tenho muito prazer em fazer esse debate consigo", retorquiu o líder do PSD, que questionou António Costa sobre quando fará a recapitalização da Caixa Geral de Depósitos, pergunta que ficou sem resposta.
No dia da entrega da proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2017, tema que esteve ausente nas perguntas de Passos Coelho, a intervenção do líder do PSD ficou também marcada pelas interpelações ao primeiro-ministro sobre as "modestas perspetivas de crescimento da economia portuguesa em 2016", com Passos Coelho a pedir para António Costa explicar qual tem sido "o motor de travagem da economia".
"Já depois do último debate quinzenal (…), afirmou que infelizmente talvez a economia portuguesa não cresça este ano muito mais do que 1%, talvez um bocadinho mais do que 1%, mas não muito mais do que 1%, sendo que o Governo tinha uma meta de 1,8", recordou o líder do PSD, notando que até hoje, o crescimento que pode ser medido representou 0,9%.
Na resposta, António Costa argumentou que aquilo que é previsível acontecer na economia portuguesa está "perfeitamente em linha com as previsões que o Fundo Monetário Internacional fez de revisão em baixa do crescimento das economias desenvolvidas".
Além disso, acrescentou, não obstante o menor crescimento, há uma redução sustentada da taxa de desemprego de níveis superiores a 12% para níveis próximos dos 10%.
"Apesar do crescimento ser menor, estamos a cumprir o principal objetivo da nossa política económica, que era emprego, emprego, emprego. Hoje temos menos desemprego e mais emprego", sustentou, aludindo ainda ao facto de, "ao contrário do que tem sido ficcionado", o investimento aumentou e Portugal conseguirá este ano cumprir as metas do défice.
Passos Coelho não se mostrou, contudo, satisfeito com a resposta, insistindo em perguntar ao primeiro-ministro sobre "o que correu mal".
"Eu respondi, o senhor não gostou foi da resposta", replicou o primeiro-ministro, acusando Passos Coelho de ter adotado uma estratégia em que o seu sucesso depende do insucesso do país".
"O desemprego não é indicador avançado da economia", insistiu o líder do PSD, considerando que António Costa "não sabe responder ou não quer responder" à pergunta sobre os motivos de um menor crescimento da economia face às previsões do Governo.
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