Marcelo 2.0: menos pompa e outras circunstâncias

Tomás Albino Gomes
Tomás Albino Gomes

A nova era de Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente da República começou oficialmente esta terça-feira numa cerimónia com menos pompa, menos deputados e convidados, de máscara e afastados uns dos outros. Um cenário inimaginável quando há cinco anos o antigo líder do PSD assumiu o mais alto cargo da nação.

As normas sanitárias, impostas pelo combate à pandemia provocada pelo novo coronavírus, obrigaram este ano a grandes mudanças na posse daquele que ficou conhecido como o Presidente “dos afetos”. Por exemplo, se há cinco anos Marcelo esteve mais de 45 minutos a receber cumprimentos, no salão nobre da Assembleia da República, entre abraços e abracinhos, hoje tudo se resumiu a uns acenos de cabeça, durante cerca de 20 minutos (e onde faltou Cavaco Silva, facto que a comunicação social não deixou escapar e a que o ex-Presidente da República respondeu dizendo que "teve de regressar a casa")

A cerimónia minimalista ainda manteve a tradição do hino tocado nos Passos Perdidos pela banda da GNR, mas viu ser reduzido de 500 para cerca de 20 o número de convidados relativamente à cerimónia de 2016. Dos 230 deputados, só 50 assistiram à sessão solene. Nas galerias abertas normalmente ao público estiveram esses 22 convidados, seguindo a lista do Protocolo do Estado, Procuradora, Provedora, chefes militares, o Núncio Apostólico, sozinho numa das galerias, os ex-Presidentes Ramalho Eanes e Cavaco Silva, e ainda três dos adversários de Marcelo nas eleições, Ana Gomes, Tiago Mayan Gonçalves e Vitorino Silva.

O que não mudou comparando com 2016 foi a chegada de Marcelo ao parlamento. Chegou a pé, mas, desta vez, não veio sozinho. Desceu a Calçada da Estrela, da antiga casa dos pais, acompanhado por jornalistas, que fizeram emissões em direto, nas TV e nas rádios.

“É espantoso, quando se chega ao fim do mandato, parece que foi muito mais curto do aquilo que foi. Quando se vai começar um mandato, parece que foi muito mais longo do que o que provavelmente será. Mas os segundos mandatos são sempre mais difíceis que os primeiros”, disse Marcelo aos jornalistas que o acompanharam.

A título de curiosidade, fica a saber-se, pela ata da assembleia de apuramento, que o eleito foi “o cidadão Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa”, mas que quem tomou posse foi “Professor Doutor Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa”, segundo o auto de posse.

Se a pandemia impediu que a pompa fosse a mesma de há cinco anos, a circunstância, que acompanha a pompa no conhecido ditado popular, também não foi a mesma, nem podia ser. Apesar de Marcelo garantir ser “o mesmo de há cinco anos”, “o mesmo de ontem, nos mesmos exatos termos eleito e reeleito para ser Presidente”, as circunstâncias do país são muito diferentes das de há cinco anos, o que ficou bem patente nas cinco missões para o segundo mandato que o próprio enunciou: melhor democracia, combate à covid-19, recuperação económica, coesão social e protagonismo internacional do país.

Se no que diz respeito ao combate à pandemia, a circunstância ficou marcada há vários meses, com Marcelo a afirmar que essa era o principal motivo da sua recandidatura, o crescimento da direita radical e a possibilidade de uma instabilidade governativa em Portugal mereceram linhas do discurso do Presidente: "Queremos uma democracia que seja ética republicana na limitação dos mandatos, convergência no regime e alternativa clara na governação, estabilidade sem pântano, justiça com segurança, renovação que evite rutura, antecipação que impeça decadência, proximidade que impossibilite deslumbramento, arrogância, abuso do poder".

Se nem a pompa, nem a circunstância foram as mesmas de 2016, Marcelo mostrou a mesma determinação de continuar a ser uma garante da estabilidade e da democracia no país. Afinal, foi o próprio que o disse na noite de 24 de janeiro, quando soube que seria Presidente da República por mais cinco anos: "Tenho a exata consciência de que a confiança agora renovada é tudo menos um cheque em branco", afirmou, prometendo "continuar a ser um Presidente de todos e de cada um dos portugueses, um Presidente próximo, um Presidente que estabilize, um Presidente que una, que não seja de uns, os bons, contra os outros, os maus, que não seja um Presidente de fação, um Presidente que respeite o pluralismo e a diferença, um Presidente que nunca desista da justiça social".

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