Este texto faz parte da rubrica Regresso a um Mundo Novo, em parceria com a plataforma 100 Oportunidades, em que vários jovens nos ajudam a pensar o mundo pós-pandemia.


Nunca me apercebi do quanto amava o mar até ter de ficar longe dele por mais de um mês, confinada no meu pequeno apartamento no centro de Lisboa.

Mas em breve poderei voltar a isso.

Dizem que passar pelo menos 120 minutos por semana perto da natureza está associado a uma boa saúde e a bem-estar psicológico; digamos que no último mês não cheguei - nem perto - às minhas duas horas semanais de terapia.

Mas em breve poderei voltar a isso.

Sim.

Em breve, poderemos regressar a todas as coisas que amamos, à nossa vida normal ... mas deveremos voltar à nossa velha maneira de fazer as coisas?

Dentro de pouco tempo teremos a incrível oportunidade de moldar um novo mundo, criar novos hábitos, adotar uma nova maneira de viver. Este é o nosso momento de acertar as coisas. É hora de viver mais devagar, apreciar o que temos e reduzir o nosso impacto individual no planeta. Não podemos voltar ao velho panorama. Acredito que durante a quarentena aprendemos muitas coisas que podemos levar connosco para a "vida pós-confinamento" e para tornar este mundo um pouco melhor.

No meu mundo ideal pós-confinamento, aproveitaremos o bom sistema de transportes públicos que possuímos e limitaremos o uso do carro de uma vez por todas. Durante o último mês, foi incrível abrir a janela, respirar ar fresco e ouvir pássaros em vez de carros barulhentos.

Compraremos localmente, em vez de comprar online e de fora de Portugal; apoiar as pequenas empresas ao nosso redor será fundamental para a comunidade.

Reconheceremos o nosso privilégio e seremos gratos pelos muitos serviços de lazer aos quais temos acesso: bibliotecas, ginásios, shoppings e restaurantes fechados colocaram as coisas em perspetiva - podemos sobreviver sem eles.

Não nos vamos passar da cabeça quando o papel higiénico voltar às prateleiras dos supermercados porque nos tornámos um pouco mais racionais.

Reduziremos alimentos embalados e alimentos pré-cozinhados; tivemos tempo de nos transformar em master chefs e aprender a cozer o pão, usar todo o tipo de legumes e experimentar novas receitas.

Seremos o nosso próprio IKEA, reaproveitaremos e arranjaremos o que já temos, em vez de comprar coisas novas e usar recursos naturais desnecessários; tivemos tempo de sobra para trabalhar nos projetos parados da casa e que precisavam de alguma atenção, agora somos basicamente carpinteiros certificados. Aprendemos a costurar e, a partir de agora, conseremos os buracos das nossas meias, arranjaremos as nossas camisolas e não correremos para comprar roupa barata e de baixa qualidade assim que as lojas de fast fashion abram novamente.

Tivemos tempo para aprender novas competências. Tivemos tempo para começar a mudar.

O confinamento não tem sido fácil; alguns de nós sofreram mais, outros menos. Voltar para algumas das nossas liberdades certamente que soará muito bem para todos... mas “voltar”, embora seja o termo correto, deverá ser substituído por “avançar”.

O nosso planeta deu-nos uma última oportunidade de fazer as coisas certas, criar um novo mundo, novos hábitos e ter um estilo de vida melhor e mais consciente.

Tomamos decisões todos os dias: compramos, consumimos, descartamos. Este é o nosso momento de o fazer com consciência; de fazer o que é certo: comprar menos e de melhor qualidade; consumir apenas aquilo de que precisamos; valorizar o que temos; descartar o mínimo.

Não nos limitemos a voltar ao mundo velho: avancemos para um mundo novo.

*Anna Masiello escreve segundo o novo acordo ortográfico