No mundo da comunicação, nunca deixo de pensar nele nestes momentos mais vibrantes da política, do jornalismo, da vida em rede, porque me lembro dos seus ensinamentos e das suas ideias. O lamentável episódio José Rodrigues dos Santos da semana passada, que o crucificou injustamente em escassos minutos, e cujas ondas de choque ainda não acabaram (nem os aproveitamentos tolos que dele se fizeram), voltaram a sentar-me à mesa imaginária do meticuloso António Rolo Duarte.

Bom… Acho que o meu pai não seria sinceramente feliz no tempo actual. O rigor com que praticava o jornalismo (era obsessivo com datas, idades, factos concretos), o tempo que achava essencial para confirmar um rumor ou o que poderia constituir noticia, não seriam facilmente compatíveis com esta voragem em que vivemos, e que condena na praça publica, com a maior das veleidades, qualquer erro: o humano, o propositado, o negligente, o indigente. Errar já não é humano - é sempre pretexto para apedrejamento na praça publica. Tentar perceber os factos não faz parte do processo do raciocínio - mais vale julgar de imediato. Parar para pensar deixou de ser um acto de sensatez - passou a ser um atraso de vida. É lamentável.

Nunca me esquecerei disto: o meu pai disse-me, quando tirei a carta de condução, que o pedal do travão servia para abrandar e parar, e não para travar. Ou seja, prevenia. Não era, em si, a solução - mas a possibilidade de antecipar o possível problema. Aplicado à vida, e ao jornalismo, era como dizer que o cérebro serve para cozinhar a informação, jamais para ferver sentimentos imediatos. Não me fica mal dizer que o meu pai era sábio.

E fica muito menos mal no momento em que assisto, sem forma nem jeito de reagir, ao episódio Rodrigues dos Santos, no mesmo momento em que verifico que os nosso líderes políticos - os que ganharam e os que perderam, na verdade nem sei agora quem foram uns ou outros… - dão o dito por não dito em jogos de poder onde as palavras de honra deixaram de ter honra e ficaram apenas palavras.

Volto ao meu pai: amanhã faria 85 anos e, se estivesse entre nós, talvez não quisesse andar pela net. Pacientemente, mesmo na sua silenciosa ansiedade, esperava pela verdade dos factos. E depois do café, diria o que pensava. Por causa desse seu feitio, tinha quase sempre razão. Faz falta quem a tenha, mesmo que demore mais um bocadinho.

COISAS QUE ME DEIXARAM A PENSAR ESTA SEMANA…

José Alberto de Carvalho chamou-lhe “momento pouco ortodoxo” - eu chamar-lhe-ía momento notável em que um meio, a televisão, se junta a um facto, a saída de Marcelo, para criar uma emoção sincera, verdadeira e honesta. Num tempo em que tudo se fabrica, inventa, dramatiza e interpreta, como se vivêssemos numa telenovela permanente, a despedida de Marcelo Rebelo de Sousa dos comentários dominicais da TVI fica, para já, como o momento televisivo do ano.

Na semana que vem chega a Portugal o serviço Netflix. Num mundo globalizado, já tardava esta “aterragem”, que vem trazer ao universo audiovisual uma nova abordagem: a da ficção televisiva produzida e emitida fora das clássicas cadeias, com tudo o que isso implica (e explica…). Há receios infundados e entusiasmos exagerados, como sempre sucede com o que é novo e diferente. Mas, uma vez mais, estamos a viver ao vivo passos em frente num universo de comunicação que parece diariamente mais caótico - e também por isso, fascinante.

"Quebrámos a peça mais importante dos nossos automóveis: a sua confiança”. Este é o titulo do anúncio que a Volkswagen fez publicar na imprensa portuguesa e que apela aos donos de automóveis da marca para verificarem se os seus carros fizeram parte da aldrabice - a que a marca chama “erro”… - que resultou no maior escândalo da industria automóvel das ultimas décadas. Independentemente do que se possa dizer ou pensar sobre o tema, a forma como a VW abordou, entre nós, os seus clientes, é de uma coragem e humildade que só lhe fica bem.