No domingo temos eleições. Há quem se recorde dos anos duros de regime e que celebre a liberdade com esse gesto de cidadania democrática que é ir votar. Pessoas que votam com a alegria de entenderem que o podem fazer e que ainda existem povos pelo mundo que não têm esse direito. Depois, existem as outras pessoas, as pessoas da queixa e das convicções muito aguerridas à mesa de jantar com os amigos, mas que não se dão ao trabalho de ir votar. Ou dos mais jovens que não percebem nada disto e que não dão qualquer credibilidade ao sistema político mesmo que não possam fazer as suas vidas sem o mesmo sistema político.
Há muitos anos que defendo que a aprendizagem sobre as ferramentas da democracia, sobre o exercício do poder legislativo, autárquico ou europeu deveria ser alvo de constante exposição e explicação nas escolas. A partir do secundário, em preparação para a vida adulto, os miúdos deveriam aprender para que serve o quê, que direitos têm, que deveres devem assumir. Não o fazemos, nem em formação cívica ou para a cidadania, disciplina que vai mudando de nome conforme os governos e cujo objectivo me parece um pouco lato. Porventura irão rir com a minha "escola de política" e dirão que haverá sempre influência da da ideologia do professor ou da professora. Depende da formulação do programa, defendo o esclarecimento sobre os serviços públicos, não a exposição filosófica e histórica do partido A ou do partido B.
Se este espaço de aprendizagem existisse, não teríamos níveis de abstenção como temos tido. Nas eleições europeias é, aliás, um clássico o nível de abstenção, como se a Europa fosse uma ideia vaga e sem importância, desconhecedores do poder que exerce sobre as nossas vidas todos os dias. Ora, a Europa está longe de ser um espaço idílico e consolador, apresenta sinais muito preocupantes com a extrema direita a tomar terreno. Não é possível assistir na bancada, assobiando para o lado. Fazemos parte da Europa, já em tempos vivemos numa ditadura, não a queremos repetida aqui ou seja em que país for. Importa lutar pelos valores democráticos e humanistas. Importa querer entender com que regras se faz a política e quais são os programas partidários com os quais nos identificamos. Os debates televisivos sobre as eleições europeias não têm grande audiência, as campanhas de rua são mais do mesmo e com pouca adesão. E, no domingo, não comparecer, com os esclarecimentos devidos, à mesa de voto é dizer que tudo nos é indiferente e vamos pagar cara a indiferença. Pode não ser para a semana, mas, mais tarde ou mais cedo, o preço vai fazer-se sentir e terá influência nas nossas vidas. Para o exercício eficaz da política seria de esperar que a sociedade estivesse interessada, desenvolvesse reflexão e pensamento. Parece que pouco importa e é realmente grave. Por isso, domingo, faça por estar esclarecido, faça a sua escolha e vote. Por si, pelos seus filhos, pelos seus netos.
E não me diga que é uma trabalheira e que o sistema mudou. Siga as instruções: "O modo de votação é diferente este ano: foi abolido o número de eleitor e agora é por ordem alfabética. O local de voto pode não ser o mesmo, e a secção também não será a mesma. No próprio dia deve ser difícil consultar as listas à procura do nome. Para cada um saber onde votar "basta enviar um SMS para 3838 com a mensagem RE (espaço) número do CC ou BI (espaço) data de nascimento (ano, mês e dia, tudo junto. Ex 19710827). A resposta é imediata." Simples, não é? Chama-se democracia e implica a nossa participação.
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