Primeiro quadro: do voto dos cidadãos europeus sai um parlamento que tem, em Bruxelas e Estrasburgo, composição no essencial semelhante à que tem funcionado até hoje, com maioria absoluta do conjunto das duas maiores famílias políticas tradicionais (a conservadora PPE e a social-democrata S&D) na Europa. É altamente improvável. As duas famílias políticas dominantes, com Merkel, Juncker, Costa, Sanchez e outros estarão certamente obrigadas a negociar com outras.

Segundo quadro: os partidos soberanistas, antieuropeus (o de Le Pen em França, a Liga de Salvini em Itália, o Vox em Espanha e outras extremas em vários países) conseguem votação que supera em muito as atuais previsões. A União entraria em grande turbulência, em processo de destruição por dentro. A alta tão robusta destas forças seria uma total surpresa. Não parece que vá acontecer.

Terceiro quadro: as duas famílias políticas tradicionalmente dominantes (PPE e S&D) continuam a ser as duas principais mas o seu conjunto deixa de ter a maioria absoluta que sempre conseguiu. É o cenário mais provável. Muito provável. Neste caso, o eixo político que tem funcionado vai ter de procurar alargar-se em alianças, provavelmente com os Liberais (ALDE) e ou os Verdes.

Este terceiro quadro coincide com os dados integrados no vasto estudo da Unidade de Acompanhamento da Opinião Pública do Parlamento Europeu, em colaboração com a Kantar Public, que analisa as perspetivas eleitorais a partir das tendências em cada país. Até às eleições, entre 23 e 26 de maio, estará disponível a atualização destes dados.

Tem sido analisado nos últimos dias a tendência apontada para Portugal na projeção divulgada em 1 de março: o PS a subir de oito para dez eurodeputados, o PSD a manter cinco, o PP e o BE, ambos, em subida de um para dois deputados e a CDU a cair de três para apenas um eleito.

É sabido que estudos como este limitam-se a sinalizar tendências num dado momento. São fotografias, sem alta definição. Mas valem como base para ancorar o acompanhamento e entendimento do que está a acontecer nestas cruciais semanas de campanha para eleições na Europa.

Um principal centro de interesse é Espanha – que, aliás, tem, antes das europeias, já em 28 de abril, eleições gerais antecipadas. Este estudo europeu, tal como aliás várias sondagens, mostra os socialistas do PSOE em alta (26,8%, 18 deputados), seguido pelo PP (20%, 13 deputados). O Ciudadanos (17,3%, 11 deputados) perde na luta pelo segundo lugar mas ganha ao Unidos Podemos (13,9%, 9 deputados). A grande novidade é a erupção dos soberanistas do Vox, com nutrida presença: 11,1%, 7 deputados.

Outro alvo principal de atenções nestas eleições europeias é Itália, em cenário de terramoto político. A Forza Itália (PPE) de Berlusconi e o Partido Democratico (em contínua procura, de eleitores e de liderança, agora com Zingaretti) têm anunciada queda brutal. O grande ganhador é o nacionalista e muito antissistema Matteo Salvini que, com 33% das intenções de voto tende a fazer eleger 28 deputados, o que a acontecer vai converter a Lega em um dos maiores partidos no Parlamento Europeu. Os aliados populistas do Cinco Estrelas completam a reviravolta soberanista em Itália com 24,3% e 21 deputados.

Em França, vê-se duelo cerrado entre Macron e Le Pen. No primeiro destes estudos de um gabinete do Parlamento Europeu, a meio de fevereiro, o RN (Rassemblement National, nova expressão da Frente Nacional) de Le Pen, com 21 deputados tinha vantagem tangencial sobre a République en Marche, de Macron, com 20 eleitos. À entrada neste março, Macron passa para a frente (24-19). Tudo parece muito volátil na escolha dos franceses, com velhos partidos como o PS e o RPR destroçados.

Na Alemanha, a CDU/CSU de Merkel, com 34 deputados lidera. É também o maior partido no Parlamento Europeu. Os Verdes (20 deputados) conseguem a proeza de ultrapassar o SPD (18). Os ultras da AfD dão 10 deputados ao grupo da extrema-direita.

Na Hungria, o Fidesz, de Viktor Orbán, tem prometidos 13 dos 21 eurodeputados que a Hungria tem para eleger. É o ponta de lança do movimento contra a solidariedade europeia que é pilar da União Europeia. O governo húngaro, liderado por Orbán, recebe os fundos da União mas não retribui com o respeito pelos compromissos da União. Mais: numa atmosfera política de racismo e antisemitismo, promove alterações da legislação que visam o controlo político do sistema judicial e ameaçam a liberdade de imprensa. É um regime que põe muros e arame farpado a barrar a entrada de migrantes. Este Fidesz da Hungria, em aliança com a Lega de Itália, é a casa das máquinas da locomotiva que puxa por dentro da Europa contra a Europa. Estamos num período em que não há qualquer stock de certezas.

Nem sequer se sabe ainda se os britânicos poderão ou não votar e eleger deputados. Tudo depende da evolução do Brexit, também em alta incerteza.

Em maio perceberemos se a Europa pode avançar ou se vai precipitar-se em maior indefinição e caos. É mesmo uma eleição crucial.

A VER:

Ainda o macabro assassinato de Jamal Khasshoggi. A reconstituição jornalística deste muito planeado crime conduzida por jornalistas do The New York Times.

Yannis Berhakis é um grande fotojornalista. Tratou de garantir, com coragem e com arte, que não tivéssemos a desculpa de dizer “eu não sabia”. Escapou a emboscadas que tiraram a vida, ao lado dele, a companheiros de ofício. O cancro levou-o, agora, aos 58 anos.

Imagens que ficam da semana que passou.

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