O que sei é que a abstenção tende a ser elevada - veja-se nos Açores, embora melhor do que em actos eleitorais anteriores, quase a roçar os 50 por cento de indiferentes - e a dez de março não teremos qualquer surpresa: muitas pessoas viverão esse domingo com outras prioridades, esquecendo-se que se não tomarmos parte do processo democrático há sempre quem vá conquistando lugar até que, porventura com imensos avisos prévios, votar se torne apenas uma memória. Não estou a ser fatalista, apenas realista. 

A questão dos debates televisivos com os candidatos deveria obrigar-nos a uma reflexão sobre o modelo dos mesmos, sobre a vontade da população de ver farpas a voarem de cá para lá, tantas vezes sem qualquer referência às suas preocupações mais concretas e, outras tantas, esquecendo o contexto o que faz com que o senhor do café diga com muita calma: Eles falam uns para os outros. E, na verdade, é o cenário do costume que em resumo se pode descrever assim: O senhor fez, o senhor não fez, acusações e medição de forças, sempre à beira do insulto é mais um exercício de politiquice e de ego do que política na sua acepção mais nobre. 

Eu ainda não vi uma referência a políticas culturais, a políticas de incentivo à cultura, remodelação do modelo de ensino e, como estes temas, outros tantos. O que vejo, nas pessoas que não estão na televisão e na política, é só desalento e descrédito. Acho triste, mas normal. 

Talvez tenha chegado a altura de entendermos se os modelos praticados pelas televisões são eficazes. Talvez se optarem por fazer debates com público representativo tudo fosse diferente. Dirão, ah, à americana. Nada disso, envolvendo a sociedade civil, obrigando a outro desenvolvimento e explicação, fazendo com que os políticos sejam confrontados com as pessoas ditas “normais” e não com meia dúzia de jornalistas. Para variar um bocadinho e não estarem a falar uns para os outros numa repetição que cansa e não augura nada de bom. Digo eu.