Eu andava irritada com as trotinetes em Lisboa. O abandono. O desleixo. Vi, há um mês e pouco, um desses veículos atirado ao rio, ali junto ao Parque das Nações. Irrita-me a falta de civismo, irrita-me não existir um método de devolução pensado com pés e cabeça, embora entenda as limitações da bateria, do uso, do tempo. Ok, a trotinete deixa de funcionar, abandona-se? Pois, pelos vistos é assim. É evidente que as podemos deixar estacionadas, em vez de as largar no chão a meio de um passeio; em vez de as deitarmos ao rio, mas o civismo deixa muito desejar, não é?

Em Paris, o uso de trotinetes é significativamente superior e com outros requintes. Não vi trotinetes caídas pelas ruas, mas vi utilizadores duplos, um encavalitado no outro, numa velocidade estonteante a subir ou descer o Boulevard Saint Germain. Não, não era no passeio, era numa cumplicidade extrema com os carros, autocarros e motos que por ali abundam.

Trotinetes com duas pessoas no meio do trânsito a uma velocidade perigosa? Sim, no meio do trânsito e sem utilização de capacete apesar de ser obrigatório por lei e sujeito a coima (no caso português pode ir até aos 300 euros). Nada de pisca, nada de nada que possa garantir que a utilização da trotinete possa ser feita com segurança.

A luz que sinaliza o travão é mínima e a visibilidade de um automobilista face ao utilizador da trotinete e das suas intenções é, digamos, ao nível empírico. Vai-se sentindo para onde vai a pessoa ali com os dois pezinhos alinhados para não cair. Um caos, portanto e demasiado perigoso para pessoas com dois dedos de cabeça.

Compreendo que seja um meio de locomoção jeitoso, divertido. O mesmo sucede com as bicicletas. Acresce que são, do ponto de vista ecológico, melhores e altamente recomendáveis. O drama reside nos utilizadores, na forma irresponsável como desfrutam desta possibilidade, os perigos que correm e fazem correr. Porque não estamos a salvo de ser “abalroados” por uma trotinete e podemos, num sobressalto, provocar acidentes, causar feridos ou algo mais grave.

O que dizer a um condutor que atropela alguém numa trotinete que está sem capacete, no meio da estrada como se fosse um veículo normalizado? Não basta dizer: “ah, culpa não foi tua, a rapariga da trotinete é que não deveria estar aqui”. A culpa, essa coisa muito judaico-cristã, tem caminhos tortuosos. Eu não quero atropelar ninguém e ficar com esse peso na consciência. E você, quer?