Como Rúben Dias não sobreviveu a Salónica e o Benfica ao seu passado

Tomás Albino Gomes
Tomás Albino Gomes

Quando, no sábado, o SL Benfica entrou em campo, no estádio da Luz, para defrontar o Moreirense, em jogo a contar para a Liga NOS, e Rúben Dias foi visto com a braçadeira de capitão, era fácil de se prever o que aí vinha. Há 24 horas que se falava que o internacional português poderia estar a caminho do Manchester City, de Pep Guardiola, e a designação do central como líder naquele fim de tarde, soava a prenda de despedida.

Rúben, que desde os seus 11 anos não conhece outra realidade que a de jogar com uma águia sobre o lado esquerdo do peito, retribuiu o gesto do treinador com um golo, o primeiro na partida, e bateu com a mão no peito como os atletas olímpicos, longe de casa, gritam pela sua pátria. Abraçou Rui Costa, emocionou-se e na zona de entrevistas rápidas disse: “foi um jogo especial e todos sabem porquê”.

Na conferência de imprensa, Jorge Jesus assumiu os “quês”. "Tenho quase a certeza de que foi o último jogo que ele fez no Benfica. No futebol tudo muda no último segundo, mas aqui acho que não. Temos pena de o ver partir, um jogador formado no Seixal, mas também tenho culpa de ele sair, devido à eliminação da Champions", assumiu o técnico.

No domingo, a SAD encarnada confirmou o cenário. Rúben Dias foi vendido ao Manchester City por 68 milhões de euros, mais 3,6 milhões por objetivos relacionados com a"performance desportiva" do clube inglês. Em sentido contrário, para o lugar vago no eixo da defesa das águias, chega Otamendi, internacional argentino e antigo jogador do FC Porto, por um custo de 15 milhões de euros.

Esta é uma das linhas da história. A outra, mais analítica, é a de um clube cujo presidente diz ambicionar a Europa tendo, por isso, apostado na contratação de Jorge Jesus, que treinava o Flamengo, no Brasil, vencedor em título da Taça Libertadores e do Brasileirão, e num avultado investimento na equipa: 80 milhões, sem Otamendi, 95 com o argentino.

Para conseguir devolver o Benfica ao seu estatuto europeu no futebol, a SAD foi buscar nomes como Everton Cebolinha (20 ME), Darwin Nuñez (25 ME), Pedrinho (18 ME), Luca Waldschmidt (15 ME), Gilberto (3 ME) e Jan Vertonghen, a custo zero após ter terminado contrato com o Tottenham de José Mourinho.

Os valores de promessas, talentos seguros e jogadores experientes somar-se-iam à base da equipa das águias, assente no plantel dos últimos anos e na formação. No entanto, a inesperada e prematura eliminação do Benfica nas fases de qualificação para a Liga dos Campeões, privaram os cofres da Luz de quase 40 milhões de euros, que seriam garantidos apenas pela participação na fase de grupos da competição.

A queda em Salónica, que ao dia de hoje ainda contrasta com duas grandes exibições na equipa de Jesus nas duas primeiras jornadas do campeonato (1-5 em Famalicão e 2-0 frente ao Moreirense), levou à queda do clube para a Liga Europa. A diferença de prémios monetários é tão discrepante entre as duas competições da UEFA que basta dizer que mesmo que o Benfica vença a Liga Europa (cuja participação ainda está dependente de um play off), somando apenas vitórias, receberá qualquer coisa como 27 milhões de euros, um valor bastante inferior aquele que o clube poderia ter garantido apenas com a entrada na fase de grupos da 'Champions'.

Assim, alimentar o projeto milionário - para a dimensão portuguesa - tornou-se impossível e equilibrar as contas necessário, sobretudo, tendo em conta que o Benfica, até ao momento, não soma uma única venda. Zoblin saiu para o Famalicão por empréstimo, Florentino Luís foi cedido ao AS Mónaco, Zivkovik desvinculou-se do clube e foi, a custo zero, para o PAOK.

O discurso rígido e assertivo caiu e o projeto do Benfica passou a deixar de ser uma mistura do made in Seixal, dos tempos de Rui Vitória e Bruno Lage, e do projeto europeu de Jesus.

Mesmo que tenha sido só por um jogador, o Benfica europeu falhou o primeiro teste à expansão do seu futebol, e voltou a ser o clube vendedor que queria deixar de ser. O trampolim da formação para os grandes da Europa como foi com Bernardo Silva ou João Félix, o trampolim da América do Sul como foi com Di Maria ou Ederson.

Mesmo que tenha sido só por um jogador, não foi um jogador qualquer. Rúben Dias era o jogador em que os adeptos viam Luisão, alimentavam a ilusão de uma eternidade de águia ao peito, um daqueles jogadores que “já não se fazem” como se dizem em conversas de sofá, pouco elegantes, mas eficazes, com força, sem medo e com muito amor ao clube. Um central que jogou 137 jogos pelo Benfica, fez 12 golos e venceu um campeonato. Titular na seleção nacional ao lado de Pepe, vencedor da Liga das Nações.

Agora, os benfiquistas vêm o principal símbolo da sua academia ‘trocado’ por Otamendi que, por muito bom futebol que tenha é também símbolo de uma era em que o FC Porto asfixiou o Benfica de Jorge Jesus.

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