Ainda não saiu o relatório de violência doméstica de 2018 da APAV, mas no de 2017 vêm reportados 5.036 casos de mulheres vítimas de violência doméstica. Portanto, 14 por dia. Mas não é assim tão grave. De todos esses, 85% foram arquivados sem quaisquer consequências para os agressores, até porque não é assim tão grave.

Se há juízes que atenuam penas a agressores porque as agredidas cometeram adultério, é com certeza também porque a violência doméstica não é assim tão grave. Aliás, o machismo e a misoginia subjacentes a esta violência não são assim tão graves. Haver juízes que não dão importância à violação de uma mulher desmaiada na casa-de-banho de uma discoteca porque foi sedução mútua não é assim tão grave. Haver tantos casos de assédio sexual no trabalho não é assim tão grave, é normal, a natureza dos homens é mesmo assim e as mulheres têm de aguentar. Também não é assim tão grave que haja tantos casos de homens a apalpar mulheres nos transportes públicos ou mesmo a masturbarem-se para elas. A sério. Não pode ser assim tão grave. Não é grave quando tanta gente comenta a violação de uma rapariga de 18 anos com “ela foi para o quarto deles, estava à espera de quê?”. Aliás, até o ícone D. Dolores disse sobre a alegada violação do Ronaldo à Mayorga: “Ela estava à espera de quê? Jogar às cartas?”. Portanto, a violação ou a violência doméstica não são assim tão graves. Grave é haver cada vez mais gente feminista. O histerismo pela igualdade de género está a dar cabo da sociedade. Se o homem sempre foi superior, mais forte, mais capaz, se a mulher sempre foi mais fraca, mais submissa, e incompetente, não é assim tão grave que sofra as consequências físicas de séculos e séculos de sociedade machista. É normal. É hábito. É tradição.

E nota-se bem que não é assim tão grave. Há mais alarido quando roubam um penalty a um dos grandes. Faz-se mais barulho quando o Presidente liga para a Cristina Ferreira em directo. Por falar nisso, será que ele vai ligar para as dezenas de milhares de vítimas de violência doméstica dos últimos anos, ou isso não lhe dá tanto estilo? Talvez não dê, afinal de contas, nada disto é assim tão grave.

É impossível ser, sendo que além de não se fazer grande coisa em concreto para alterar a situação, a maior parte do país não percebe que as mortes por violência doméstica começam no machismo mais corriqueiro ao qual não se dá importância, antes de escalar até à morte das mulheres.

Fora só nove em sete semanas. Também não é assim tão grave.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- Lugar Estranho: Obrigado a todos os que estiveram em Palmela e Lisboa. Foi incrível! Agora segue-se Coimbra (14), Viseu (15), Aveiro (16), Braga (28) e Porto (1)

- Brexit: O filme. Óptimo.