“No verão, temos de conquistar as pessoas, mostrar-lhes que o produto é bom e de qualidade. Se não fosse assim, ainda vendíamos menos”, explica, à agência Lusa, Anabela Mendes, que trabalha numa das lojas do Centro Comercial da Torre.
Além de Anabela Mendes, estão ao serviço Sérgio Branquinho e Rafael Pinto, neste domingo, ainda em julho. São três funcionários, mas seriam seis ou sete, se este fosse um fim de semana de inverno.
“Somos menos porque também temos muito menos gente. Aqui já sabemos que é assim, é preciso poupar no inverno para se viver no verão”, afirma Sérgio Branquinho, numa ideia que é repetida pelos outros comerciantes estabelecidos na Serra da Estrela.
Na “montanha dos contrastes” já todos se habituaram a que a chegada do calor se traduza num negócio que oscila entre “fraco”, “parado” ou “mau”.
Longe dos dias de neve que atrai milhares e milhares de pessoas, os comerciantes desdobram-se em atenções para os poucos clientes que se abeiram do balcão e anseiam pela chegada dos emigrantes, que normalmente são quem ajuda a equilibrar as vendas nesta época.
“Ainda é o que nos vai valendo”, aponta Manuel Gouveia, que trabalha noutra das lojas do Centro Comercial da Torre e que também recebe os clientes com a prova de produtos.
Fernando Gomes, Emanuel Pinto e Nuno Martins, ciclistas do norte do País que acabaram de fazer o percurso entre o Fundão e o topo da montanha, aceitam o bolo doce e a prova de chouriço, comprando depois uma sandes de presunto e uma bebida para recuperarem a energia.
Não fizeram mais compras, apesar de estarem num centro comercial onde cada loja parece ter um pouco de tudo, do queijo ao presunto, aos licores, ao mel e ao azeite, passando pelas t-shirts, pelos ímanes, pelos postais, pelos paliteiros ou pelos porta-chaves, entre tantas outras coisas.
Não faltam também os tradicionais chinelos de inverno, as pantufas de pelo e os casacos de pele, numa oferta que parece desajustada à estação do ano, mas que tem procura.
“Ficam para usar no inverno e não deixam de ser uma recordação de que aqui estivemos”, explicou Nuno Lopes, que, no regresso a Arruda dos Vinhos levará um saco com os chinelos que a mulher e os filhos escolheram nesta visita de fim de semana.
Natural de Vila Nova de Tazem, Gouveia, mas a residir na Suíça, Orlando Carvalho também aproveitou a manhã de domingo para mostrar o sítio mais alto da serra onde cresceu à mulher (eslovaca), aos filhos e aos amigos suíços, que com eles passam férias.
Pelo caminho, pararam na zona da Lagoa Comprida e aproveitaram para passar na Casa da Lagoa, onde compraram “bebidas para refrescar” e “mais duas ou três coisas”.
Foram atendidos por Pedro Miguel, que também se queixa do “fraco movimento”, reivindicando uma maior promoção dos “encantos naturais da Serra da Estrela”, que no verão se apresentam com outras cores e outras roupagens.
José Oliveira, que tem um espaço comercial na aldeia do Sabugueiro, também gostava que essa componente fosse mais dinamizada, talvez assim não tivesse momentos em que até dá para pensar que os clientes “tiraram folga”.
“A partir de abril, o negócio cai a pique. Chega um cliente agora, outro depois, mas a discrepância em relação aos meses de neve é enorme”, referiu.
Com um restaurante no andar de cima, Olinda Oliveira está mais otimista do que o irmão, já que tem sentido melhorias a nível dos fins de semana de julho e agosto.
Ao contrário do que viveu no verão de 2011, em que mesmo ao fim de semana não tinha mais do que “dois, três casais” na sala, este ano já teve domingos com cerca de meia centena de clientes.
Um número “bom” para a época, mas que continua muito longe das 300 refeições que o restaurante chega a servir num fim de semana em que a Serra da Estrela esteja vestida de branco.
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