Aparentemente, um utilizador do Twitter fez um levantamento das cerca de 100 personalidades que o assinaram e, ao que parece, são todas brancas, 84% homens e a média de idades está nos 67 anos*. A ser verdade, é caso para dizer que estamos todos em choque com esta análise que revela o segmento social que quer proteger o patriarcado, o sexismo, o racismo e tudo o mais que continua a promover um sistema de desigualdades sociais, a bem de uma elite conservadora e reaccionária, que continua a querer que o sexo (fornicação) seja só para fins reprodutivos, entre brancos heterossexuais, e sob o olhar atento de Deus.

Aproveitando a onda, logo saltaram diversos cronistas e comentadores em sua defesa, daqueles que adoravam obrigar toda a gente a constituir uma “família tradicional”, daquelas com homem, mulher, sete filhos e três criados (escravos dava mais jeito, mas é capaz de já estar datado), a ir à missa e seguir toda a moralidade cristã sem a questionar. Isso sim, era uma sociedade, e não isto que o marxismo cultural quer instalar de as pessoas poderem ter sexo com quem quiserem, as vezes que quiserem, nas posições que quiserem (sim, até antes do casamento), de poderem querer ser só solteiras, de se identificarem com o género que bem lhes apetecer, de acreditarem que homens e mulheres têm as mesmas capacidades e direitos, tal como negros e brancos, ou cristãos e ateus, e tudo o mais que a luta pelos Direitos Humanos e equidade social prevê.

Destaco o Padre Gonçalo Portocarrero de Almada, cronista do Observador. Ainda escreve em pergaminhos usando uma pena, mas depois uma estagiária passa a limpo e mete na Internet. Diz ele que esta disciplina “é de natureza ideológica, embora sob aparência científica, e constitui um monstruoso atentado à liberdade de educação”. Não contente, compara-a com a ideologia de Adolf Eichmann, que foi meramente um general das SS e um dos principais responsáveis pelo Holocausto. Ou seja, a conversa que se tem banalizado de “a extrema-esquerda e a extrema-direita são iguais”. É logo divertido quando se chama “extrema-esquerda” à luta pelos Direitos Humanos (diz muito de que o afirma), e fica ainda mais divertido quando vemos que é propaganda que com esta comparação vai normalizando e branqueando a extrema-direita, aquela que quer realmente cercear liberdades e abolir os Direitos Humanos.

Além disso, também há outros grupos como o Associação Família Conservadora ou o movimento Deixem as Crianças em Paz que continuam a mobilizar-se contra a educação para os Direitos Humanos. Curiosamente, nas estruturas destes grupos estão também pessoas do Chega. Não é divertido perceber de onde vem, e para onde vai, toda esta retórica? Hmm… como é bom este cheirinho a Estado Novo. É só continuar assim a branquear o fascismo, que isto vai com certeza correr bem.

* Um agradecimento ao Rui Teixeira pela análise detalhada que fez a esta lista.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- Tudo Pode Mudar – Capitalismo vs. Clima: livro de Naomi Klein.

- Outside Man – Regie Yates: série documental – Netflix.