O objetivo da criação das Nações Unidas, está proclamado, é não apenas o de manter a paz e a segurança no mundo, mas também proteger as pessoas, por toda a parte e, em particular, as mais vulneráveis, os refugiados e as crianças.
A ONU foi capaz, até valente, a amparar os timorenses. Ajuda e tem ajudado as pessoas em alguns outros lugares de crise. Mas falha em muitas regiões onde, ao fracassar, contribui para propagar o desespero.
É o caso da Palestina, com efeito dominó sobre muito da vizinhança. No agravamento mais recente estamos há um ano a constatar um sistema internacional que se mostra incapaz de proteger populações vítimas. Vale recordar que a maioria dos palestinianos continua a ser apátrida e que a maior parte dos 2,3 milhões de residentes confinados em Gaza são crianças. Apesar disso, pessoas continuadamente bombardeadas. Atacadas na casa onde viviam, em abrigos, em escolas, em ambulâncias, em hospitais. Os ataques israelitas também têm no alvo socorristas com o símbolo da ONU e de várias ONG.
A guerra é tão cruel que, entre os tantos civis sobreviventes em Gaza (contas dos Médicos sem Fronteiras), há umas três mil crianças a quem foi necessário amputar alguma parte do corpo.
A comunidade internacional protesta, mas sempre relutante em ir além das palavras.
O Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) constatou há já meio ano, que há matéria plausível para abertura de processo por genocídio. Os ordenantes das matanças, no Hamas e no governo de Israel, são procurados pelo TIJ, para responderem à acusação de crimes de guerra.
O mundo continua de braços cruzados a assistir. Os EUA de Biden e Kamala até continuam, por entre apelos à trégua, a armar Netanyahu.
De facto, chegámos ao desastre de agora pela continuada falha na aplicabilidade do Direito internacional. Os palestinianos vivem há mais de meio século submetidos à imposição de ordem militar israelita – é um sistema ilegal, que inclui o apartheid que nega direitos aos palestinianos, com abusos continuados e ocupação de terras palestinianas por israelitas e brutal bloqueio de liberdade de movimentos.
Os aviões de guerra israelitas em bombardeamentos sobre Gaza não são acontecimento apenas de agora. Nunca causaram a total devastação atual, mas aconteceram em 2001, em 2009, em 2014 e em outras vezes.
Teríamos chegado à barbárie que disparou em 7 de outubro do ano passado se as resoluções da ONU desde 1948 tivessem sido aplicadas? Se, para a comunidade internacional, a vida dos palestinianos realmente contasse?
Aquele pavoroso tempo de inferno aberto pelo Hamas em 7 de outubro do ano passado em Gaza é intolerável e exige punição dos autores do crime. Como devem ser punidas as ultrapassagens de linhas vermelhas pelo poder israelita antes e depois daquele 7 de outubro.
Nakba é a palavra árabe que significa catástrofe. É aplicada para designar o êxodo palestiniano de 1948, quando mais de 700 mil palestinianos que viviam nas terras sob mandato britânico na Palestina tiveram de partir para outros lugares, empurrados pela decisão da ONU que criou naquele lugar o Estado de Israel e que também anunciava o Estado da Palestina. Foi a primeira parte de uma limpeza étnica.
Passaram 76 anos e o mundo continua dividido sobre a oportunidade de ser instalado, reconhecido e apoiado o Estado da Palestina e, em sentido contrário, há no atual poder em Israel quem deseje a limpeza étnica dos palestinianos, filhos e netos da geração da Nakba.
É uma tragédia sem fim.
Na guerra de agora, não há apenas a desgraça da devastação com perda de tantas vidas, há também a perda de mais direitos e liberdades que ainda existiam (alguns) quando o atual inferno começou.
Israel impõe a opacidade aos olhos do mundo do que tem acontecido em Gaza. Deixa-nos à mercê dos propósitos de manipulação ao barrar o livre acesso de repórteres à terra de Gaza.
Tanto os chefes do Hamas como chefes no governo de Israel estão implicados em sucessivos crimes de guerra praticados ao longo dos últimos 376 dias.
O trágico problema em volta da questão palestiniana continua por resolver e com potencial ainda mais explosivo. A derrota moral de Israel também envolve a relutante comunidade internacional. E faz perder a fé no Direito Internacional das nações, enquadrado pela ONU.
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