Quem julgava que as cidades não eram prejudicadas pela predominância de Airbnbs todos decorados da mesma forma pode meter a viola (aquela que está pendurada na parede em todos os Airbnbs) no saco. Nas zonas onde o registo de novos alojamentos locais foi proibido, o preço das casas caiu 9%. Dentro do universo de pessoas que já passaram pela experiência traumática de “procurar casa para viver em Lisboa”, ninguém fica surpreendido com a conclusão de que a proliferação descontrolada de alojamento local torna os preços do imobiliário incomportáveis. Isto é algo que já devia ter sido compreendido por qualquer presidente de Câmara que deseje ter pessoas a residir na sua cidade por mais de três noites sem pequeno-almoço (é interessante que a maior plataforma de alojamento local se chame ‘Airbnb’ - “BnB” significa bed and breakfast e eu, tendo estado em vários, nunca fui agraciado sequer com uma meia-torrada e um galão).
É certo que o alojamento local desregulado não é o único factor que inviabiliza que a classe média habite uma cidade: juntam-se a ele a insignificância de um parque habitacional público e os vistos gold que tornaram Lisboa num parque de diversões temático, género Charlie e a Fábrica de Imobiliário de Luxo. Mas o que o efeito desta medida prova é que a política pública de regulação — experimentada em diversas cidades da Europa longe de serem antros do socialismo — funciona no combate à especulação. Por outro lado, o facto de as casas do Bairro Alto terem descido ligeiramente de preço não resolve o problema de habitação a ninguém, a não ser aos que apreciem ir dormir às cinco da manhã e acordar com o doce perfume da regurgitação. A medida de restrição dos alojamentos locais, tomada pelo executivo Medina, era necessária, mas insucessos como o incumprimento da promessa das 6.000 casas de habitação acessível sabotaram a resolução do problema estrutural.
Pode, no entanto, haver uma réstia de esperança no futuro. Para quem quer transformar um T0 em Alfama num, mini-hotel, claro. O actual edil, Carlos Moedas, lamentou que a maioria de esquerda tenha suspendido os novos alojamentos locais em determinados bairros, alegando que é colocada em causa “a liberdade de empreender”. Numa cidade em que o salário médio não chega para arrendar uma casa digna, faz todo o sentido que o direito inalienável ao empreendedorismo apareça como eminente preocupação. Falamos do presidente que está aparentemente convicto de que os problemas de mobilidade da capital se resolverão com a remoção de uma ciclovia — ou seja, de alguém que está claramente com jet lag de prioridades. Mas lá está, não será surpreendente que daqui a uns tempos venhamos a perceber que, afinal, a carreira na política nacional de Carlos Moedas não passava de turismo.
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