Num discurso numa reunião do Conselho Estratégico Empresarial de Sintra, na Adega Regional de Colares, em Sintra, Pedro Nuno Santos fez uma análise genérica da situação da economia portuguesa para salientar que os resultados apresentados pelo anterior Governo do PS “deviam ser celebrados” e servir de “ensinamento para o futuro”.
Com o presidente da Câmara Municipal de Sintra, Basílio Horta, e o presidente do Conselho Estratégico Empresarial de Sintra, António Pires de Lima, Pedro Nuno Santos referiu que, entre 2015 e 2023, a média de crescimento do PIB passou para 2,2% – quando comparado com 0,2% entre 2000 e 2015 – e salientou que o país conseguiu “superar o défice crónico” que fazia com que, quando a economia crescia, “vinha logo défice externo”.
O secretário-geral do PS defendeu assim que é “muito importante” que, no debate político, se olhe para o país “com mais orgulho”, “mais gosto e mais respeito” pelos próprios cidadãos: “pelos trabalhadores, pelos empresários e pelos políticos também”.
Apesar disso, Pedro Nuno Santos defendeu que a economia portuguesa ainda não “produz o valor acrescentado” ambicionado, “não tem uma estrutura complexa, diversificada” e “há um desencontro entre o nível de qualificação da população e dos jovens e o tipo de economia”.
“Este é o maior desafio: a transformação do perfil de especialização da economia portuguesa é o desafio número um dos portugueses”, disse, antes de defender que essa transformação é crucial para garantir melhores salários e garantir que os jovens ficam em Portugal.
Assumindo que há várias divergências em termos ideológicos sobre a estratégia a adotar, Pedro Nuno Santos defendeu que, na sua visão, a única maneira de transformar a economia portuguesa é adotando uma política seletiva de incentivos a setores estratégicos, e não “baixar o IRC”.
“Nós só conseguimos transformar uma economia a sério, se nós formos capazes de aplicar os recursos que são escassos nos setores com maior potencial de arrastamento do resto da economia”, defendeu.
O líder do PS lamentou que Portugal tenha “um sistema de incentivos que não é seletivo”, o que faz com que, “o poder de fogo distribuído de forma pulverizada, não vai ter capacidade de transformar nada”, notando que uma das exceções ocorreu durante um Governo de Aníbal Cavaco Silva.
Pedro Nuno Santos salientou que, em 1984, quando o antigo primeiro-ministro do PSD governava, foi encomendado ao economista norte-americano Michael Porter um estudo, chamado de “relatório Porter”, que identificou, “com a academia e associais empresariais” os setores em que o Estado devia apostar.
Michael Porter “disse que era no têxtil, vestuário, calçado, vinho, mobiliário [que se devia investir]. (…) O que é que aconteceu? Alguma coisa ficou desse trabalho e, nesses setores, nós somos dos melhores do mundo”, elogiou.
Pedro Nuno Santos considerou assim que Portugal deve voltar a ter a capacidade de, “envolvendo a academia, o setor empresarial”, identificar os setores, as tecnologias, com maior capacidade de arrastamento da economia.
“Não deve ser o político, nem o ministro, nem o primeiro-ministro a decidir no gabinete: deve ser este debate público, participado”, afirmou, vendo “potencial de arrastamento” no setor metalomecânico, assim como no setor da saúde ou do hidrogénio verde.
Para Pedro Nuno Santos, o “Estado tem um papel muito importante a desempenhar como empreendedor”.
“Carregarmos mais esta vertente vertical da nossa política industrial, ou económica, é fundamental para nós nos conseguirmos desenvolver e dar o salto. A transformação está a acontecer lentamente, ela podia acontecer mais rapidamente se nós fossemos capazes de, enquanto país e sociedade, pudéssemos perceber onde é que nós podemos pôr os nossos escassos recursos públicos”, disse.
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