É assim que começa o livro de Primo Levi Se Isto é um Homem. Não nos podemos esquecer do Holocausto, não nos podemos esquecer do que a polarização (palavra tão na merda que até irrita) provocou, entre os que são superiores e os que os superiores consideram inferiores. Não podemos esquecer o que se fez a homens, mulheres, crianças, ao povo judeu, mas também a homossexuais, porque o regime do Reich também não via com bons olhos a comunidade gay.
Esta semana, na Alemanha, cem mil pessoas reuniram-se para dizer isto mesmo: não esquecemos. Os partidos de extrema-direita, que consideram ser já tempo de deixar o Holocausto na História, são os mesmos a querer que sejamos obedientes. O que se pretende é a normalização dessa coisa perigosa – a de não pensar.
Temos de pensar e de rever as matérias que nos são servidas como verdades. Estamos numa época em que tudo pode ser verdade ou mentira, outra polarização.
Por este motivo, o jornalismo assume um papel essencial. Deveria ser obrigatório estudar o Holocausto, visitar um campo de concentração, se possível. Promove pensamento e empatia. Levará a discussões outras e ainda bem. As discussões são bem-vindas, é a única forma de evoluirmos.
Não podemos é agir passivamente, ser acríticos, passar na vida apenas com as informações que consideramos válidas, por aparecerem no feed das nossas redes sociais. Quantas pessoas pensam nessa manipulação que é o feed? Quantas pessoas pensam na inteligência do algoritmo? As redes moldam-nos, condicionam-nos e enchem-nos com informação que vem confirmar as nossas ideias e tendências. O algoritmo tem esse viés e julgamos que temos vários aspectos da verdade e só estamos a consumir um.
Também por isso, o jornalismo deve prevalecer como fonte de informação. Hoje discutia-se, nas redes, o relatório do PSP sobre crimes em Portugal. Como é um discurso que vem desmentir a realidade que alguns têm fabricado, há quem escreva comentários de ódio à polícia.
O diretor da Polícia Judiciária já tinha dito: a criminalidade desceu. Mas dará isso jeito a quem advoga que devemos viver no medo? Se voltarmos ao poema do livro de Primo Levi, os homens comuns podem ser os tais que obedecem sem discutir? Seremos nós?
Comentários